A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) considera “perplexizantes”as afirmações de Maria do Céu Antunes, ministra da Agricultura, garantindo não ceder “um milímetro” ao que descreve como “bullying político”.

Em causa está a afirmação de quarta-feira, 10 de agosto, em que questionada pelos jornalistas sobre as críticas dirigidas pelo secretário-geral da CAP (que declarou “inexistente” a resposta do governo para mitigar o impacto da seca no setor da produção animal), Maria do Céu Antunes respondeu: “É melhor perguntar porque é que durante a campanha eleitoral a própria CAP aconselhou os eleitores a não votar no Partido Socialista.” A declaração foi feita à margem de de uma visita a uma unidade de produção de citrinos no Morgado da Torre, em Portimão.

“Apelamos ao escrutínio do verdadeiro sentido destas declarações. Não cederemos um milímetro a este ‘bullying’ político e continuaremos a ser a voz de defesa dos agricultores sempre e em todas as ocasiões […]. São declarações que parecem-nos ser pouco saudáveis no Estado de direito democrático e que têm que ser explicadas”, defendeu em comunicado a CAP.

A campanha eleitoral terminou há mais de seis meses, destacou a CAP, questionando sobre a falta de pagamentos aos agricultores. “A ministra não paga aos agricultores e adia decisões por retaliação política à CAP?”.

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Na mesma nota, a CAP lembra como tudo aconteceu: no decorrer da campanha eleitoral, a 17 de janeiro, apelou à “rejeição do voto” do PS e de todos os partidos “que tivessem intenção de coligar-se com o PAN ou com todos os partidos anti-agricultura e anti-mundo rural”. Mas após as eleições, felicitou o PS, lembrando o partido da “grande responsabilidade” política que vinha com a vitória. “Estará Maria do Céu Antunes, com este ataque gratuito e extemporâneo, à altura dessa responsabilidade?”, questionou a CAP.

IL pede audição com a ministra.  CDS-PDD “reclama imediata demissão”. PDS fala em “tiques de autoritarismo”

A Iniciativa Liberal (IL) quer esclarecimentos e o CDS-PSS pede mesmo a demissão da ministra da Agricultura. O partido de João Cotrim de Figueiredo já apresentou nesta quinta-feira, 11 de agosto, um requerimento para ouvir Maria do Céu Antunes sobre as medidas adotadas ou a adotar para combater a seca no país, criticando as declarações que descreve como “inaceitáveis” relativas à CAP.

“Uma resposta com este teor é francamente inaceitável, dando a entender que a gestão do Ministério e as políticas definidas, as quais impactam de forma decisiva o setor e os produtores, é decidida em função dos estados de alma da responsável pela pasta e que estes dependem do apoio que as suas associações representativas testemunham, ou não, ao partido socialista”, considerou a IL.

Pela persistência da seca e falta de respostas da tutela para solucionar o problema, a bancada liberal considera “fundamental” promover a audição da ministra “para esclarecimento integral de todas as medidas, conjunturais ou estruturais, adotadas até à data ou ainda a adotar pelo Ministério da Agricultura e da Alimentação para combater ou mitigar as suas consequências, bem como dos resultados já obtidos e esperados”.

Nuno Melo, presidente do CDS-PP, vai mais longe e “reclama a imediata demissão da ministra Maria do Céu Antunes”, declarou, em comunicado. O líder do partido considera que as afirmações são sintomáticas de uma “absoluta instrumentalização do Estado em favor do PS, ou de quem é próximo ou apaniguado do PS, sendo o contrário motivo de perseguição, ou discriminação pela tutela”. Nuno Melo considerou que, com estas declarações, a ministra provou uma “manifesta falta de capacidade para a função”, frisando que “deixou de ter quaisquer condições de manter a isenção, distanciamento e dimensão” para ocupar um lugar no governo. “Um ministro do governo de Portugal é um ministro da República, não é um representante de qualquer partido político, menos pode decidir em função da filiação ou simpatia partidária”, declarou Nuno Melo.

O CDS-PP lembra na mesma nota que “a seca em Portugal é um facto público, notório, extremo, que causa grave impacto na agricultura”, destacando que a CAP, “representando mais de metade dos agricultores do país, é pela sua importância e relevância, parceiro social e uma instituição fundamental do setor, reconhecida como tal em Portugal e no estrangeiro”.

Hugo Soares, secretário-geral do PSD, descreveu a atitude da ministra da agricultura como uma “reação descabelada”,  falando num “total desrespeito” da parte do Governo. “A reação da ministra da Agricultura [Maria do Céu Antunes] em relação à CAP é uma reação descabelada e que demonstra, mais uma vez, um total desrespeito por parte do Governo relativamente a instituições”, disse, a partir das Caldas da Rainha, onde visitou a Expotur — Festa de Verão.

Para Hugo Soares ficou ainda “demonstrado mais uma vez esta semana que há um padrão de tiques de autoritarismo por parte do Governo do Partido Socialista”, que confunde “aquilo que é uma maioria absoluta com o poder absoluto”. Estes “tiques”, diz o  secretário-geral do PSD, já tinham sido evidenciados na altura do despacho do primeiro-ministro em relação ao caso da Endesa, em que ficou demonstrado “um total desrespeito relativamente a instituições”, referindo “os parceiros sociais, a associações que são fundamentais para a construção de políticas públicas”.