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Andy Jassy assumiu há um ano a liderança da Amazon, sucedendo a Jeff Bezos, o fundador da companhia.
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Andy Jassy assumiu há um ano a liderança da Amazon, sucedendo a Jeff Bezos, o fundador da companhia.

Andy Jassy assumiu há um ano a liderança da Amazon, sucedendo a Jeff Bezos, o fundador da companhia.

Um ano depois, como é a Amazon liderada por Andy Jassy? Gigante navega as águas agitadas do pós-pandemia e da inflação

Andy Jassy caminha para a marca de um ano ao comando da Amazon. Assumiu a pasta num (ainda) período áureo de resultados, mas agora enfrenta um dos períodos mais desafiantes da história da empresa.

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Há um ano, as chaves do “reino” Amazon mudaram de dono. Jeff Bezos abandonou a liderança da empresa que fundou em 1994 e que se tornaria numa das tecnológicas mais valiosas do mundo. Coube a Andy Jassy, até então à frente da empresa de infraestrutura cloud Amazon Web Services, um dos motores das receitas da Amazon, receber o testemunho e suceder ao fundador da empresa.

Passado quase um ano – Andy Jassy assumiu oficialmente o cargo de CEO a 5 de julho de 2021 – o executivo norte-americano tem agora desafios diferentes daqueles que eram inicialmente antecipados. Se o regresso dos clientes da Amazon aos hábitos pré-pandemia, consequentemente abrandando o ritmo de compras online, já começava a ganhar contornos de desafio para o negócio em 2021, o tempo acabaria mesmo por dar razão a esta questão. E a essa normalização de hábitos, juntaram-se outros desafios: a escalada da inflação e o regresso de uma guerra à Europa, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de fevereiro.

É o próprio CEO a reconhecer que “a pandemia e a guerra na Ucrânia trouxeram um crescimento invulgar e desafios”, disse Jassy no habitual comentário aos resultados trimestrais da companhia, no final de abril. Os resultados dos três primeiros meses de 2022 confirmaram o cenário desafiante que a empresa enfrenta. Se os últimos anos de Jeff Bezos à frente da Amazon foram marcados por uma acelerada expansão (e lucros generosos) o primeiro ano de Jassy na liderança é até agora visto como um pé no travão, com ações bem mais cautelosas do que o antecessor.

Andy Jassy. Quem é o homem que substituiu Jeff Bezos na liderança da Amazon?

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Os resultados apontaram nesse sentido. Pela primeira vez desde 2015, a Amazon revelou um prejuízo trimestral, na ordem de 3,8 mil milhões de dólares (3,6 mil milhões de euros). A companhia revelou na altura que este prejuízo incluía já a desvalorização de 7,6 mil milhões de dólares do investimento que fez em 2019 na fabricante de veículos elétricos Rivian. Ao investimento está associada uma parceria estratégica entre as duas companhias, já que a Amazon pretende utilizar veículos da Rivian na sua frota de entregas.

Este registo “a vermelho” da Amazon no primeiro trimestre contrasta com os lucros de 8,1 mil milhões de dólares (7,67 mil milhões de euros) que a empresa tinha registado no primeiro trimestre de 2021, ainda com confinamentos e medidas mais restritivas para conter a pandemia de Covid-19 em vários países.

No primeiro trimestre do ano, as vendas totais até superaram os valores do trimestre homólogo, passando de 108,5 mil milhões de dólares para 116,4 mil milhões, um crescimento acima de 7%, mas as despesas operacionais totais da empresa aumentaram neste período, passando dos 99,7 mil milhões de dólares no primeiro trimestre de 2021 para 112,8 mil milhões no mesmo período deste ano – um crescimento de 13%.

Quando Jassy, um veterano com mais de duas décadas na Amazon, assumiu o cargo, o cenário era diferente, com a empresa ainda a tirar partido da expansão do comércio eletrónico. Se uma pandemia à escala global deixou muitas empresas sem chão, a conversa foi outra para a Amazon, que foi até uma das vencedoras da pandemia, a par de outras companheiras do mundo da tecnologia. Com o mundo fechado e confinamentos em vários países, na tentativa de reduzir o número de contágios, milhões de pessoas passaram os dias em casa – e a Amazon foi a resposta para muitas das necessidades de compra.

Com até os mais resistentes a virarem-se para o comércio eletrónico, a tecnológica norte-americana soube navegar essa onda – e os resultados saltaram à vista. Só em 2020, a empresa atingiu lucros de 21,3 mil milhões de dólares (20,1 mil milhões de euros), um disparo de 83,6% face aos lucros do ano anterior; em 2021, os números eram ainda mais expressivos, cifrando-se em 33,4 mil milhões de dólares (31,6 mil milhões de euros), um salto de 56,8% entre os dois anos.

Em julho, quando assumiu oficialmente as funções de CEO, a Amazon ainda estava a beneficiar do entusiasmo com o comércio eletrónico. Mas, embora a pandemia não esteja ainda ultrapassada, fatores como o regresso dos consumidores às lojas físicas, na chamada normalização de hábitos do pré-pandemia, começava já a ter algum reflexo no negócio principal da Amazon.

"Passámos os primeiros 25 anos da Amazon a criar uma grande rede de resposta e tivemos de duplicá-la nos últimos 24 meses para responder à procura dos clientes."
Andy Jassy, CEO da Amazon, na carta aos acionistas.

A pressão trazida pela área da logística

O tema dos desafios já é visível naquela que foi a primeira carta de Andy Jassy aos acionistas, datada de abril de 2022, para comentar os resultados anuais da companhia. “2021 foi um ano imprevisível, continuando a tendência de 2020”, escrevia o CEO da companhia, onde também referia que, embora a empresa não soubesse o que esperar de 2021, “o facto de continuar a crescer com números a dois dígitos (…) era encorajador”.

O outro lado da “moeda” do crescimento também trazia “desafios de logística e custos a curto prazo”, contextualizava na altura. “Passámos os primeiros 25 anos da Amazon a criar uma grande rede de resposta e tivemos de duplicá-la nos últimos 24 meses para responder à procura dos clientes. Como estávamos a aumentar esta nova capacidade no online, o mercado de trabalho reduziu-se significativamente, tornando-se desafiante tanto para receber o inventário que os nossos fornecedores e vendedores nos queriam enviar, como para deixar o inventário tão perto quanto possível dos nossos clientes, como costumamos fazer.”

De acordo com o relatório anual de 2021, a empresa tinha 253 armazéns (“fulfillment centers”), 110 espaços de triagem de produtos e 467 estações de entregas só na América do Norte. No resto do globo, a Amazon tinha mais 157 armazéns, 58 centros de triagem de produtos e 588 estações de entrega. A rede de entregas cresceu nesse ano para mais de 260 mil condutores em todo o mundo e só a frota Amazon Air, de entregas aéreas, tinha no final de 2021 mais de cem aeronaves.

O CEO da Amazon referia na mesma missiva aos acionistas que a companhia esperava que o “principal impacto da Covid-19 recuasse à medida que 2021 terminava” – até surgir a variante ómicron, que gerou uma nova subida de casos e trocou as voltas à empresa. Já este ano, no final de fevereiro, “com a invasão da Rússia à Ucrânia, os custos dos combustíveis e a inflação tornaram-se questões maiores a serem enfrentadas”.

Pelo meio, Andy Jassy vê-se ainda a braços com a difícil tarefa de reduzir a expansão de lojas físicas feita pela companhia nos últimos anos, com promessas de se focar no negócio de supermercados. Só este ano já foi anunciado o encerramento de 68 lojas físicas, incluindo as livrarias Amazon Books e também as lojas pop-up nos EUA e Reino Unido. No fim de 2021, a empresa tinha 627 lojas na América do Norte e sete lojas internacionais. Na cadeia Whole Foods, controlada também pela Amazon, há notícia de pelo menos seis encerramentos de lojas nos EUA.

O “fantasma” da subida de custos e da inflação

Com o atual cenário de inflação, mais acelerado em alguns mercados do que noutros, e de aumento de custos devido à guerra, Andy Jassy tem pautado o seu discurso em público por garantias de que a empresa está focada em regressar a um “nível saudável de rentabilidade”. Pelo menos de acordo com as declarações que prestou durante a reunião anual com acionistas, em maio – a primeira ocasião em que esteve perante os acionistas da companhia.

Sobre o período desafiante que a tecnológica atravessa, o CEO salientou que a empresa “já baixou efetivamente a estrutura de custos antes” e que tem “elevada confiança de que vai conseguir voltar a entrar nos eixos depois destes dois anos incrivelmente invulgares”. Só o tempo o poderá dizer, mas a empresa começa já a adotar algumas estratégias para enfrentar este contexto desafiante.

Taxa de inflação da zona euro com novo máximo de 8,6% em junho

Uma delas foi a criação de uma taxa adicional de 5% de “combustível e inflação”, imposta aos vendedores que usem os serviços de logística e armazenamento da Amazon, com o intuito de compensar o aumento de custos. Esta taxa, que vai ser aplicada tanto a artigos de vestuário como a outros bens, foi apresentada pela Amazon no final de abril, com a tecnológica a deixar a porta aberta a mudanças na taxa.

Western Digital CIO Steven Phillpott (left) speaks with CEO Andy Jassy (middle) and VMware CEO Parick P. Gelsinger (right) during a press conference announcing  Amazon's cloud service, AWS, partnering with VMware Cloud creating a new integrated cloud serv

Andy Jassy, ao centro.

San Francisco Chronicle via Gett

A comunicação da Amazon referiu ainda que esta subida de custos já não era de agora. A empresa tentou absorver os custos sempre que possível, mas o cenário mudou com o arrastar da pandemia e o surgimento da guerra na Ucrânia. Em entrevista à CNBC, a propósito desta nova taxa, Andy Jassy dizia que “até certo ponto, deixa de ser possível continuar a absorver todos esses custos e a gerir um negócio que é económico”. Ainda assim, Jassy sublinhou que a empresa “tem muita consciência de que os vendedores também têm custos”, referindo que pretendem “olhar para a forma como os custos evoluem e revisitar” o tema.

Este contexto desafiante começa também a ter reflexo no desempenho das ações da Amazon em bolsa. Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, nota ao Observador que, até este ponto do ano, a Amazon enfrenta uma desvalorização na ordem de “40% desde junho passado”. As restantes big tech – Apple, Microsoft e Google – “apresentam um desempenho superior” ao da gigante de comércio eletrónico. “A Amazon começou mais cedo a abrandar os ganhos, nomeadamente depois do verão de 2020. Todavia, no restante grupo das FAANMG [que inclui também a Meta/Facebook e a Netflix], a Meta e a Netflix desvalorizam 55% e 68%, respetivamente.”

A queda das ações da Amazon em bolsa também está ligada a uma das consequências da inflação. “A alta das taxas de juro, para mitigar a subida da inflação, penaliza mais as empresas com lucros mais significativos no longo prazo, como as empresas tecnológicas”, contextualiza Paulo Rosa. “Com taxas de juro mais altas, a avaliação de uma empresa diminui quando se atualiza para o presente os lucros mais elevados num futuro mais longínquo, como é o caso das empresas tecnológicas. Por isso, o índice tecnológico Nasdaq 100 tem sido dos mais penalizados pelas perspetivas de alta dos juros e a Amazon não é exceção.”

Também Nevine Pollini, analista sénior de investimento do suíço Syz Bank, refere que o combate às pressões da inflação será certamente alvo de um “aumento de foco do CEO Andy Jassy”, especialmente numa altura em que muitos dos auxílios ao consumo nos EUA chegaram ao fim. “O principal desafio que a Amazon teve de enfrentar este ano foi o fim dos subsídios nos Estados Unidos e outras medidas de estímulo, assim como a reabertura pós-covid das economias, que levou muitos clientes a regressar às lojas físicas e levou a um abrandamento generalizado do crescimento do comércio eletrónico”.

“A alta das taxas de juro, para mitigar a subida da inflação, penaliza mais as empresas com lucros mais significativos no longo prazo, como as empresas tecnológicas."
Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa.

Mas, tal como Paulo Rosa, também a analista do Syz Bank nota a pressão trazida pela perspetiva da subida das taxas de juro. “Outro ponto de pressão é o facto de as ações ultra-valorizadas das tecnológicas estarem a receber recomendações em baixa devido à perspetiva de subida das taxas de juro, já que companhias de crescimento estão habitualmente muito dependentes de empréstimos para os seus planos de expansão”, vaticina. “Os investidores decidiram focar-se na rentabilidade e geração de dinheiro”, apostando na venda de ações que, consideram, “geram receitas mas não lucros, enquanto negociavam com valorizações extremamente altas”. “Os investidores venderam-nas, redirecionaram as suas preferências para aquilo que consideravam ‘tecnológicas seguras’, que se espera que mantenham empresas de crescimento a longo prazo”.

“Obviamente que a maioria dos investidores deitou o ‘bebé fora com a água do banho’, porque a Amazon deve ser considerada como uma ‘tecnológica segura’ devido à sua boa rentabilidade e geração de fluxo de caixa”, refere Nevine Pollini.

Ainda no tema da elevada inflação, a analista do Syz Bank refere que “é provável que ainda não esteja totalmente refletida nos números da Amazon e que provavelmente vai continuar a pressionar as margens”, mas não as receitas. “No entanto, caso a inflação global continue a um ritmo elevado, poderá criar uma recessão para os consumidores”, o que poderá refletir-se num abrandamento de compras de supermercado, eletrónica, vestuário e “afetar o crescimento das receitas da companhia”.

Uma saída de peso e as críticas à falta de diversidade nos executivos de topo

Quase a completar um ano a ocupar o cargo de CEO de uma poderosa tecnológica, aqui e ali vão sendo deixadas migalhas de informação sobre o tipo de gestão que Andy Jassy está a pôr em prática. Ao contrário de Jeff Bezos, que garantia aos seus executivos de topo relativa autonomia, Jassy estará a tentar replicar o modelo que implementou na AWS, através de uma presença mais diária nas operações e com uma gestão de “mão na massa”.

E, de acordo com o Wall Street Journal, que cita fontes internas da companhia, esta mudança de estilo de gestão não terá agradado a toda a gente. Junho, por exemplo, começou com um anúncio de uma saída de peso da everything store, como se autodefine a Amazon. Dave Clark, o executivo que ocupava o cargo de CEO da área de consumo global da empresa e um veterano da Amazon, com 23 anos de trabalho na companhia, anunciou a saída para “procurar novas oportunidades”.

Dave Clark, que chegou à Amazon em maio de 1999, apenas um dia depois de concluir um MBA em logística e transportes, na College of Business Administration, na Universidade de Tennessee – Knoxville, é o principal responsável pela máquina oleada que hoje é a logística da empresa. Em mais de duas décadas na Amazon, desenvolveu uma operação de entregas capaz de rivalizar com gigantes como a UPS ou a FedEx.

No anúncio de despedida, no qual partilhou o email que enviou aos empregados da Amazon para dar a notícia, Clark diz que “passou um tempo incrível na Amazon, mas que agora é tempo de voltar a criar outra vez”. “É isso que me motiva”, garantiu. O email recorda os primeiros anos da Amazon, quando “era uma pequena empresa com apenas seis centros de distribuição nesse ano [1999], mas a crescer depressa”. E Dave Clark recorda o que o levou até à Amazon: “Fui atraído pela oportunidade na Amazon pelas pessoas que conheci quando vim para Seattle [cidade onde está sediada a empresa]. Eram pessoas brilhantes – criadores com a intenção de mudar o mundo através do seu trabalho.”

Na prática, ao longo de mais duas décadas Clark foi escalando patamares na estrutura da empresa e conseguiu multiplicar o número de armazéns, principalmente no país de origem, os Estados Unidos. Além da multiplicação dos armazéns, Clark também concebeu uma estratégia em que, através de uma frota composta por aviões, camiões e carrinhas de entregas permitiu à Amazon fazer entregas cada vez mais rápidas.

Mas era tempo de partir. “No coração, sou um criador – é isso que me motiva”, explicava. “Por mais que tenha gostado desta viagem, é tempo de dizer adeus para começar uma nova aventura”, explicou nesse email aos trabalhadores, recordando que a decisão foi um processo discutido a nível familiar e também entre os amigos mais próximos. “Por mais que tenha gostado desta aventura, é tempo de dizer adeus e começar uma nova viagem.”

A despedida de Dave Clark da Amazon, que teve efeitos a 1 de julho, não esquecia ainda o tema da inflação, frisando que abandonava a tecnológica “com um plano sólido de vários anos para lutar contra os desafios da inflação que estão a ser vividos em 2022”.

Poucos dias depois do anúncio da saída de Clark, já era conhecido o próximo destino deste executivo: uma startup que alia a tecnologia à logística, chamada Flexport, onde Clark assumirá o cargo de CEO a partir de setembro. Do lado da Amazon também já é conhecido o substituto para ocupar uma das posições mais relevantes da empresa: Doug Herrington.

O executivo está há 17 anos na gigante de comércio eletrónico, depois de uma experiência na empresa de e-commerce de supermercados Webvan, já extinta. Em 2007 lançou a operação Amazon Fresh, dedicada às entregas de compras de supermercado, e tem liderado a unidade de consumo da América do Norte ao longo de sete anos.

As críticas à falta de diversidade entre os executivos

A saída de Dave Clark pode ser aquela que mais salta à vista, mas não será caso único. À nomeação do novo responsável para substituir Clark está ainda associada a saída de dois executivos negros, já com bastante experiência do negócio da empresa.

De acordo com a Reuters, estão de saída da estrutura da empresa Alicia Boler Davis, vice-presidente sénior da área de global customer fulfillment, e também Dave Bozeman, vice-presidente responsável pela área de transportes da empresa. Ambos os executivos reportavam diretamente a Dave Clark. A saída de Boler Davis é especialmente relevante, já que era a única executiva negra na equipa de elite que aconselha Andy Jassy. A saída foi justificada pela Amazon como uma tentativa de procurar “novas oportunidades”.

Alicia Boler Davis estudou engenharia e começou a carreira na General Motors, onde chegou ao cargo de vice-presidente executiva de indústria global. A executiva é reconhecida no mercado norte-americano como uma das mulheres mais poderosas do país, de acordo com o ranking da Forbes. Em 2018, tornou-se na sexta mulher a arrecadar o prémio Black Engineer of the Year. Em 2019, juntou-se à Amazon. Três anos depois, parte da tecnológica e já se sabe que irá assumir o cargo de CEO da Alto Pharmacy, a partir de setembro.

A Amazon é acusada de ter falta de diversidade nos seus cargos de topo. Depois da saída de Dave Clark, foi anunciada a saída de dois executivos negros, Alicia Boler Davis, vice-presidente senior da área de global customer fulfillment, e também Dave Bozeman, vice-presidente responsável pela área de transportes.

Já Dave Bozeman, que assumia responsabilidades na área de transportes da Amazon, estava na empresa desde fevereiro de 2017, depois de ter assumido funções de vice-presidente na Caterpillar. Antes disso passou ainda pela Harley Davidson Motor Company.

A saída destes dois executivos negros foi notícia pelo contexto da Amazon. Em tempos, a empresa tinha sido criticada por ter mais executivos de topo chamados Jeff do que mulheres ou minorias em cargos de liderança. No ano passado, por exemplo, a Amazon terá mesmo sido processada por um antigo gerente, que acusou a empresa de discriminação e assédio. Neste processo a tecnológica era acusada de contratar negros para papéis com menores responsabilidades e ainda de promoções mais lentas em comparação aos trabalhadores brancos. A Amazon negou estas acusações, referindo que “não refletiam os esforços ou valores” da empresa. Certo é que, em abril do ano passado, a companhia veio a público prometer a duplicação do número de funcionários negros em papéis de liderança sénior e o aumento das contratações de negros em 30%.

De acordo com dados da altura, 3,8% dos cargos de liderança da Amazon nos Estados Unidos eram ocupados por executivos negros. As mulheres representavam em 2020 menos de um terço dos executivos da empresa nos EUA — em cargos de liderança sénior a percentagem era ainda mais baixa, de 22,8%.

A atribulada relação com os trabalhadores – que em breve podem não ser suficientes

Devido ao pico de encomendas trazido pela pandemia de Covid-19, a Amazon intensificou consideravelmente o número de trabalhadores, especialmente no mercado norte-americano. De acordo com a informação comunicada pela Amazon ao mercado, nos resultados do primeiro trimestre deste ano, empregava 1,622 milhões de pessoas, um crescimento homólogo de 28%. E este número diz respeito apenas aos trabalhadores a tempo inteiro e parcial, tirando da equação todos os trabalhadores temporários e contratados a empresas terceiras.

O ritmo de crescimento foi mais intenso ao longo do último trimestre de 2020 (crescimento homólogo de 63%), baixando para 51% e 52% ao longo do primeiro e segundo trimestres de 2021. A partir do terceiro trimestre de 2021, já coincidente com a normalização de hábitos dos consumidores devido à reabertura das economias e ao aligeirar das restrições ligadas à Covid-19, o ritmo de contratações baixou para 30% e 24% nos restantes trimestres de 2021.

Amazon's Italian Fulfillment Centre Prepares For Black Friday

Um dos centros da Amazon, em Itália.

Emanuele Cremaschi/Getty Images

Mas fica um número redondo, relatado pelo Wall Street Journal: em 27 meses, coincidentes com a pandemia, a Amazon contratou quase tantos empregados quanto toda a força de trabalho de gigantes como a UPS ou a Costco. No ano passado, um em cada 153 trabalhadores nos Estados Unidos trabalhava na Amazon.

No entanto, a relação da Amazon com os trabalhadores, especialmente nos armazéns e centros de logística, tem sido conturbada. Já em várias ocasiões vieram a público as queixas de alegadas más condições de trabalho nos armazéns, com trabalhadores exaustos e com um reduzido número de pausas. Além disso, também são conhecidas as batalhas entre a empresa e os sindicatos de trabalhadores. Em junho deste ano, por exemplo, o Washington Post relatava que a Amazon tinha chamado as forças de autoridade e até feito despedimentos para tentar fazer desaparecer as tentativas de sindicalização dos trabalhadores de Staten Island, em Nova Iorque. Este foi o primeiro armazém da Amazon onde os trabalhadores se uniram para formar um sindicato.

O Amazon Labor Union, o recém-formado sindicato de trabalhadores da Amazon, até já chegou à Casa Branca e viu os seus líderes, Derrick Palmer and Chris Smalls, conquistar até um lugar na lista das 100 pessoas mais influentes da revista Time, num perfil assinado pelo democrata Bernie Sanders. O norte-americano é não só um crítico de grandes empresas, como também já fez declarações públicas onde critica as condições de trabalho na Amazon.

As disputas entre os líderes da Amazon e os trabalhadores não são um exclusivo do mandato de Andy Jassy – as queixas já vêm do tempo de Jeff Bezos, em calorosas discussões sobre o segundo homem mais rico do mundo não pagar o suficiente aos empregados.

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Se a Amazon tem agora um elevado número de trabalhadores, mesmo com relações conturbadas, existe a possibilidade de daqui a alguns anos o cenário ser diferente. De acordo com um memorando interno da companhia, que chegou às mãos do Recode, existe a forte possibilidade de em 2024 a companhia já não ter pessoas suficientes para trabalhar nos armazéns.

O memorando remete para uma pesquisa interna, datada de 2021, em que era referido que a crise laboral poderia afetar a empresa. E, nesse sentido, a principal sugestão para conseguir atrair mais pessoas para a Amazon passava justamente pelo aumento de salários. Ao Engadget, fonte da companhia avançou que o memorando que chegou à imprensa não era “preciso” relativamente às questões de contratação. “Há muitos documentos de rascunho que são escritos sobre vários temas na companhia que são usados para testes e análise a diferentes possíveis cenários, mas que não são usados para tomar decisões. Este foi um desses casos. Não representa a atual situação”, comentava na altura Rena Lunak, responsável de operações globais e comunicação da empresa.

Embora a Amazon seja conhecida por estar a apostar em robôs para enfrentar as encomendas – em 2012 comprou mesmo a empresa de robótica Kiva Systems, por 775 milhões de dólares – uma investigação da Wired revelou no ano passado que os sistemas não conseguiam acompanhar tarefas mais complexas dos armazéns.

Ainda na área da automatização, a tecnológica tem vindo a apostar no mundo dos drones e dos pequenos robôs para acelerar na área de entregas, com vários testes em curso.

Pode a AWS tornar-se mais valiosa do que a casa-mãe?

A proximidade conhecida entre Andy Jassy, um executivo que tem pouca experiência laboral fora da Amazon, e Jeff Bezos terá resultado na ideia para uma nova área de negócio, a Amazon Web Services (AWS). Os primeiros esboços desta companhia, que opera na área de serviços de infraestrutura cloud, terão sido feitos em 2003, mas a empresa só foi lançada três anos depois, em 2006. Na altura, explorou a oportunidade que estava a surgir no segmento da computação cloud (virtual). Hoje em dia, é um motor das receitas da Amazon.

Até há um ano, Andy Jassy era o CEO desta unidade de negócio da Amazon. Embora seja uma operação menos visível para o consumidor final, é esta empresa que assegura diversos serviços na internet, tendo como clientes gigantes como a Netflix ou as plataformas Slack e Zoom. Segundo os dados da Statista, no quarto trimestre de 2021 a AWS era a líder de mercado entre as fornecedoras de infraestrutura cloud, com uma quota de 33%. A segunda posição era ocupada pela Azure, da Microsoft, com 21% do mercado, e a terceira pela Google Cloud (10%).

Com a passagem dos anos, tornou-se cada vez mais clara a importância desta unidade de negócio para a Amazon. Em 2020, a AWS gerou 45,3 mil milhões de dólares em receitas, uma subida de 30% face a 2019. Um ano depois, o montante de receitas elevou-se para 62,2 mil milhões de dólares, mais 37% do que no ano anterior. E, de acordo com os dados mais recentes sobre a operação da unidade de computação cloud, nos três primeiros meses deste ano foram registados 18,4 mil milhões de dólares de receitas, mais do que os 13,5 mil milhões do mesmo período do ano passado.

Embora as despesas operacionais da AWS tenham aumentado quase 28% de um ano para o outro, a empresa conseguiu aumentar os lucros em 54,8% em termos homólogos, atingindo os 6,5 mil milhões. Ou seja, enquanto o negócio principal da Amazon, de comércio eletrónico, recuou, tanto no mercado norte-americano como a nível internacional, ambos com apresentação de prejuízo, a AWS conseguiu prosperar.

Assim, Alex Haissl, analista da Redburn, partilha numa nota citada pela agência Bloomberg que a AWS está num “caminho claro” para chegar à marca de um bilião de dólares de valor – o equivalente a um trillion na terminologia anglo-saxónica. Ou seja, na visão deste analista, a unidade de cloud poderá mesmo tornar-se mais valiosa do que a Amazon, que vale atualmente cerca de 1,11 biliões de dólares em bolsa.

Embora nesta nota não seja mencionado quando é que a AWS pode chegar a este valor, o analista salienta que a unidade cloud está a tornar-se tão poderosa que poderia ser vantajoso até autonomizar a gigante de comércio eletrónico. “Separar a AWS pode não estar em cima da mesa agora, mas caso o ‘gap’ de desempenho versus as partes não AWS continue a crescer, poderá acontecer mais à frente”, antecipa este analista. A nota deste analista, que é citada pela Bloomberg, recorda que “não há como dourar a pílula do fraco desempenho do negócio principal” da Amazon.

No entanto, a opinião deste analista da Redburn não é consensual. Anurag Rana, analista da unidade Bloomberg Intelligence, estima que o valor da AWS esteja algures entre 1,5 e dois biliões de dólares, mas defende que há outros concorrentes numa posição mais vantajosa para chegar à marca dos três biliões. “A Microsoft poderá estar melhor posicionada do que a Amazon Web Services ou a Google com as empresas a acelerar a sua mudança para um modelo de cloud híbrida, tendo em conta a pegada forte na área de infraestrutura de tecnologias de informação ‘on-premise’.”

O mesmo analista vai mais longe, lançando ainda dúvidas sobre a probabilidade de a AWS se separar da Amazon. “É muito pouco provável que a Amazon venha a fazer um ‘spin-off’ da sua unidade de segmento cloud, já que esta é a fonte de muitos dos fundos para as outras unidades de negócio da empresa”, diz Anurag Rana.

O Prime Day ainda é o motor de receitas que era?

O Prime Day, o evento anual em que a Amazon promete generosos descontos nas compras online, começou em 2015, como forma de a tecnológica conseguir “animar” os meses mais parados de verão. Com mais pessoas a viajar e de férias, eram meses tradicionalmente mais calmos de vendas. A inspiração da Amazon para este dia de compras é clara, com origem no Oriente e no fenómeno de compras que é o Dia dos Solteiros para a gigante de comércio eletrónica chinesa Alibaba.

Se o nome aponta para um único dia de descontos, que estão acessíveis apenas aos subscritores do serviço Prime, na verdade a Amazon tenta agora prolongar o efeito – a edição deste ano, já marcada para 12 e 13 de julho, estende-se ao longo de dois dias. Segundo os dados divulgados pelo Wall Street Journal, que cita estimativas da consultora Insider Intelligence, só as vendas do Prime Day nos Estados Unidos poderão atingir 7,76 mil milhões de dólares. A confirmar-se, seria uma subida de 17% face aos números do ano anterior.

Mas, ainda de acordo com estes números citados pelo WSJ, a empresa poderá ter os clientes a fazer compras mais pequenas. Pelo menos se se confirmar a tendência que tem sido visível ao longo dos últimos dois anos: em 2020, o valor médio de uma compra rondava os 58,77 dólares; no ano passado, já estava uns furos abaixo, numa média de 54,15 dólares.

Cancelar serviço de subscrição do Amazon Prime vai ser mais fácil

A empresa não divulga concretamente os valores atingidos nas vendas do Prime Day, que nos últimos dois anos tem viajado pelo calendário, sem uma data definida. Em 2021, o dia de compras foi feito a 21 e 22 de junho; no ano anterior resvalou para 13 e 14 de outubro.

Do lado da empresa surge a indicação de que continua a investir no evento, principalmente para fazê-lo chegar a um maior número de países. Mas o WSJ nota que os produtos em promoção, de acordo com as empresas de análises de mercado, estão mais limitados aos próprios equipamentos da Amazon, que têm entre as colunas inteligentes Echo e nos leitores de e-book Kindle, os nomes mais reconhecidos. A Adobe Analytics, também citada pelo WSJ, nota que, embora a Amazon esteja a tentar criar a sua Black Friday de verão, as promoções esperadas para este momento deverão ficar aquém dos descontos visíveis na Black Friday ou na Cyber Monday.

Ainda assim, apesar de todos estes fatores, é expectável que o Prime Day continue a ser uma oportunidade de animar os resultados da Amazon neste terceiro trimestre.

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