Em abril de 2001, há mais de 20 anos, Sarina Wiegman tornou-se a primeira holandesa a representar a seleção do país em 100 ocasiões. Não a primeira jogadora — a primeira holandesa. Ou seja, até Sarina, ninguém, homem ou mulher, tinha representado 100 vezes a seleção de futebol dos Países Baixos. Dois dias depois do jogo histórico contra a Dinamarca, foi homenageada e recebeu uma placa comemorativa das mãos de Louis van Gaal, o então selecionador da equipa masculina. “Tenho muito respeito pela Sarina. Para os homens, está tudo organizado. Isto é muito mais difícil”, disse o treinador na altura. 20 anos depois, Sarina continua a alcançar o que ainda não tinha sido feito.
Campeã europeia pelos Países Baixos em 2017 e vice-campeã mundial em 2019, foi contratada pela Federação inglesa em 2020 para fazer o óbvio mas o mais difícil: conquistar títulos. Este domingo, depois de uma campanha extraordinária em que Inglaterra marcou 20 golos e sofreu apenas um até à final, Sarina Wiegman levou as inglesas até à conquista de um Europeu organizado em casa. Em Wembley, Inglaterra derrotou a histórica Alemanha — oito vezes campeã europeia, sem nunca ter perdido uma final — no prolongamento e levantou o troféu pela primeira vez.
Internacional holandesa dos 16 aos 32 anos, ou seja, de 1987 a 2001, Sarina fez toda a carreira profissional no Ter Leede, até terminar a carreira em 2003 e depois de ficar grávida do segundo filho. O ano mais importante da carreira, porém, foi logo no início: na China, no final dos anos 80, conheceu Anson Dorrance, o então selecionador norte-americano, que a convidou para estudar na Universidade da Carolina do Norte e explorar o programa de futebol feminino da escola. Aceitou, integrou a equipa da universidade e jogou ao lado de nomes como Mia Hamm ou Kristine Lilly, que acabaram por ser dos elementos mais importantes da modalidade nos anos 90.
Em 2006, três anos depois de deixar os relvados, foi convidada para assumir o comando do Ter Leede, onde tinha jogado. Conquistou um campeonato holandês e uma Taça dos Países Baixos e saiu no ano seguinte, para o Den Haag, onde foi novamente campeã nacional em 2012. Em agosto de 2014, foi convidada para integrar a equipa técnica da seleção holandesa como treinadora adjunta e anunciou desde logo que iria tirar o curso necessário para obter a licença da UEFA — tornando-se apenas a terceira holandesa a fazê-lo, na altura.
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Chegou a ser treinadora interina, entre o despedimento de Roger Reijners e a chegada de Arjen van der Laan, mas só em janeiro de 2017 é que assumiu o cargo de forma permanente. Nessa altura, já tinha estagiado no Sparta Roterdão, acabando por referir que tinha o objetivo de levar o profissionalismo e a exigência do futebol masculino para a vertente feminina. Seis meses depois de passar a liderar a equipa e no torneio organizado em casa, a selecionadora levou os Países Baixos à conquista do Campeonato da Europa ao ganhar todos os jogos da competição. Foi a primeira vitória internacional da seleção feminina e apenas a segunda do futebol holandês, depois de Rinus Michels ter levado Van Basten, Gullit e companhia à conquista do Euro 88.
No verão de 2019, os Países Baixos voltaram a ser um dos destaques de uma grande competição — com nomes como Martens, Miedema e Van de Donk — e chegaram à final do Mundial de França, perdendo apenas com os Estados Unidos no jogo decisivo. Apesar da derrota, a Federação holandesa anunciou que uma representação de Sarina Wiegman seria colocada no jardim das estátuas da sede da organização, tornando-se a selecionadora a primeira mulher a receber esta distinção.
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Assim, depois de décadas a escrever a tinta permanente o próprio nome na história do futebol feminino, Sarina Wiegman levou Inglaterra ao topo da modalidade e é a líder absoluta e incontestada de uma equipa onde Beth Mead, com seis golos e cinco assistências, foi considerada a melhor jogadora do Europeu.