Melhores salários, transportes e alojamento pago. Esta é a promessa que a Rússia deixa aos professores que aceitem deslocar-se para as zonas ocupadas pelas forças russas na Ucrânia e preparar o novo ano letivo.

Nas últimas semanas, Moscovo esteve a recrutar docentes para vários destinos, incluindo as regiões separatistas de Lugansk, Donetsk, Zaporíjia e Kherson. Segundo o The Washington Post, a estratégia está a resultar e já conta com cerca de 250 inscrições.

“Pensei: porque não?”, explicou ao jornal norte-americano Georgy Grigoriyev, da cidade russa de Izhevsk. O professor de língua e literatura russa não tem receio do perigo ao ir para um país em guerra e já está a planear ficar durante pelo menos um ano. Quanto ao que vem depois? Ficar, talvez, comprar um apartamento, afinal, “não tem nada a perder”.

Sou divorciado, os meus filhos já são crescidos, por isso posso muito bem trabalhar lá, especialmente com um salário tão bom”, afirmou.

Um outro professor, da região de Astrakhan também se decidiu inscrever porque a situação nessas regiões é “difícil” e acredita poder ser “útil” lá. No entanto, nem todos pensam da mesma maneira. Um professor entrevistado pelo The Washington Post – que preferiu manter-se anónimo por medo de represálias – considerou brevemente a hipótese. Porém mudou de ideias, afirmando que “nada de bom” iria resultar destas viagens.

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O recrutamento de professores é apenas uma das medidas tomadas pela Rússia no caminho para a consolidação do poder nas regiões que estão sob controlo das suas forças.

Moscovo já tinha estabelecido escritórios de registo civil em Kherson e Melitopol, onde os ucranianos podem registar os recém-nascidos “de acordo com a lei russa”. Também há algumas semanas, o Presidente russo assinou um decreto que torna mais simples a todos os cidadãos ucranianos o processo de naturalização e obtenção da cidadania russa simplificado.

Desde 2019 vigorava uma lei semelhante, mas só se aplicava aos cidadãos das auto-proclamadas repúblicas populares de Donetsk e de Lugansk. Entretanto, este ano começou por ser alargada aos ucranianos naturais dos territórios temporariamente ocupados de Kherson e Zaporíjia e foi agora estendida a todos os cidadãos ucranianos.

Nas regiões ocupadas também vão avançar referendos sobre uma possível adesão dos territórios à Rússia. O chefe da administração da região de Zaporíjia, Evgeny Balitsky, já anunciou que está prevista a realização de um referendo no outono, que marca um passo na aproximação a Moscovo.