Não é todos os dias que a Pagani Automobili tem uma novidade para mostrar ao mundo. Por isso, não é de estranhar a pompa e circunstância que marcou a revelação do terceiro modelo do construtor italiano. O Pagani Utopia, de que só serão produzidas 99 unidades, fez a sua primeira aparição pública na Sala del Cenacolo do Museu Nacional de Ciência e Tecnologia, no centro de Milão. Um cenário só por si impressionante, ou não estivesse o novo supercarro rodeado de desenhos originais de Leonardo de Vinci. É que à semelhança do artista italiano, segundo a marca, também a Pagani é norteada pelo desejo de combinar arte e ciência nas suas criações. O resultado disso não é um sonho, é o novo Utopia, um supercarro concebido do zero para ser lindo, exclusivo, terrivelmente eficaz e… pouco acessível.

Tal como o Zonda e o Huayra, as anteriores criações da marca fundada em 1992 por Horacio Pagani, o Utopia é um superdesportivo de dois lugares que recorre a um motor fornecido pela Mercedes-AMG, desenvolvido propositadamente para a Pagani em três protótipos, durante dois anos. Trata-se de um V12 a 60º, com 6,0 litros de cilindrada e biturbo, que se encontra montado em posição central traseira, para passar às rodas posteriores nada menos que 864 cv às 6000 rpm, entregando um binário máximo de 1100 Nm logo desde as 2800 rpm, até às 5900 rpm. E pode subir de regime até às 6700 rpm, cortesia de um novo sistema de válvulas. Com somente 262 kg (a seco), este bloco representa 20,4% do peso a seco do Utopia, que aponta o indicador da balança aos 1280 kg. Trata-se de um valor digno de respeito, considerando o simples facto de reputados construtores de superdesportivos, como a Ferrari e a Lamborghini, também italianos, não conseguirem fazer melhor. O 812 Competizione, coupé que monta um V12 de 6,5 litros com 829 cv, pesa 1667 kg. Em iguais condições, mas com 770 cv, o Aventador SVJ pesa 1690 kg.

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A leveza do Pagani radica, essencialmente, na escolha dos materiais: chassi monocoque em fibra de carbono entrelaçada com fios de titânio e Carbo-Triax HP62, um composto à base de carbono, sendo os subchassis (dianteiro e traseiro) em liga de aço cromo molibdénio, garantindo-se assim uma rigidez torcional melhorada (+10,5% face aos anteriores Pagani). Quanto às ligações ao solo, destaque para a suspensão independente em ambos os eixos, em liga de alumínio forjado. De duplos triângulos sobrepostos, conta com molas helicoidais e amortecedores controlados electronicamente, com regulações predefinidas. Também as jantes são forjadas em alumínio, mas de diferente diâmetro. À frente de 21” e atrás de 22”, pelo que estão revestidas por pneus Pirelli PZero Corsa específicos, respectivamente 265/35 R21 e 325/30 R22. Porém, a baixas temperaturas é recomendado o uso de outros pneumáticos, os Pirelli SottoZero, ideais para o Inverno. A fazer a passagem da potência às rodas, encontramos sempre uma caixa com o selo dos especialistas da Xtrac, podendo a transmissão ficar a cargo de uma caixa robotizada de sete velocidades ou, para os mais “conservadores”, uma caixa manual, com diferencial electromecânico.

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Apesar de as prestações do Utopia ainda não terem sido reveladas, será tranquilizador para os 99 proprietários saberem que, na hora de puxar o freio, os 864 cv serão devidamente domados por um sistema de travagem Brembo, com discos carbocerâmicos ventilados de 410 mm de diâmetro no eixo da frente e 390 mm atrás, sendo os dianteiros actuados por pinças de seis pistões e os traseiros por pinças de quatro.

A aerodinâmica tem igualmente uma palavra determinante neste Utopia, com a marca a gabar-se de ter alcançado um equilíbrio de 46-54%. Isso graças a uma série de expedientes, como o splitter frontal e o extractor traseiro, que incrementam a downforce. Depois, há ainda condutas integradas na carroçaria e sob o chassi que se encarregam de canalizar o ar e sistemas de refrigeração do motor e dos travões, para maximizar o desempenho em condições de utilização intensiva. Por fim, mas não menos importante, nota para as asas móveis na traseira, que ajustam o ângulo em função das condições de circulação, assegurando uma estabilidade a toda a prova.

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Quanto ao interior, diz-se inspirado nas décadas de 50 e 60 do século passado. Ou seja, conte apenas e só com o luxo essencial – já Leonardo de Vinci dizia que “a simplicidade é a máxima sofisticação.” Daí que o ecrã central tenha desaparecido, com o único display a bordo a ser o que se encontra à frente do condutor. Não é muito grande, ao contrário daquilo que vem sendo a tendência e, para enfatizar a ligação ao passado, está envolvido por mostradores analógicos. Ao centro do tablier, onde habitualmente os modelos mais recentes “encaixam” a central multimédia, encontram-se quatro mostradores circulares a exibir informações úteis, como a pressão do turbo, a pressão do óleo e a temperatura do óleo e da água. Num habitáculo em que o elementar está na ponta dos dedos, também a regulação do ar condicionado é comandada manualmente. O que combina, sem dúvida, com o desenho rétro da alavanca da caixa.

E quanto é que vale tudo isto? Nada menos que 2,5 milhões, segundo a Car and Driver, quantia esta que tenderá a subir à medida que os donos do Pagani Utopia solicitem extras e personalizações, como se este superdesportivo se tratasse de um fato à medida. E, aparentemente, isso condiz com a típica clientela da marca, na medida em que as 99 unidades que serão produzidas já estão todas vendidas… E isso não é utopia, é o sonho de qualquer marca.