Cerca de 200 cidadãos chineses manifestaram-se esta segunda-feira em frente à embaixada dos Estados Unidos em Lisboa, contra o que dizem ser a intenção norte-americana de criar um conflito entre a China e Taiwan.

Taiwan sempre (…) pertenceu à China”, vincou à Lusa Lin Wang, de 30 anos: “Falam chinês, têm cultura chinesa e aparência… Tudo chinês! Taiwan pertence à China”.

A manifestação foi organizada com o crivo de todas as associações chinesas que existem em Portugal e a par com o protesto foi entregue à embaixadora uma carta a pedir aos Estados Unidos da América para respeitarem “a soberania da China”.

Há três semanas uma visita a Taiwan da presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, que as autoridades chinesas consideraram uma provocação, fez estremecer as já instáveis relações diplomáticas entre Washington e Pequim.

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A China reage negativamente a cada iniciativa diplomática que possa ser vista como um passo no sentido do reconhecimento oficial de Taiwan, cuja soberania prometeu recuperar, se necessário pela força.

Esta segunda-feira, em frente à embaixada dos Estados Unidos em Lisboa, Lin Wang e outras duas centenas de cidadãos chineses reivindicaram o fim do que consideram ser a ingerência norte-americana num assunto que, dizem, não é mais do que política interna da China.

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De t-shirt “bordeaux” e um megafone azul e branco na mão direita, era Lin Wang quem alimentava o protesto: “Os Estados Unidos têm de deixar de intervir na união de Taiwan com a China”.

Os manifestantes ouviam-no gritar em mandarim “a hegemonia da América tem de acabar” ou a entoar a “Marcha dos Voluntários”, o atual hino da República Popular da China, e acompanhavam em uníssono.

Quem estava na dianteira empunhava grandes bandeiras da China e segurava faixas onde era possível ler “o objetivo histórico de reunificar a nossa terra-mãe deve e vai ser concretizado” e também “as forças externas que obstruem a completa reunificação da China vão ser derrotadas”. Havia bandeiras para todos, nem que fossem pequenas, para munir os manifestantes e dar um sinal sobre de que lado residia a sua lealdade.

Pequim considera Taiwan uma província rebelde desde que os nacionalistas se retiraram para a ilha em 1949, depois de perderem a guerra civil contra os comunistas.

Com mais de 23 milhões de habitantes, a ilha situa-se a cerca de 180 quilómetros a leste da China, no noroeste do Oceano Pacífico, separada do continente pelo Estreito de Taiwan.

“One China”, gritaram os manifestantes enquanto Y Ping Chow, o promotor da manifestação, conversava com a Lusa. E não poupou nas acusações a Washington: “Estão a criar um fosso para os chineses caírem”.

Com 65 anos, Y Ping Chow quer que a Casa Branca entenda que “não vale a pena tentar criar outra guerra na China e nos arredores”.

“Os americanos já criaram guerra na Europa e agora querem criar guerra na Ásia. Estamos descontentes, somos um povo de paz e gostaríamos de tratar os assuntos com diálogo. [Os norte-americanos] querem promover a guerra entre a China e Taiwan para poderem beneficiar, vender as suas armas e destabilizar a paz no mundo”, argumentou.

André Lee, de 19 anos, nasceu em Portugal, mas esteve “anos na China” e hoje dirigiu-se à embaixada norte-americana para mostrar que “há apenas uma China”.

“Somos um só [povo]. Há uma união e queremos mostrar isso a toda a gente. Quero que eles [os Estados Unidos] não intervenham na nossa relação com Taiwan, que tem mais de 5.000 anos”, completou, enquanto recebia indicações de uma mulher que ouvia atentamente o que dizia e que não se mostrou disponível para falar com a Lusa.

A família de André Lee é natural de Xangai e o jovem chinês disse com certezas que “só há um chinês, não há dois ou três”.

Enquanto entrevistou os manifestantes, a equipa de jornalistas da Lusa foi constantemente filmada por pessoas que ali se encontravam.