As escalas do serviço de urgência de obstetrícia do Hospital de São João, no Porto, estão a ser asseguradas por médicos internos que não têm ainda formação suficiente, desrespeitando as regras impostas pelo colégio da especialidade, da Ordem dos Médicos. De acordo com o Jornal de Notícias, contam-se mais de 20 irregularidades nas escalas deste mês de setembro e que são agora denunciadas pelo Sindicato Independente dos Médicos.

“A segurança clínica não é a mesma com médicos internos”, diz Miguel Guimarães sobre escalas com incumprimento no São João

Neste serviço, as regras indicam que devem estar presentes, pelo menos, quatro especialistas. E, caso seja necessária a substituição de um especialista, as regras são também claras: o quarto médico obstetra pode ser substituído por um interno do segundo ao sexto ano e o terceiro especialista pode ser substituído por um médico em formação do quinto ou sexto ano.

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Especialista defende formação de internos para evitar fechos de urgências

No entanto, não é esta a realidade que se encontra no São João. Entre os 22 turnos previstos para este mês, 13 estão a ser assegurados por internos do primeiro ano, que estão em substituição do quarto especialista. Neste caso, o médico obstetra só poderia ser substituído por um interno do segundo ao sexto ano. E mais: nove turnos estão a ser feitos por interno do quarto ano, que estão a ocupar o lugar do terceiro especialista.

“Uma vez que algumas equipas têm internos de 4º ano como terceiro elemento e de 1º ano como quarto elemento, haverá um especialista que poderá dar apoio, caso o chefe de equipa ache necessário”, lê-se num documento do hospital sobre a escala e que reconhece o problema. O São João é, aliás, o hospital cujo diretor é Fernando Araújo, o novo CEO do Serviço Nacional de Saúde, escolhido na semana passada por António Costa. Na mesma semana, o primeiro-ministro referiu ainda, em entrevista à TVI, que “o Porto tem já há muitos anos um sistema de urgências metropolitanas que asseguram que o cidadão tem sempre uma porta aberta”. “Lisboa tem muito a aprender com o Porto, não tenho dúvidas nenhumas”, acrescentou.

“Há este problema em vários hospitais e não é pontual”, diz Sindicato Independente dos Médicos sobre incumprimento de escalas

Ao mesmo jornal, o Hospital de São João garantiu estar a contratar mais especialistas e que “está assegurada a presença dos médicos especialistas”. “A equipa médica garante resposta às utentes com total segurança, havendo possibilidade de mobilizar outros especialistas, sempre que necessário, assegurando o acesso e a qualidade”.

Já ao Observador, Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, explicou que “a segurança clínica não é a mesma com médicos internos” e que um dos grandes problemas neste contexto é também a formação dos internos. “Não estão a fazer aquilo deveriam estar a fazer para serem obstetras de corpo inteiro, porque estão a ser utilizadas demasiadas vezes nos serviços de urgências”, acrescentou.