Peiter Zatko, antigo responsável pela área de segurança do Twitter, veio a público denunciar as “deficiências extremas” que considera existirem na rede social, em áreas como a segurança e a privacidade. De acordo com o Washington Post e a CNN, que avançaram a notícia, a denúncia de Zatko já terá chegado às mãos do regulador de mercados dos Estados Unidos, a SEC, ao Departamento de Justiça e à FTC, a Comissão Federal do Comércio.

Nas cerca de 84 páginas desta denúncia, o antigo executivo do Twitter, conhecido entre a comunidade hacker como “Mudge”, alega que a rede social não estará a fazer tudo aquilo que promete na área da segurança. Desta forma, a segurança e privacidade de 238 milhões de utilizadores poderá estar alegadamente em cheque – comunidade que inclui também diversos chefes de Estado e organizações governamentais.

Os executivos da companhia, incluindo o CEO Parag Agrawal, são também visados nesta denúncia, com acusações de “extensas violações legais”. Zatko acusa Agrawal de ter “mentido” aos utilizadores quando partilhou um tweet onde referia que a companhia era “fortemente incentivada a detetar e remover tanto spam quando fosse possível”. Além disso, diz que os executivos estão também a induzir em erro os investidores da companhia.

Segundo o Washington Post, uma das acusações mais graves nesta denúncia é a de que a rede social poderá estar a violar um acordo com 11 anos feito com o regulador FTC. Esse acordo obriga a rede social a ter um plano sólido na área da segurança.

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O antigo responsável de segurança vem a público acusar a empresa de dar prioridade ao crescimento da base de utilizadores – a principal métrica para medir os resultados – em vez de reduzir o spam na plataforma. Zatko refere ainda que os executivos da companhia podem chegar a ganhar cerca de 10 milhões de dólares caso exista um aumento dos utilizadores ativos diários. Já a redução do spam não terá nenhum tipo de benefício para os executivos.

Zatko, que foi despedido em janeiro deste ano, menciona uma “obrigação ética” ao fazer esta denúncia, admitindo em entrevista ao Washington Post que “não foi um passo fácil de dar”. Este antigo responsável da companhia foi contratado por Jack Dorsey, antigo CEO do Twitter, no final de 2020, após a empresa revelar que os sistemas de segurança foram comprometidos durante um ataque.

A imprensa norte-americana está já a dar ao antigo responsável de segurança do Twitter o estatuto de “whistleblower”, por ter vindo a público denunciar aquilo que alegadamente terá visto enquanto trabalhava na companhia. Foi este o estatuto dado a nomes como Christopher Wylie, que denunciou o escândalo Cambridge Analytica, que envolveu o então Facebook, ou a Frances Haugen, que também acusou a rede social de falta de transparência. Zatko está a ser representado legalmente pela Whistleblowers Aid, uma organização sem fins lucrativos, refere a imprensa norte-americana.

Fontes próximas da FTC indicam ao Washington Post que os documentos fornecidos estão a ser analisados.

A denúncia é feita num momento especialmente sensível para o Twitter, que está prestes a entrar numa batalha judicial para obrigar Elon Musk a cumprir com o prometido e a concretizar a compra da rede social.

Ao The Verge, Alex Spiro, um dos advogados de Musk, já referiu que foi emitida uma “intimação para o senhor Zatko”. O advogado partilhou ainda que “acha curiosa a saída [de Zatko da empresa] e de outros empregados à luz daquilo que tem sido descoberto” pela defesa. A questão das contas falsas e de bots tem sido justamente uma das justificações de Musk para não avançar com a compra do Twitter.

A defesa de Musk também já fez uma intimação a Jack Dorsey, co-fundador e antigo CEO do Twitter, para que ceda documentos sobre contas falsas na plataforma.

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Twitter contesta acusações e fala em “falsa narrativa”

O Twitter nega as acusações feitas nesta denúncia. “A segurança e a privacidade são há muito uma das principais prioridades do Twitter”, indica Rebecca Hahn, porta-voz do Twitter, ao Washington Post. Esta porta-voz refere “imprecisões” nesta denúncia e diz que Zatko “aparenta agora um sentido oportunista de infligir danos ao Twitter, aos seus clientes e acionistas”.

Em relação ao despedimento deste responsável – Zatko não detalhou em que bases aconteceu o fim da relação laboral com o Twitter – a porta-voz justifica que a demissão foi motivada por “desempenho e liderança fraca” da parte do antigo responsável de segurança.

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