O jornalista Hamilton Cruz era até há pouco tempo um dos rostos da Televisão Pública de Angola, na qual garante ser fomentada uma forte tendência de “apoio” ao MPLA. No dia  a seguir às eleições gerais do passado dia 24 de agosto decidiu sair e agora vive com medo de represálias. Ao Expresso pediu ajuda e contou a sua história.

O jornalista apresentava o “Jornal da Meia-Noite” e, ao fim de três meses no canal, diz ter assistido a várias situações como a retirada do alinhamento noticioso de peças sobre partidos da oposição ou que gerassem retorno negativo para o partido do governo nas redes sociais.

Na madrugada de 25, o dia a seguir às eleições gerais, foi quando Hamilton Cruz decidiu que havia chegado o limite. Pediu que fosse retirada do alinhamento uma sondagem que diz ter sido “encomendada pela TPA”, contudo o seu programa não chegou a ir para o ar devido a uma conferência da Comissão Nacional Eleitoral. “Em determinado momento, quis exercer o direito de consciência, mas tive medo e receio pela minha integridade física. Nesse dia, havia movimentação de polícias e seguranças com armas de fogo e, por precaução, aceitei, contrariado”, conta o jornalista.

No dia 25 comunicou aos seus superiores o seu “abandono”. Diz viver desde então com medo de represálias e já ter recebido ameaças. “Vai só me monitorando à distância, por favor”, pediu ao Expresso.

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Hamilton Cruz candidatou-se aos castings e testes de admissão para os quadros do novo canal da Televisão Pública de Angola (TPA), um canal noticioso 24 horas por dia, em junho de 2022. “Submeti-me aos mais variados testes, nalguns dos quais eu e os restantes candidatos fomos direcionados para um pensamento partidarizado em benefício do partido no poder”, contou o jornalista ao Expresso. Disse ainda que participou em exercícios que simulavam diretos, durante os quais os jornalistas seriam instruídos para saberem comunicar em benefício do MPLA, o partido no poder desde 1975 e que acabou de ganhar as mais recentes eleições. Ao não seguirem as instruções, Cruz diz que estariam a colocar-se “numa posição que não jogaria a favor” dos candidatos, o que significa que os jornalistas não integrariam os quadros do canal.

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