A chegada a Laguardia na véspera tinha mostrado como a força da Jumbo consegue chegar ao seu líder, Primoz Roglic. Era ali que a equipa apostava em passar a camisola vermelha para o esloveno que procura a quarta vitória consecutiva na Vuelta, foi ali que Edoardo Affini deixou a liderança da prova para aquele que chegava à competição como o maior favorito ao triunfo final. No entanto, a quarta etapa teve o condão de mostrar também a grande competitividade no pelotão numa fase em que existem subidas mas não com tanta dureza para fazer mossa na geral (aliás, teve mais peso o ritmo que Bora, Jumbo e Ineos colocaram no pelotão do que propriamente a montanha). Agora, a quinta tirada ia pelo mesmo caminho.

Mais um festival da Jumbo, agora para a maior estrela: Roglic ganha etapa e vermelha, Almeida sobe a 14.º (mas perde tempo)

O habitual quadro de apostas do Eurosport antes da etapa que ligava Irun a Bilbau numa extensão de 187 quilómetros era o exemplo paradigmático disso mesmo. Adam Blythe, corredor inglês que passou por BMC, Tinkoff e Lotto, apostava em Mats Pedersen, dinamarquês que em condições normais estaria apenas a disputar as chegadas ao sprint com Sam Bennett mas que deu uma grande resposta na média montanha. Eduardo Chozas, espanhol que ganhou três etapas do Giro entre equipas como Teka, Kelme, Once ou Artiach, virava-se para Ethan Hayter, o mais jovem da Ineos. Dan Lloyd, outro antigo atleta britânico, virava-se para uma opção ainda mais fora de Clément Champoussin, da AG2R. Ilenia Lazzaro, antigo corredora italiana, apostava em Vincenzo Nibali. Opções não pareciam faltar, sendo que a própria forma de decorrer da corrida iria dizer se a fuga do dia conseguiria ou não ter sucesso.

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Depois de um ritmo altíssimo na primeira hora de etapa, com uma média a rondar os 50km/hora sem que ninguém conseguisse descolar do pelotão, um grupo de 17 corredores conseguiu mesmo assumir a fuga antes da passagem pelo Puerto de Gontzagarigana tendo como perseguidor único Marc Soler, companheiro de João Almeida na UAE Emirates que forçou mas conseguiu juntar-se aos fugitivos. Victor Langelloti, da Burgos, passou na frente no Balcón de Bizkaia quando a diferença ia aumentando até estabilizar nos 4.30 minutos. A 50 quilómetros, começavam a surgir os dois cenários possíveis: 1) nenhuma das principais equipas assumia o pelotão e a fuga tinha sucesso; 2) a fuga era anulada e repetia-se o filme.

Uma coisa era certa: entre os fugitivos estavam nomes que podiam assumir a camisola vermelha com esse avanço, numa alteração que até poderia ser pontual em termos de dias mas que levaria Jumbo, Ineos, Bora e Quick-Step a pensarem em diferentes estratégias em relação à equipa tinham inicialmente. Langelloti, na frente, continuava a ganhar a todos os adversários nas contagens com pontos, a terceira à frente de Roger Adriá (Kern Pharma) e Daryl Impey (Israel Premier). Lawson Craddock (BikeExchange) atacou, Langelloti conseguiu apanhar o britânico, alguns corredores que tinham também descolado voltaram a colar na descida e a segunda e decisiva subida ao Alto del Vivero iria coroar mesmo a fuga do dia.

Marc Soler acabou também por tentar fazer o seu ataque surpresa, Fausto Masnada reagiu bem, Jake Stewart aproveitou para ir embora. A menos de 20 quilómetros, o corredor britânico da Groupama tentava ir de vez para ganhar a etapa (classificação geral era impossível por já levava mais de 15 minutos de Roglic) e a diferença chegou a ser bem superior a 30 segundos na subida, até porque o grupo perseguidor não ia trabalhando em conjunto porque pensava na camisola vermelha e não na tirada. Lá atrás, era a Ineos que assumia as despesas da corrida, com a Jumbo a ser apanhada desprevenida com esse movimento. Foi nesse momento que Marc Soler saiu que bem uma bala para tentar ir buscar Stewart e a 15 quilómetros do final essa tentativa estava anulada, com maiores probabilidades de haver uma decisão ao sprint.

Soler passou que nem uma mota por um Stewart em quebra, tentando aproveitar o último quilómetro ainda de subida para aumentar o avanço da frente e ficar mais protegido da parte da descida, naquela que poderia ser a primeira vitória numa etapa esta temporada e a segunda na Vuelta depois de 2020. Quando a descida começou, depois da passagem por milhares e milhares de pessoas que saíram à rua no País Basco, eram 12 os segundos para tentar defender de Craddock e Stewart depois da tirada muito discreta que tinha feito na véspera perdendo mais de 14 minutos para Primoz Roglic. Não chegou. E o grupo que entretanto foi crescendo até podia ter provocado uma chegada ao sprint, mas as descoordenações a 700 metros deixaram mesmo o corredor fazer história com a primeira vitória de um espanhol dois anos depois numa grande volta, quebrando um total de 121 etapas sem qualquer triunfo de um atleta do país.

Se Langelloti já tinha ganho a camisola da montanha, também a geral individual mudou de mãos perante a chegada do pelotão a mais de 4.30 minutos da fuga. Assim, Rudy Molard (Groupama) passou a liderar a Vuelta com dois segundos de avanço sobre Fred Wright (Bahrain). Nikias Arndt (Team DSM) ocupa a terceira posição a 1.09, Lawson Craddock (BikeExchange) segue em quarto a 2.27 e só depois surge Primoz Roglic, antigo primeiro classificado que desceu ao quinto posto a 4.09 da liderança de Molard. João Almeida desceu à 17.ª posição a 5.02 num dia em que Ethan Hayter foi o grande derrotado, ficando quase arredado da possibilidade de discutir os lugares cimeiros. Entre os outros portugueses, Nelson Oliveira (Movistar) ocupa a 59.ª posição a 6.50 da liderança, ao passo que Ivo Oliveira é 149.º a 32.33.