Esperar para ver — estará esta a ser a estratégia posta em prática pela Amazon para o contexto mais desafiante que se vive hoje em dia. De acordo com o jornal espanhol El Confidencial, a gigante de comércio eletrónico terá decidido suspender a construção de novos armazéns e centros logísticos em Espanha.

Conforme escreve o jornal espanhol, os planos terão sido suspensos por dois anos, adiando decisões para 2024. A informação foi apurada junto de fontes não identificadas da empresa.

Com esta pausa, a companhia estará a tentar perceber como é que evoluem as compras eletrónicas. Durante o primeiro ano da pandemia, coincidente com confinamentos mais rígidos um pouco por todo o mundo, as vendas da empresa subiram significativamente. Só em 2020, a empresa atingiu lucros de 21,3 mil milhões de dólares (20,1 mil milhões de euros), um disparo de 83,6% face aos lucros do ano anterior; no ano passado, em 2021, os números eram ainda mais expressivos, cifrando-se em 33,4 mil milhões de dólares (31,6 mil milhões de euros), um salto de 56,8% entre os dois anos.

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Ao longo dos últimos meses, com o aligeirar das principais restrições da pandemia e um regresso aos hábitos de consumo pré-pandemia, as vendas da empresa têm sofrido alterações que são já bastante visíveis nas contas. No primeiro trimestre deste ano, a empresa apresentou o primeiro prejuízo trimestral, o primeiro desde 2015, na ordem de 3,8 mil milhões de dólares. No segundo trimestre, cujos resultados foram apresentados no final de julho, a empresa anunciou o segundo trimestre de prejuízo consecutivo, de 5,9 mil milhões de dólares.

Mas não é só a alteração de hábitos dos clientes que está a pesar nas contas da companhia. Andy Jassy, o CEO da Amazon, notou que a empresa está também a enfrentar as “contínuas pressões inflacionárias de combustível, energia e custos de transportes” e o cenário de guerra na Ucrânia. Fruto destas pressões, a empresa introduziu uma taxa extra aos vendedores nos Estados Unidos que usem o serviço de logística da empresa. Algum tempo depois, avançou para uma subida de preços da subscrição do Amazon Prime no mercado europeu, o serviço que permite ter entregas gratuitas de um dia para o outro e acesso ao serviço de streaming da companhia.

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À Reuters, a Amazon comentou apenas que mantém o compromisso com o mercado espanhol. “O nosso compromisso com Espanha continua”. “Em 2022, abrimos novas estações de logística, ‘hubs’ da Amazon Fresh [serviço de entregas de compras de supermercado] e um centro logístico”, acrescentou a empresa.

Em junho, a empresa anunciou que pretende ter este ano mais 2 mil trabalhadores em Espanha, elevando o número de funcionários no país vizinho para 20 mil.

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O contexto económico e a desvalorização de ações da empresa (até este ponto do tombam 27,51%) até já fizeram com que o criador da companhia e ex-CEO, Jeff Bezos, tenha sido ultrapassado na lista dos mais ricos do mundo. Bezos, até aqui o segundo homem mais rico do mundo, foi ultrapassado pelo indiano Gautam Adani, caindo para o terceiro lugar. A fortuna de Bezos está muito ligada à variação das ações da Amazon, onde tem uma participação de cerca de 10%. As ações de Bezos valem cerca de 123 mil milhões de dólares, de acordo com os dados do Bloomberg Billionaires Index; no total, a fortuna estimada de Bezos ronda os 147 mil milhões de dólares, tendo já encolhido este ano quase 24%, com menos 45,5 mil milhões de dólares.

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