(Em atualização)

Os confrontos na “Zona Verde” de Bagdade, na sequência do anúncio da “retirada definitiva” da política do clérigo populista iraquiano Moqtada al-Sadr, provocaram esta segunda-feira, pelo menos, 15 mortos e dezenas de feridos, refere a Associated Press.

O Iraque declarou esta segunda-feira recolher obrigatório após tiroteios na “Zona Verde”, a zona internacional da capital iraquiana, quando o líder Moqtada al-Sadr anunciou a sua retirada da cena política. Uma fonte ouvida pela AFP revelou que a zona foi também bombardeada pelo menos sete vezes. Não é claro quem são os responsáveis pelos bombardeamentos.

Dezenas de apoiantes do líder religioso e político invadiram o Palácio da República, na mesma zona da cidade, para expressar o seu descontentamento. Os manifestantes acomodaram-se em poltronas e saltaram para a piscina do edifício. A forças de segurança tentaram dispersar a multidão com recurso a bombas de gás lacrimogéneo.

Entretanto, a polícia começou a usar munições reais, aumentando o clima de confronto que já se vivia entre os apoiantes de Al-Sadr e os partidários dos partidos oposicionistas.

A situação na “Zona Verde” mantém-se “tensa”, apesar do decretar do recolher obrigatório. Mahmoud Abdelwahed, correspondente da Aljazeera no Iraque, adiantou que “não existem sinais de desescalada, pelo menos por agora”. “De vez em quando ouvem-se tiros (…). A ‘Zona Verde’ é um campo de batalha para as fações rivais”, declarou.

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Primeiro-ministro iraquiano pede investigação a incidentes na “Zona Verde”. António Guterres pede “calma”

O primeiro-ministro do Iraque, Mustafa al-Kadhimi, pediu a abertura de uma investigação “urgente” aos eventos desta segunda-feira em Bagdade, frisando que o uso de armas de fogo contra manifestantes é “estritamente proibido”, refere a Aljazeera, que cita a agência de notícias iraquiana INA. Segundo a mesma fonte, Al-Kadhimini pediu aos iraquianos que cumpram as “instruções das forças de segurança” e o recolher obrigatório.

Num curto comunicado divulgado durante a noite desta segunda-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou à “calma e contenção”, pedindo que sejam tomadas medidas para evitar uma escalada de violência.

“O secretário-geral insta fortemente todas as partes e envolvidos a superarem as suas diferenças e a envolverem-se, sem demoras, num diálogo pacífico e inclusivo para um caminho construtivo”, refere a nota, que dá conta da preocupação com que Guterres está a acompanhar a situação no Iraque.

Muqtada al-Sadr anuncia greve de fome

Al-Sadr terá anunciado o início de uma greve de fome, que durará enquanto as ações violentas nas ruas de Bagdade continuarem, noticiaram a agência de notícias e a televisão estatal iraquianas, de acordo com a Aljazeera. A notícia não foi confirmada oficialmente.

Moqtada al-Sad anunciou esta segunda-feira a sua “retirada definitiva” da cena política iraquiana devido à crise política que afeta o país. Desde as eleições de outubro do ano passado que o Iraque está sem governo e sem Presidente, depois de o partido de Al-Sadr ter vencido, mas com apenas 73 lugares dos 329 do Parlamento.

“Decidi deixar de intervir nos assuntos políticos. Anuncio a minha retirada final e o encerramento de todas as sedes das instituições políticas (do movimento sadrista)”, disse o influente clérigo e líder do principal partido no Iraque.

Antecipando um cenário de confrontos, Al-Sadr ordenou aos elementos do seu círculo mais próximo para que não se pronunciem sobre os eventos em curso, nem usem as redes sociais para promover mais ações de violência. O clérigo xiita também aconselhou os apoiantes a não empunharem bandeiras do partido, que ficou oficialmente dissolvido com a decisão deste dia anunciada por Al-Sadr.

O anúncio de al-Sadr ocorreu apenas 48 horas depois de ter exigido a exclusão da cena política de todos os partidos que atuam no Iraque desde 2003 como condição para superar a crise que se vive desde as eleições de outubro.

O partido de al-Sadr tentou uma aliança com outras forças parlamentares para eleger o Presidente e o primeiro-ministro, que ficariam encarregados de formar um Governo, o que acabou por não ser possível, devido ao bloqueio dos opositores xiitas, próximos do regime iraniano. Os deputados sadristas demitiram-se em bloco, em junho, mas, perante a eleição de um Presidente e de um primeiro-ministro propostos pelos opositores, os seguidores de Al-Sadr ocuparam o Parlamento, em 30 de julho.

A ocupação durou uma semana e, após um apelo do clérigo, os sadristas retiraram-se do Parlamento e têm estado acampados em frente ao edifício, para exigir a dissolução da Câmara e novas eleições.