Na pastelaria portuguesa em frente do castelo de Cardiff esta sexta-feira “mais parecia um sábado”, com centenas de pastéis de nata vendidos às muitas pessoas que foram saudar o novo Rei inglês na sua primeira visita ao País de Gales.
Carlos III passou parte da visita no castelo de Cardiff em audiências, e várias centenas de pesssoas aguardaram horas para o ver entrar e sair do local, ainda que de carro.
No entretanto, descobriram a pastelaria portuguesa “Nata&Co”, mesmo em frente da porta de saída e entrada do recinto do castelo, e o movimento no estabelecimento “parecia um sábado”, disse à Lusa uma das gerentes do espaço, Paola Ferreira.
O normal, num dia útil, é venderem-se cerca de 300 pastéis de nata nesta pastelaria, enquanto ao fim de semana as vendas sobem para entre 400 a 500 por dia.
Além dos pastéis de nata, o que mais se vende é café, mas também sai, à hora do almoço, o bacalhau à brás ou o arroz de pato. A generalidade dos produtos são portugueses, os nomes estão indicados em português e inglês e a decoração, moderna, invoca Lisboa, Fernando Pessoa e outras referências de Portugal.
Em Cardiff, há duas “Nata&Co”, mas não são os únicos estabelecimentos portugueses no centro da capital do País de Gales, onde reside uma comunidade portuguesa e de outros países lusófonos, como o Brasil e Angola, que são clientes habituais destes espaços, a par de clientes galeses e muitos turistas, segundo explicam à Lusa os funcionários, todos portugueses, da pastelearia em frente do castelo.
A comunidade portuguesa do Reino Unido é a segunda maior da Europa e também uma das mais diversas de toda a diáspora.
Formada por cerca de 400 mil pessoas, de acordo com os dados do Sistema de Registo de cidadãos da União Europeia, mais de metade chegou depois de 2010, em grande parte resultado da vaga de emigração causada pela crise financeira da dívida soberana.
O fluxo desacelerou bastante depois do referendo que ditou o ‘Brexit’, em 2016, e quase estancou desde 2020 devido às limitações de circulação durante a pandemia covid-19 e após a entrada em vigor, em 2021, de novas regras mais rígidas para a imigração.
A maior parte da diáspora portuguesa no Reino Unido está concentrada na área metropolitana de Londres, cerca de 40%, e a restante está dispersa pelo resto do país, com alguns focos na região de Anglia (costa este de Inglaterra), Ilhas do Canal (Jersey e Guernsey), Leicester, Manchester, Birmingham, País de Gales, Irlanda do Norte e Escócia.
Inicialmente dominada por madeirenses que se mudaram para o Reino Unido para trabalhar no setor dos serviços, como turismo e restauração, a comunidade é atualmente mais variada em termos de naturalidade e de dispersão geográfica pelo país.
Com base nas inscrições consulares, 40% dos emigrantes portugueses no país nasceram em Portugal e 17-18% são lusodescendentes, ou seja, nascidos no Reino Unido, adiantou à Agência Lusa a cônsul-geral em Londres, Cristina Pucarinho, em junho passado.
No entanto, quase um quarto do total, entre 24-25%, são naturais de países lusófonos, como Brasil, Angola ou Timor-Leste, e 18%, nasceram na Ásia, essencialmente na Índia.
“Um fenómeno mais recente são os portugueses da Venezuela de origem madeirense, que têm aqui familiares e amigos e que transitam pela Madeira, mas acabam por se fixar no Reino Unido”, revelou a cônsul.
Paola Ferreira, a gerente da “Nata&Co.” em frente do castelo de Cardiff, é um exemplo desta realidade: é madeirense nascida na Venezuela e está no Reino Unido há cinco anos, conta à Lusa.
Ao lado, uma colega desculpa-se pelo português não ser perfeito, mas nasceu na África do Sul, país onde viveu antes de uma passagem pela Madeira até ao desembarque no Reino Unido, há sete anos.
Existem mais duas pastelarias da marca no Reino Unido, em Bristol e Bath, mas na última que abriu, explica Paola Ferreira, os funcionários já não são todos portugueses porque com o Brexit muitos optaram por deixar a Grã-Bretanha.