As autoridades moçambicanas suspeitam que os mesmos grupos armados que aterrorizam Cabo Delgado podem ter atacado uma aldeia a sul do rio Lúrio, situada já na vizinha província de Nampula, na sexta-feira.
Há a possibilidade de ser um ataque terrorista protagonizado por esse grupo de indivíduos que estão na província de Cabo Delgado”, disse à Lusa Zacarias Nacute, porta-voz provincial da polícia em Nampula.
Em causa está um ataque à aldeia de Kútua com um modo de atuação semelhante.
Eles queimaram o hospital, uma escola, três barracas (de venda de produtos), casas e igrejas”, disse o régulo da localidade, que fica na fronteira com Cabo Delgado (norte de Moçambique).
Ninguém sabe ao certo quem fez o ataque, mas dezenas de pessoas fugiram para a vila sede de distrito, Namapa, dizem as autoridades locais, segundo as quais não houve vítimas mortais nem feridos.
“As nossas forças estão a trabalhar no sentido de podermos controlar a situação”, disse Manuel Manusso, administrador do distrito de Érati, num encontro com a população.
Aquele responsável pediu que os residentes aumentem a vigilância e que comuniquem às autoridades sobre a presença de pessoas estranhas.
O governo está a trabalhar no sentido de vocês regressarem às vossas casas dentro de poucos dias. Nós estamos a vir de lá (do distrito atacado) e isso significa que é possível chegar à zona”, disse, no encontro.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) tem apelado às autoridades para não pressionarem as populações a regressarem a locais onde foram atacadas: o retorno deve ser livre e voluntário, sublinha a organização.
Esta é a segunda vez que províncias vizinhas de Cabo Delgado são alvo de ataques semelhantes aos que ali têm acontecido — e onde também está por esclarecer quem protagoniza a violência.
Em dezembro de 2021, houve a mesma suspeita em relação a ataques em zonas da província do Niassa que fazem fronteira com Cabo Delgado.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano por forças do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas levando a uma nova onda de ataques noutras áreas, mais perto de Pemba, capital provincial.
Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Estima-se que metade da população afetada sejam crianças e jovens até aos 20 anos, reflexo da pirâmide etária do país.