O preço dos voos disparou, os aeroportos encheram e até as pesquisas no Google de “como partir o braço” aumentaram. A mobilização parcial decretada pelo Presidente da Rússia, Vladimir Putin, foi recebida com pânico por alguns membros da reserva, que podem ser recrutados para o conflito na Ucrânia. Muitos ponderam fugir do país natal para evitar serem chamados e a Europa está diante de um dilema: deve aceitar os cidadãos russos que fogem da guerra?

A resposta é mista e não há parece haver, para já, unidade no que diz respeito ao tema. Um dos primeiros países a anunciar que não ia receber os russos que fugiam da mobilização foi a Letónia, que partilha fronteira com a Rússia. “Não vamos emitir vistos humanitários ou outros tipos de vistos para aqueles cidadãos russos que estão a fugir da mobilização e não vamos mudar as restrições fronteiriças introduzidas a 19 de setembro”, anunciou Edgars Rinkēvičs, ministro dos Negócios Estrangeiros letão, alegando que por detrás da decisão estão “razões de segurança”.

“Muitos russos que agora estão a fugir da Rússia por causa da mobilização estavam de acordo com matar ucranianos, mas, se não protestaram na altura, não é correto considerá-los como objetores de consciência. Há riscos de segurança consideráveis ao admiti-los”, escreveu Edgars Rinkēvičs na sua conta pessoal do Twitter.

Mais a norte, a mesma reação. O chefe da diplomacia da Estónia, Urmas Reinsalu, disse que “a recusa em cumprir o dever cívico na Rússia não constitui motivo suficiente para receber asilo noutro país”. Além disso, o ministro do Interior estónio, Lauri Laanemets, “responsabilizou a coletividade dos cidadãos russos” pela invasão da Ucrânia e garantiu que a emissão de vistos está fora de questão.

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O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Lituânia também assinalou que “não tem capacidade para emitir vistos humanitários a todos os cidadãos russos” que enfrentem a mobilização. “Isso também requer que se verifique a segurança nacional”, notou o governo lituano, que frisou que é de vital importância “evitar ameaças à Lituânia”. No entanto, mantém “a porta aberta a representantes da sociedade civil que são perseguidos e à oposição”.

Reação semelhante teve a diplomacia da Polónia. “Deixem aqueles que estão a fugir da Rússia irem para França, para a Catalunha ou para Itália — deem-lhes asilo político. Os Estados Bálticos e a Polónia não têm nada a ver com isso”, atirou um diplomata polaco ao EUobserver. Além disso, o vice-ministro do Interior, Maciej Wasik, já veio assegurar igualmente que Varsóvia não permitirá “que um grupo de russos entre na Polónia através das fronteiras, nem mesmo aqueles que alegam fugir da mobilização”.

Já esta sexta-feira, a Finlândia, que partilha a maior fronteira terrestre com a Rússia, revelou que pretende proibir a entrada de turistas russos no país – com exceção de visitas familiares, estudantes ou questões humanitárias. À emissora estatal Yle, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Pekka Haavisto, revelou que a lei está a ser preparada e deve estar concluída nos próximos dias.

Mais longe da Rússia, a República Checa já anunciou que não vai emitir vistos aos russos que fogem da mobilização. “Entendo que os russos estão a fugir das decisões cada vez mais desesperadas de Putin, mas aqueles que fogem do país porque não querem cumprir as obrigações impostos pelo Estado russo não cumprem as condições para a emissão de um visto humanitário”, explicou o ministro dos Negócios Estrangeiros de Praga.

Em sentido inverso, o governo alemão já assegurou que vai receber aqueles que se oponham à mobilização parcial decretada pelo Presidente russo. “Desertores ameaçados de repressão podem, via de regra, obter proteção internacional na Alemanha“, divulgou a ministra do Interior germânica, Nancy Faeser. De igual modo, o ministro da Justiça de Berlim escreveu nas redes sociais que os “russos que estão a deixar a pátria”, que “odeiam Putin” e que “adoram a democracia liberal” serão “bem-recebidos na Alemanha”.

A União Europeia pede uma política comum sobre o assunto, mas sublinhou que os Estados-membros têm de estudar o historial de cada russo que chegue às fronteiras. “Nós, enquanto União Europeia, estamos solidários com os cidadãos russos que têm coragem e bravura que mostram a sua oposição do que o regime está a fazer, especialmente na guerra ilegal na Ucrânia”, referiu o porta-voz da Comissão Europeia, Peter Stano.