O chefe humanitário das Nações Unidas (ONU), Martin Griffiths, avisou que serão necessários pelo menos mil milhões de dólares, praticamente o mesmo em euros, para evitar mortes devido à fome na Somália até ao início de 2023.
A partir de Mogadíscio, capital da Somália, Martin Griffiths fez um briefing à imprensa, onde disse que, segundo um novo relatório de um painel de especialistas independentes, a fome chegará ao país entre outubro e dezembro.
A situação poderá piorar em 2023, quando se prevê que mais duas estações secas venham a agravar a seca histórica que atingiu o país do Corno de África, disse Griffiths no balanço da sua viagem de cinco dias à Somália.
De acordo com o subsecretário-geral para Assuntos Humanitários da ONU, são necessários mais de mil milhões de dólares em novos fundos, para além dos cerca de 1,4 mil milhões de dólares que a organização já tinha solicitado.
O apelo teve sucesso, disse Griffiths, graças à Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês), que anunciou uma doação de 476 milhões de dólares de ajuda humanitária e de desenvolvimento em julho.
A Rede de Sistemas de Alerta Precoce da Fome, criada pela USAID, disse num relatório divulgado na segunda-feira que a fome deverá emergir ainda este ano em três áreas da região da Baía (sudeste), incluindo Baidoa e Burhakaba.
Cerca de 7,1 milhões de pessoas necessitam de assistência urgente para tratar e prevenir a desnutrição aguda na Somália e reduzir o número de mortes relacionadas com a fome, de acordo com uma análise recente da organização.
Pelo menos 730 crianças morreram de má nutrição na Somália desde janeiro, e os números podem aumentar nos próximos meses, quando o centro e sul do país entrar em situação de fome, alertou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
“Um milhão e meio de crianças, quase metade de todas as crianças com menos de 5 anos, podem sofrer de má nutrição aguda, e entre eles 385 mil necessitarão de ser ajudados”, alertou a responsável da Unicef para a Somália, Wafaa Saeed, salientando que “os números são inéditos”.
A responsável do Unicef alertou que, neste país do leste africano, que faz fronteira com Quénia, Etiópia e Djibuti, 4,5 milhões de pessoas necessitam urgentemente de água, numa altura em que os preços deste bem básico aumentaram entre 55 e 85% desde o princípio do ano.
Também houve um aumento dos surtos de cólera, sarampo e diarreia aguda, tudo causado pela crise alimentar e pela falta de água, apontou a líder do Unicef no país, defendendo que a comunidade internacional tem de ajudar.
A ausência de chuvas é o mais recente problema que o país enfrenta, depois de ter passado por décadas de conflito, deslocações massivas da população e, mais recentemente, a forte subida dos preços dos cereais e de outros alimentos básicos, em parte devido à guerra na Ucrânia.
Citada pela agência notícias Efe, Saeed acrescentou que a Somália sofre a terceira seca em apenas uma década, depois de em 2011 terem morrido 260 mil pessoas, na sua maioria crianças, e a atual, com quatro estações consecutivas sem chuvas, pode ser ainda pior, de acordo com a ONU.