Três dias percorridos em estradas dos Países Baixos, duas notas que ficam para o futuro, um protagonista acima de todos os outros. Os 391,5 quilómetros das etapas iniciais entre Utrecht e Breda, com essa nota muito positiva do muito público presente no apoio aos corredores e uma nota que poderia ser negativa de algumas zonas terem viragens mais acentuadas sem as devidas marcações para acautelar alguns azares que pudessem acontecer, não foram determinantes para a Vuelta mas serviram para colocar diferenças entre os principais candidatos que podem agora ser ou não importantes nas primeiras etapas com montanha.

Só tinha uma vitória até aqui, agora ganhou pela segunda etapa seguida: Sam Bennett vence no adeus da Vuelta aos Países Baixos

A Jumbo dominou por completo, ganhando o contrarrelógio inicial por equipas e fazendo andar a liderança entre Robert Gesink, Mike Teunissen e Edoardo Affini sempre com Primoz Roglic na frente com diferenças mais pequenas ou maiores em relação aos principais rivais. A Ineos, mesmo sendo apenas um susto, teve o condão de deixar um alerta ao pelotão para os azares que podem aparecer como ocorreu a 20 quilómetros da meta na terceira etapa com os problemas de Richard Carapaz e Pavel Sivakov. Sam Bennett, que dizia não estar no melhor momento da época, chegou à competição apenas com uma modesta vitória mas saiu dos Países Baixos a ganhar em Utrecht e Breda. Capítulo encerrado, dia de descanso, novo arranque.

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A Jumbo ganhou e o primeiro líder saiu à casa: João Almeida perde 33 segundos para Gesink (e Roglic) a abrir a Vuelta

João Almeida estava na 27.ª posição a 33 segundos dos líderes, a distância que ficou cravada logo na etapa inicial. “Foi um bom arranque para nós. Estivemos mesmo bem organizados, o ritmo foi bom, por isso acho que fizemos um trabalho perfeito. Os fãs aqui em Utrecht estiveram fantásticos”, comentou o português aos meios da UAE Emirates depois do quinto lugar no contrarrelógio atrás de Jumbo, Ineos, Quickt-Step e BikeExchange. Ainda assim, nada de expectativas altas, como assumira antes do arranque da Vuelta. “Não me tenho sentido com super pernas. Não tenho expectativas ou um grande objetivo, como fazer pódio, mas vou dar tudo o que tenho. É a mentalidade que trago. Não tenho sintomas mas estive parado uns bons tempos, por isso a forma não recupera assim tão rápido. Não acho que seja a Covid-19, estou recuperado fisicamente e mentalmente”, destacara no início da competição.

Um final com chave de ouro: João Almeida vence última etapa de montanha e termina Volta a Burgos no segundo lugar

A ligação entre Vitoria-Gasteiz e Laguardia, na distância de 153,5 quilómetros, iria ter o condão de começar a separar os corredores na geral. Ou seja, se até ao 29.º lugar de Ivo Oliveira só Mads Pedersen (Trek) era exceção entre Jumbo, Ineos, Quick-Step, BikeExchange e UAE Emirates, a quarta etapa mudaria todo esse cenário mesmo sem decidir nada na classificação. E esse era o grande motivo de curiosidade do dia, sem esquecer em paralelo com isso o triunfo que João Almeida tinha alcançado antes na Volta a Burgos.

Depois da partida simbólica com um minuto de silêncio em memória de todos os ciclistas que morreram vítimas de atropelamentos nas estradas, a fuga do dia levou um total de seis elementos quando se juntou: James Shaw (EF Education), Ander Okamika (Burgos BH), Jarrad Drizners (Lotto), Joan Bou (Euskaltel-Euskadi), Alexey Lutsenko (Astana) e Alessandro di Marchi (Israel-Premier). A vitória em Puerto de Opakua, de segunda categoria, caiu para o espanhol Joan Bou, naquele que foi o primeiro duelo do dia quando o pelotão rodava ainda a cerca de dois minutos e meio do grupo perseguidor mas a começar a trabalhar entre si para perceber quem assumia o comando para acelerar o ritmo por si só alto.

Começavam a chegar as principais dificuldades, com o ritmo da Bora a começar a criar cortes (neste caso, de um minuto) e a deixar ainda cedo Domenico Pozzovivo da Intermarché no grupo de trás. A mais de 50 quilómetros os fugitivos tinham apenas 50 segundos de vantagem e começavam a ceder aos poucos, ao passo que o grupo perseguidor conseguiu voltar a colar no pelotão. Depois da Bora, era a Jumbo a puxar. Até sem vento, sem subidas e sem ataques, o ritmo continuava a fazer mossa, com uma média bem acima do esperado. Se dúvidas ainda existissem, a competitividade da Vuelta estava ali bem patente.

A fuga tinha feito a “sua” missão, a Ineos agarrava na frente da corrida, muitos corredores começavam a encostar a 20 quilómetros do final cientes de que era a partir dali que se ia decidir a etapa que de forma garantida iria promover nova mudança na camisola vermelha porque Affini, Teunissen e Gresing tinham descolado de vez. Não é muito normal mas os dois quilómetros iniciais eram a parte mais complicada da subida, o que marcou diferenças. Até Juan Ayuso, um dos homens mais falados na antecâmara da tirada, acusou as dificuldades nesse segmento. Os primeiros ataques estavam “prometidos”.

Ante da parte da descida mais acentuada, Julian Alaphilippe (Quick-Step) arriscou e provocou mexidas no grupo da frente, com vários corredores mais preocupados em evitarem qualquer tipo de queda que viesse hipotecar as hipóteses de sucesso na etapa e na corrida. Vojtech Repa, da Kern, caiu mesmo, ficando com marcas bem visíveis na cara e nos braços. A última subida começou com muito mais corredores do que se pensava numa estrada mais estreita do que seria desejável para tantos potenciais candidatos, com a vitória a sorrir a Primoz Roglic de forma quase natural com direito a camisola vermelha na quarta etapa. E houve mesmo corte no grupo, com pequena diferença de segundos que apanharam João Almeida.

Assim, o português subiu ao 14.º quarto lugar da classificação geral mas passou a ter 53 segundos de diferença para o esloveno, a mesma distância de Juan Ayuso, McNulty e Alaphilippe. Sepp Kuss, que é companheiro de Roglic na Jumbo, está em segundo a 13 segundos, seguindo-se parte da armada da Ineos a 26 segundos com Ethan Hayter, Pavel Sivakov e Tao Geoghegan Hart. Remco Evenepoel da Quick-Step está a 27 segundos, Richard Carapaz e Carlos Rodríguez também ficaram cortados e passaram a ter 33 segundos de distância. Mads Pedersen (Trek, 34”) e Simon Yates (BikeExchange, 51”) fecham o top 10. Atrás de João Almeida seguem nomes como a dupla da Bora Jai Hindley e Kelderman (54”), Mikel Landa (1.02), Alejandro Valverde (1.03), Vincenzo Nibali (1.44) ou Domenico Pozzovivo (1.45).