Apenas três em cada dez docentes dizem ter todos os recursos nas escolas para pôr em prática os planos de recuperação das aprendizagens perdidas durante a pandemia, segundo um inquérito realizado pela Federação Nacional de Educação (FNE).

O secretário-geral da FNE revelou esta sexta-feira que 78,9% dos 2.668 docentes que responderam à consulta nacional realizada este mês “confirmou que a escola estabeleceu planos de recuperação, mas apenas 30,5% respondeu que as escolas tiveram acesso a todos os recursos que precisavam para a concretização desses planos”.

Os docentes dividem-se assim em três grupos: Os que dizem que faltaram recursos (36,2%), os que desconhecem se havia meios suficientes (33,2%) e, finalmente, os que consideram que tinham ao seu dispor “todos os recursos de que precisavam“.

A pandemia de Covid-19 obrigou ao encerramento das escolas e substituição temporária de aulas presenciais para online, agravando o fosso entre alunos mais carenciados e privilegiados.

A decisão de avançar para o ensino à distância em março de 2020, altura em que milhares de alunos não tinham computadores nem ligação à Internet e a grande maioria dos professores não tinha formação para dar aulas “online”, provocou um atraso nas aprendizagens que o Ministério da Educação tentou colmatar com um plano de recuperação das aprendizagens.

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No entanto, os docentes queixam-se que continuam a faltar meios nas escolas para pôr os planos e projetos em prática.

A “insuficiência de recursos disponibilizados” acabou por afetar o trabalho das escolas, segundo a visão dos docentes que responderam à consulta nacional realizada pela FNE.

“A sensação que as pessoas têm é a de que existindo planos, projetos e atividades o que acontece e que não têm acessos a recursos indispensáveis para que possam trabalhar com os alunos. Além disso, são assoberbados com uma carga de administrativa e burocrática que é considerada, pela esmagadora maioria, como particularmente inútil”, explicou, baseando-se nas respostas de 2.668 professores.

Mais de 80% dos inquiridos consideram que as tarefas burocráticas realizadas nas escolas são geralmente inúteis e por isso pedem que no próximo ano letivo haja uma redução das tarefas burocráticas.

Muitos docentes também se queixaram da formação na área do digital. Apesar de todos terem tido acesso a computadores, “estes asseguram que não tiveram acesso à formação de capacitação“, com um em cada quatro docentes a queixar-se de a oferta não corresponder às suas expectativas, acabando por se inscrever em formações alternativas que tiveram de pagar, contou João Dias da Silva.

O balanço feito pela FNE ao ano letivo que agora terminou é negativo, acusando o ministério de “não ter feito nada” que permitisse corrigir os problemas na área da educação.

“Por isso vamos começar o próximo ano letivo com os mesmos erros”, lamentou João Dias da Silva, defendendo que é essencial garantir a melhoria das condições de trabalho, das carreiras e dos salários, “três dimensões essenciais que estarão na primeira linha das preocupações” da FNE.

Representantes da FNE vão reunir-se no início de agosto com representantes do Ministério da Educação, numa reunião em que João Dias da Silva espera discutir estas matérias.

Para João Dias da Silva, o ano termina com “instabilidade e precariedade” entre os docentes e com a ameaça de no próximo ano os alunos voltarem a não ter todos os professores atribuídos.

“São necessárias medidas que promovam a estabilidade, nomeadamente a realização de um concurso que leve ao preenchimento das vagas que venham a ser criadas em todas as escolas para que todas as escolas tenham um quadro estável de docentes sem necessidade de recurso sistemático a contratação e a precariedade”, defendeu João Dias da Silva.