Na manhã desta terça-feira multiplicaram-se, tanto do lado ucraniano como do russo, os relatos e vídeos de explosões na Crimeia, península anexada pela Rússia em 2014. Foram registados casos em zonas distintas da região, incidentes que se seguem às explosões da semana passada numa base aérea russa em Saky, onde foram alegadamente destruídos oito aviões russos.

Imagens de satélite mostram pelo menos oito aviões russos destruídos na base aérea de Saky

Apesar de a Ucrânia não ter por agora assumido claramente ou negado a autoria das explosões, se for responsável isso poderá significar uma mudança na dinâmica do conflito e na capacidade do país de entrar em território controlado pela Rússia.

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Rússia reconhece explosões na Crimeia. Em Dzhankoi há dois feridos depois de incidente num depósito de armas

Durante a manhã registou-se uma explosão na aldeia de Maiske, na zona de Dzhankoi, num depósito de munições russo. A Rússia reconheceu a ocorrência do incidente, que diz ter provocado danos em várias instalações civis, incluindo uma linha de alta tensão, subestações elétricas, a linha ferroviária e várias casas.

Rússia admite ato de sabotagem em explosões na Crimeia

Segundo a Reuters, que cita as agências russas, duas pessoas ficaram feridas e 2,000 pessoas foram retiradas de uma vila nas proximidades. Nas redes sociais circularam vários vídeos que demonstram o momento das explosões em Dzhankoi.

Este não foi o único caso e há também relatos de uma explosão 93 quilómetros a sul, em Simoferopol. Mais recentemente foram registadas notícias de explosões numa base militar em Gvardeyskoye, no centro da Crimeia.

“Sabotagem” ou “Desmilitarização”?: Moscovo e Kiev trocam argumentos

As explosões na Crimeia durante esta manhã estão a levantar declarações da Rússia e da Ucrânia. Do lado de Moscovo, o ministério da Defesa diz ter-se tratado de um “ato de sabotagem” e garante que está a tomar as “medidas necessárias” para prevenir episódios semelhantes.

“Na manhã de 16 de agosto, um armazém militar na cidade de Dzhankoi , a capital do distrito com o mesmo nome, foi danificado em resultado de sabotagem”, disse o Ministério da Defesa numa declaração citada pela agência russa TASS.

De Kiev, porém, vem uma versão diferente do caso. Ao New York Times um dirigente ucraniano, que não quis revelar a identidade, adianta que o ataque foi levado a cabo por uma unidade militar de elite da Ucrânia. No entanto, por agora nenhum membro do governo ucraniano assumiu a responsabilidade pelo caso.

Ainda assim, o conselheiro do Presidente ucraniano, Mykhailo Podolyak, escreveu na sua conta pessoal do Twitter que está uma “desmilitarização em curso” na Crimeia.

No mesmo dia, Podolyak disse, em entrevista ao The Guardian, que prevê mais ataques na região da Crimeia nos “próximos dois ou três meses”. “Concordo certamente com o ministro de Defesa russo, que está a prever mais incidentes deste tipo nos próximos dois, três meses. Penso que veremos mais desses a acontecer”, afirmou. O conselheiro refere que o caso é um “lembrete” de que a Crimeia ocupada pelos russos é caracterizada por “explosões em armazéns e um elevado risco de morte para invasores e ladrões”.

Segundo Podolyak, a Ucrânia está envolvida numa contraofensiva para criar o “caos dentro das forças russas”, ao atingir cadeias de fornecimentos, depósitos de munições e outras infraestruturas militares nos territórios ocupados.

A “terra sagrada” de Putin e a importância estratégica para a Rússia

No início da invasão da Ucrânia, as forças russas tomaram controlo de regiões como Kherson e Zaporíjia, no sul da Ucrânia. A Crimeia oferece um apoio logístico para a Rússia manter a sua ocupação, incluindo duas linhas ferroviárias de que depende para mover equipamento militar, como refere o New York Times.

A região também alberga a frota do Mar Negro e as suas bases aéreas têm sido usadas para lançar ataques contra o território ucraniano. No entanto, é mais do que uma base militar e um palco para a invasão da Ucrânia. Tem um significado especial para o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, que, como lembra o jornal norte-americano, se referiu à Crimeia como uma “terra sagrada”. Ao atacar repetidamente o território, que a Rússia ocupou por quase uma década, a Ucrânia coloca um novo desafio à posição de Putin.

Na semana passada, o Presidente da Ucrânia afirmou que a guerra “começou na Crimeia e deve terminar com a Crimeia” libertada, alertando que não haverá uma paz estável no Mediterrâneo enquanto a Rússia usar esse território como “base militar”.

Guerra começou com a Crimeia e deve terminar com a sua libertação, diz Zelensky

“A presença de ocupantes russos na Crimeia é uma ameaça para toda a Europa e para a estabilidade global”, sublinhou, acrescentando que a região do mar Negro não pode estar segura enquanto a Crimeia estiver ocupada.