É uma espécie de “Watergate” grego, nas palavras do ex-primeiro-ministro do país Alexis Tsipras. E está a pôr o atual primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, em xeque. Os serviços de inteligência da Grécia, que reportam diretamente ao gabinete de Mitsotakis, colocaram escutas no telemóvel do opositor e líder do segundo maior partido da oposição (Pasok), o socialista Nikos Androulakis.

O caso está a motivar pedidos de demissão no Governo da Grécia e já levou ao afastamento do diretor do Serviço de Informação Nacional, Panagiotis Kontoleon, por “práticas incorretas durante um processo legal de escuta”, segundo um comunicado do gabinete do primeiro-ministro, assim como do secretário-geral do chefe do governo, que é também sobrinho de Kyriakos Mitsotakis.

Nunca pensei que o governo grego me espiasse usando as práticas mais obscuras”, afirmou Androulakis, líder do Pasok e deputado do Parlamento Europeu, numa declaração na sexta-feira. “Hoje é um momento de verdade para aqueles cuja arrogância e sentido de impunidade os tornam capazes de tudo”, acrescentou.

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Segundo conta o The Guardian, inicialmente, representantes do governo negaram que as alegações de espionagem estivessem na origem das demissões, mas outras fontes acabaram por assumir que o telemóvel de Nikos Androulakis foi efetivamente alvo de escutas a pedido de serviços de inteligência estrangeiros — e com a autorização de um procurador. As mesmas fontes asseguraram então que o primeiro-ministro não tinha conhecimento e se soubesse “tê-lo-ia impedido”.

Foi isso mesmo que Kyriakos Mitsotakis, que lidera o partido conservador Nova Democracia, veio dizer em entrevista, este domingo. O chefe do governo grego pediu desculpas ao opositor pelo “erro” que apelidou como “grave” e “imperdoável”. Segundo investigações dos meios de comunicação gregos, citados pelo jornal britânico, os tais serviços de espionagem estrangeiros serão ucranianos e arménios. Mas outros ligam as escutas às relações do líder do Pasok com “pessoas sombrias que agem em nome dos interesses chineses”. O caso está a ser descrito como o maior escândalo do atual governo do país.

Alexis Tsipras, ex-primeiro-ministro grego, comparou o escândalo com o caso “Watergate”, que nos EUA levou à demissão do presidente Richard Nixon, do partido Republicano, na sequência de uma invasão dos escritórios do Partido Democrata por homens com quem tinha ligação, com a intenção de instalar escutas.

“Em vez de desculpas hipócritas e de mentiras, o senhor Mitsotakis deveria dizer que outros políticos e jornalistas foram espiados”, atirou Tsipras, que lidera o principal partido da oposição, o Syriza. “Isto não é um erro enorme e imperdoável. É um escândalo enorme, a arrogância imperdoável de um regime, de um primeiro-ministro que pensava que ninguém o podia controlar.”

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Na Grécia, as escutas a Nikos Androulakis duraram três meses e aconteceram antes da eleição do socialista como líder do Pasok — eleição essa que veio a acontecer em dezembro do ano passado. O escândalo estalou quando Androulakis revelou ter sido informado de uma tentativa de escutas no seu telemóvel com o malware Predator, que é capaz de desbloquear o acesso a mensagens encriptadas e ativar câmaras e microfones em telemóveis.

Nikos Androulakis já apresentou queixa ao Supremo Tribunal e pediu ao Parlamento grego para criar uma comissão que investigue eventuais responsabilidades políticas no caso.

Mas o socialista pode não ter sido o único visado em escutas. Segundo o The Guardian, dois jornalistas gregos — um especialista em migrações e outro em finanças — também recorreram à justiça após suspeitas de terem sido espiados de forma semelhante. A 29 de julho, Panagiotis Kontoleon, o líder das secretas, assumiu, numa audição parlamentar à porta fechada, que os serviços de inteligência gregos tinham monitorizado o jornalista Thanassis Koukakis (o especialista em finanças), a pedido de um serviço de inteligência estrangeiro.