Volodymyr Zelensky reagiu numa entrevista ao Bild ao discurso de Vladimir Putin esta manhã e afirmou que não acredita que Vladimir Putin vai utilizar armas nucleares na guerra na Ucrânia. “Há riscos”, admitiu: “Mas não acredito que ele vá usar essas armas, não acredito que o mundo vai permitir que ele use essas armas”.

Em reação ao discurso em que o Presidente da Rússia anunciou uma mobilização de 300 mil militares na reserva para combater na Ucrânia, Zelensky disse que “Putin quer afogar a Ucrânia em sangue, mas também no sangue dos seus próprios soldados”.

“Já sabemos que mobilizaram cadetes, pessoas que não sabiam lutar. Esses cadetes caíram, nem conseguiram terminar a formação. Todas essas pessoas não podem lutar. Vieram até nós e morreram”, prosseguiu o líder ucraniano.

Mobilização é “admissão de que a invasão está a falhar”, diz Reino Unido

O ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, considerou que a mobilização parcial das tropas na reserva por Vladimir Putin é “uma admissão de que a invasão está a falhar”. Foi uma das primeiras reações internacionais ao discurso em que o Presidente russo anunciou que 300 mil militares na reserva seriam recrutados para batalhar na guerra na Ucrânia.

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Citado pelo The Guardian, o governante disse: “A quebra do Presidente Putin das suas próprias promessas de não mobilizar parte da população e a anexação ilegal de partes da Ucrânia são uma admissão de que sua invasão está a falhar”.

Ele e o seu ministro da Defesa enviaram dezenas de milhares dos seus próprios cidadãos para a morte, mal equipados e mal liderados. Nenhuma quantidade de ameaças e propaganda pode esconder o facto de que a Ucrânia está a ganhar esta guerra, a comunidade internacional está unida e a Rússia está a tornar-se um pária global”, afirmou Ben Wallace.

O comentário está em linha com a análise do antigo embaixador do Reino Unido na Rússia, que afirmou que a “mobilização militar parcial” que Vladimir Putin anunciou esta quarta-feira é “uma escalada bastante significativa” na guerra na Ucrânia.

“A Rússia até agora tem lutado nesta guerra com uma mão atrás das costas, [os russos] recusaram-se a mobilizar-se porque Putin estava preocupado com o efeito na opinião pública russa. O que Putin anunciou agora é a mobilização que ele se recusa a fazer desde o início da guerra”, analisou Tony Brenton, citado pela Sky News.

A ministra dos Negócios Estrangeiros britânica também já reagiu ao discurso de Vladimir Putin, avisando que “isto é claramente uma escalada” da guerra na Ucrânia. Mas assume que “nós não temos a situação sob controlo”. “Claramente é algo que devemos levar isto muito a sério porque não estamos sob controlo. E não tenho certeza de que ele está controlado”, comentou Gillian Keegan.

O vice-chanceler alemão Robert Habeck também considerou que a mobilização de tropas russas na reserva para a fronteira entre a Rússia e a Ucrânia é “mais um passo errado” de Vladimir Putin. “Agora vamos, claro, debater e consultar a nível político qual será a melhor maneira de responder”, assegurou Robert Habeck.

A embaixadora dos Estados Unidos na Ucrânia, Bridget A. Brink, repetiu no Twitter que o “falso referendo” que está a ser preparado para votar a anexação pela Rússia de regiões separatistas na Ucrânia e a “mobilização” anunciada esta quarta-feira de manhã são “sinais de fraqueza e do falhanço russo”.

Bridget A. Brink promete ainda que “os Estados Unidos não vão reconhecer nunca a alegação da Rússia de suposta anexação de território ucraniano” e que os EUA vão “continuar ao lado da Ucrânia durante o tempo que for preciso”.

Conselheiro de Zelensky: “A vida tem um grande sentido de humor”

Mykhailo Podolyak, conselheiro presidencial de Volodymyr Zelensky, reagiu com ironia ao discurso que Vladimir Putin proferiu esta manhã.

Numa mensagem deixada no Twitter, Mykhailo Podolyak descreveu em três pontos o discurso do Presidente russo ao “210º dia da guerra de três dias” que a Rússia lançou na Ucrânia: “Mobilização, fronteiras fechadas com bloqueio de contas bancárias e prisão por deserção”.

“Ainda está tudo de acordo com o plano, certo? A vida tem um grande sentido de humor”, pode ler-se no tweet.

China pede “solução pacífica” para um cessar-fogo na Ucrânia

Depois do anúncio de Vladimir Putin, a China apelou ao diálogo e a que se apoie “qualquer esforço” que permita um cessar-fogo na Ucrânia. “Todos os esforços que levem a uma solução pacífica desta crise devem ser apoiados”, afirmou o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Wenbin, em conferência de imprensa.

O porta-voz assegurou que a posição da China sobre o conflito “sempre foi clara e não mudou”. Esta passa por “respeitar a integridade territorial de todos os países”, incluindo a Ucrânia e, ao mesmo tempo, atentar para as “legítimas preocupações de segurança” da Rússia.

Marcelo pede “serenidade” perante as ameaças de Putin

Em Portugal, o Presidente da República falou das ameaças do Presidente russo e considerou que devem ser encaradas “com serenidade”.

A Europa e a NATO têm tido a preocupação de funcionarem como fatores de paz e não de conflito e de guerra, mostrando firmeza de valores e princípios, mas também que o objetivo não é uma escalada verbal. O que importa é que há valores a defender”, referiu Marcelo Rebelo de Sousa à margem de uma visita à escola secundário Pedro Nunes, em Lisboa.

Marcelo diz ainda que esta não é a primeira vez que as declarações russas “sobem de tom” e entende que isto acontece neste preciso momento por causa da Assembleia Geral da NATO que está a decorrer em Nova Iorque.

Quanto à resposta da aliança, Marcelo diz que “também a NATO tem sido firme e serena como é próprio de uma aliança que fomenta a país e não que desencadeia ou alimenta escaladas verbais de guerra”.

Também Ana Gomes reagiu ao planos do Kremlin defendendo que “é tempo” de Portugal dar “asilo a russos que possam fugir da Rússia”. Na rede social Twitter, a antiga diplomata e ex-candidata a Presidente da República classificou o Presidente russo de “pândego, raivoso e perigoso”, e defendeu que devem ser concedidas proteções àqueles cidadãos que consigam fugir da Rússia. Acrescentou ainda que é “tempo de escalarmos apoio militar e outro à Ucrânia”.

Em declarações à Rádio Observador, o major-general Arnault Moreira notou que a chamada de jovens para a guerra, mesmo excluindo os estudantes, vai criar uma “desconfiança em relação ao regime”. Os “jovens cérebro de que a Rússia tanto necessita vão procurar alternativas no estrangeiro”.

“Há quem diga que começou a corrida pelos bilhetes de avião na Rússia”

Os historiadores António José Telo e Bruno Cardoso Reis comentaram no Gabinete de Guerra da Rádio Observador que o aumento da quantidade de homens no terreno é o “caminho para a derrota russa” e consideraram que o discurso de Putin foi uma “tentativa desesperada de voltar a ter iniciativa”.

“Discurso contraditório e espelho do desespero”

Luís Tomé, diretor do OBSERVARE-Observatório de Relações Exteriores, considerou também que discurso de Putin “reconhece implicitamente a falha de estratégia russa” e é uma “tentativa de resgatar a iniciativa”.

“Putin utilizou neste discurso a palavra ‘guerra’”

Navalny acusa Putin de querer “manchar” com sangue “centenas de milhares de pessoas”

O opositor do Kremlin Alexei Navalny, que se encontra detido neste momento, já reagiu à mobilização parcial para a guerra na Ucrânia, anunciada esta quarta-feira pelo Presidente russo Vladimir Putin.

Através de um vídeo gravado na prisão, e que — segundo a Sky News — terá chegado a público, Navalny, porventura o mais reconhecido rosto da oposição a Putin, deixou críticas incisivas ao Presidente russo:

É notório que esta guerra criminosa está a piorar, a aprofundar-se, e Putin está a tentar envolver tantas pessoas nisto quanto possível. Ele quer manchar centenas de milhares de pessoas neste conflito sangrento”.