Um dia de António Costa na rentrée socialista, duas intervenções e a mesma “pancada”. Se ao fim da tarde tinha dito que ia resistir a aumentar muito as pensões mesmo com toda a “pancada” da oposição, à noite avisou os socialistas que, com a maioria, “leva-se pancada de todos os lados”. E deixou um verdadeiro manual de instruções para a maioria absoluta conquistada em janeiro.
De pancada em pancada, o socialista foi passando a mesma mensagem dos “nervos de aço” perante a adversidade da inflação que já tinha pedido no mercado de Sant’Ana aos socialistas. Mas no jantar com os deputados, também em Leiria, foi dando outras dicas para o ano parlamentar que se inicia agora em setembro.
Costa contra-ataca oposição e diz que “por mais pancada” que leve não põe em causa Segurança Social
Regra um: dialogar
Esta é fácil e já ouvida na noite eleitoral, quando o líder socialista tinha acabado de conquistar a maioria disse de imediato que “maioria absoluta não é poder absoluto”. Neste jantar com os deputados recordou esse momento para dizer que é importante o PS “manter-se aberto ao diálogo, mas sem trair a vontade dos portugueses”, que deram a maioria ao PS.
A Assembleia da República não é só o PS e o PS, é todos os outros, por isso devemos ser uma maioria de diálogo”
Ali, em Leiria, fez precisamente as contas a essa maioria, afinal aquele é o distrito que o PS ganhou pela primeira vez nestas legislativas. “Já não há, em Portugal continental, nenhum círculo onde o PS não tenha ganho pelo menos uma eleição”, conclui Costa. E até se mostrou otimista para além do continente (Madeira), embora sem grande reação da sala. Foi nesse momento que brincou com o facto de ali não existirem otimistas: “Se têm duvidas se é melhor ser otimista ou pessimista, não tenham dúvidas que ser otimista dá mais saúde”.
Regra dois: há limites para o diálogo
Não disse quais, mas deixou claro que o diálogo não é um fim em si mesmo. Essa pode ser a prioridade do PS, mas não em todas as situações.
“Somos uma maioria de diálogo, mas não somos uma maioria envergonhada e devemos assumir a maioria quando ela é necessária exercer e quando o diálogo não é possível”, afirmou. E isto porque a maioria, disse, “traz uma responsabilidade acrescida com os que votaram no PS”.
Regra três: ter cuidado com as uniões
O jantar da noite foi numa quinta de casamentos, com o PS a fazer desaparecer todos os traços dessa outra vertente da sala. Costa fê-los desaparecer do seu discurso.
Os tempos da geringonça e das uniões à esquerda já lá vão e não parecem deixar saudades no primeiro-minsitro. Costa garantiu aos deputados que chegam de fresco que “é muito melhor ter maioria absoluta do que não ter maioria absoluta.” É tempo que deixou para trás.
Quanto a outras uniões, não que as descarte. Mas num casamento maior, com pompa e tudo o que ele traz associado, é coisa que continua a não querer. A dada altura da sua curta intervenção voltou atrás no tempo para sublinhar às suas razões para nunca ter defendido um Bloco Central: “É importante que os portugueses tenham uma alternativa ao PS”.
Regra quatro: preparar para todos os embates
A palavra do dia não foi dita, mas a intenção foi deixada: resistir. Resistir às investidas da oposição que Costa avisa que em tempos de maioria é sempre mais violenta.
A palavra pancada acabou por lhe servir aqui como já lhe tinha servido no discurso da tarde. Voltou a ela para avisar mais uma vez os deputados menos habituados a um grupo parlamentar com maioria absoluta. “Leva-se pancada de todos os lados.”