É uma revelação sem precedentes e que está a causar ondas de choque na política (e na justiça) norte-americana. A decisão de um juiz da Florida de tornar pública parte do mandado para as buscas no resort de Donald Trump veio revelar as suspeitas do FBI sobre os documentos “altamente sensíveis e confidenciais” e as provas de obstrução de justiça que Trump estaria a guardar nos seus aposentos privados — o que já mereceu uma reação indignada do ex-Presidente dos Estados Unidos.

Depois de vários órgãos de comunicação norte-americanos terem feito pedidos ao tribunal do Sul da Flórida para que libertasse a documentação relativa às buscas, num pedido por mais “transparência” no processo, o tribunal acabou mesmo por concordar e contrariar a vontade do governo norte-americano. Assim, com algumas partes ocultas por conterem informações top secret, o documento de 38 páginas acabou mesmo por ser divulgado e noticiado pela imprensa norte-americana.

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E que revelações traz? Em primeiro lugar, que a motivação do FBI foi a suspeita de que Trump teria levado, de forma ilegal, informação “altamente secreta” e “sensível” consigo, contendo “alguns dos segredos mais delicados da América” na área da Defesa, como escreve a CNN Internacional, para Mar-a-Lago — uma localização “não autorizada” para este tipo de documentos. Um mau uso desses documentos poderia mesmo pôr em perigo agentes dos serviços secretos norte-americanos.

Por outro lado, o FBI considerou que haveria alta probabilidade de encontrar no resort provas de “obstrução da justiça” da parte de Trump. Será uma das partes mais sensíveis da investigação, uma vez que é dos trechos do documento mais rasurados na hora da divulgação ao público. Ou seja, na versão que é agora conhecida, não se encontra a justificação para as tais suspeitas do crime de obstrução.

Numa primeira visita a Mar-a-Lago, em maio, foram encontrados “67 documentos marcados como confidenciais, 92 como secretos e 25 como altamente secretos”. O agente que pediu o mandado de busca executado no início de agosto explicou então, como detalha a CNN, que pela sua experiência conseguia perceber que estes documentos “tipicamente” deveriam conter “informação sobre Defesa nacional”. Entre esses documentos incluir-se-iam também notas feitas à mão por Donald Trump.

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A interpretação de peritos em Segurança Nacional citados pela imprensa norte-americana, analisando as siglas e acrónimos visíveis mesmo na versão rasurada, é que o material incluiria informações sobre espiões, escutas ou informações que não podem ser partilhadas com qualquer entidade estrangeira, incluindo países aliados.

Entretanto, Donald Trump já reagiu à divulgação da documentação. Citado pelo The Independent, o ex-Presidente escreveu na sua conta da rede social Truth Social que o conteúdo vem provar que todo o processo não passa de uma “caça às bruxas” para o atingir.

Já tinha, aliás, argumentado que o processo aparece para tentar enfraquecer ou impedir uma eventual recandidatura sua à Casa Branca e interposto um processo para tentar travar o acesso aos documentos, pedindo que o processo fosse acompanhado por um “especialista independente” — um pedido que foi mal fundamentado e que Trump terá de completar ainda este sábado se quiser que tenha seguimento.

Na rede social, Trump frisou que o mandado estaria “altamente rasurado” e que ignora a “relação de trabalho próxima” que manteve com o FBI na hora de entregar documentos, argumentando que colaborou de boa vontade e entregou muitos deles antes das buscas.