Gabriel Mithá Ribeiro apresentou a demissão da vice-presidência do Chega depois de ter sido afastado do cargo de coordenador do gabinete de estudos do Chega por André Ventura, que ficou “provisoriamente” à frente do mesmo até à realização de um Conselho Nacional.

O presidente do Chega assegurou que a saída de Mithá Ribeiro do gabinete de estudos se insere numa “profundíssima reestruturação do partido que vai afetar a base do partido” e que está a ser preparada para os “próximos meses”. Desta forma, Ventura garantiu que a decisão nada tem a ver com a partilha que o deputado fez de uma publicação de Pedro Arroja, que foi mandatário nacional do Chega, e que disse estar “dececionado” com os últimos meses de trabalho do partido no Parlamento. E deixou claro que mantém a confiança em todos os deputados.

“Não faço a gestão do partido com base em artigos de blogs, defendeu-se André Ventura, argumentando que não considera o artigo “justo” porque “ninguém tem feito mais pela justiça do que o Chega”. Questionado sobre o timing do afastamento e do aceitar da demissão — tendo em conta que o deputado pediu para deixar a vice-presidência do partido a 9 de julho e Ventura recusou — o presidente do partido justifica que “não fazia sentido” porque ainda estava a decorrer os trabalhos parlamentares.

Agora, aceitou por se estar em “fase final” desse ano parlamentar e numa altura de “reconfiguração do partido”. “O Chega vai ter nos próximos meses uma profunda reorganização institucional interna, que afetará o gabinete de estudos, a comissão política nacional e outros órgãos do partido. Como presidente da direção nacional, assumi o gabinete de estudos e farei o mesmo com a comissão política nacional porque sou eu que vou apresentar a proposta de reformulação desses órgãos e não faz sentido que haja outros à frente dos órgãos”, esclareceu em conferência de imprensa.

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André Ventura revelou que irá reunir com Mithá Ribeiro esta terça-feira, mas espera que não exista uma rutura com o deputado, com esperanças que “o trabalhe continue” no grupo parlamentar. “Continuo a manter a confiança em todos os deputados”, realçou, frisando que é normal a existência de saídas num partido que está a crescer.

O líder do Chega admitiu ainda que as mudanças propostas podem deixar “mais dissidências e dificuldades”, mas deixou um alerta: “Os líderes fracos são os que se deixam ficar sempre na maré tranquila. Eu gosto de arriscar, vou levar ao Conselho Nacional e aos militantes essa proposta e se não for aprovada retirarei as consequências necessárias.”

O afastamento e a demissão

Este domingo, no portal interno do Chega, foi publicado um despacho assinado pelo presidente do Chega com a informação: “Nos termos das competências estatutariamente definidas, e tendo em vista o processo de reorganização dos vários órgãos partidários anunciado no último Conselho Nacional, fica atribuída ao presidente da direção nacional, provisoriamente e com efeitos imediatos, a coordenação do gabinete de estudos do partido até à aprovação, no próximo Conselho Nacional, da nova configuração orgânica deste, em termos de organização, competências, membros e respetivos direitos de voto nos vários órgãos deliberativos do partido”.

Com o anúncio, André Ventura revelava que Gabriel Mithá Ribeiro deixava de estar à frente do gabinete de estudos do Chega, assumindo a coordenação provisória do mesmo órgão, remetendo para uma decisão tomada no último Conselho Nacional do partido que tem como intuito “o processo de reorganização dos vários órgãos partidários”.

Perante a decisão, Gabriel Mithá Ribeiro anunciou que deixará o cargo de vice-presidente, através da publicação de um email dirigido a André Ventura, em que escreve que já tinha pedido para sair da direção a 9 de julho e realçando que a intenção se torna “inevitável” devido ao “afastamento do cargo de coordenador do gabinete de estudos”.

Mithá partilhou texto de Arroja, que está “dececionado”

Um dia antes do despacho, Gabriel Mithá Ribeiro partilhou no Facebook um texto assinado por Pedro Arroja, que foi mandatário nacional do Chega, no blog Portugal Contemporâneo, em que criticava a ausência de propostas do partido na área da justiça.

“Estou bastante dececionado“, escrevia o mandatário, após a enumeração de várias exemplos de medidas que esperava ver apresentadas. Após recordar o texto “Por que vou votar no André Ventura (I)” e de o justificar com o facto de prometer “uma profundíssima reforma da justiça”, Pedro Arroja realçava que o “grupo parlamentar do Chega está em funções há seis meses” e que, na área da justiça, “a única coisa que fez foi apresentar propostas que aumentam as penas de prisão para certos crimes”.

“São propostas avulsas que nada representam em termos de ‘uma profundíssima reforma da justiça’ e que não me entusiasmam particularmente nem são prioritárias num país como Portugal, que é considerado um dos países mais pacíficos do mundo”, prosseguiu, admitindo que “a proclamação do André Ventura” tinha representado uma “esperança que o tempo tinha chegado para uma justiça democrática no país”.

“É claro que eu não esperava que o André Ventura, na altura deputado único do Chega, fizesse essa reforma sozinho. E, assim, eu próprio me empenhei, na medida das minhas possibilidades, para que o Chega pudesse eleger um número significativo de deputados nas eleições de janeiro passado, e isso veio a acontecer”, recorda, asssumindo que esperava ver mais do Chega nos últimos meses. Apesar de dizer estar “bastante dececionado”, Arroja realça que “talvez seja necessário dar mais tempo”.

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O deputado Mithá Ribeiro foi o principal responsável pelo programa eleitoral que o partido levou a votos nas últimas legislativas, em que o partido elegeu 12 deputados e se tornou a terceira força política a nível nacional. Além disso, depois de o nome de Diogo Pacheco Amorim ter sido chumbado, Mithá Ribeiro foi o escolhido pelo Chega para a vice-presidência da Assembleia da República, tendo sido também rejeitado pelo Parlamento.

Na sequência disso, o deputado, de origem moçambicana e defensor da ideia de que “o racismo deixou de existir”, surgiu em declarações à imprensa para se queixar que tinha sido alvo de uma “questão racial” ao ser rejeitado para o cargo. André Ventura, ao lado do candidato chumbado, estava aparentemente desconfortável e recusou responder se comunga ou não da opinião de Mithá Ribeiro.

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