A entrada na reta final do Mundial. A viagem para a Ásia quase a correr após o Grande Prémio de Aragão na última semana. Algumas mazelas físicas que já vinham de trás estando a ser disfarçadas (Álex Rins ou Aleix Espargaró), outras sofridas na derradeira corrida (Fabio Quartararo ou Takaaki Nakagama). Olhando para aquilo que poderia ser este Grande Prémio do Japão, nada seria fácil. No entanto, por causa do tempo, tudo acabou por tornar-se ainda mais difícil, com a qualificação marcada por uma série de incidências.

Nem a tempestade parou os motores: Miguel Oliveira sai de 8.º no Japão, Marc Márquez consegue pole-position três anos depois

Depois de um primeiro dia de treinos livres com uma só sessão, onde Miguel Oliveira ficou com o nono melhor tempo, a segunda sessão ainda se realizou em parte até chegar a chuva e a bandeira vermelha após um acidente com Pol Espargaró numa fase em que o português seguia na quarta posição. Perante todas as condições particularmente complicadas, a TL3 acabou por ser cancelada, com a Q2 a confirmar a primeira pole position de Marc Márquez 1.071 dias depois, uma primeira linha a contar ainda com as surpresas Johann Zarco e Brad Binder, os três candidatos ao título fora do top 5 (Quartararo em nono, Bagnaia em 12.º, Espargaró em sexto) e Miguel Oliveira a partir do oitavo lugar, naquela que foi a segunda melhor qualificação do ano a par dos Países Baixos na inédita terceira presença consecutiva na Q2.

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“Tinha boa velocidade e bom potencial na Q2 e naquela volta específica, mas acabei no chão na curva 9. Uma pena mas estou confiante para amanhã [domingo]. Tem sido complicado preparar-me para a corrida, vamos ver”, comentou o número 88 à sua assessoria de imprensa, a propósito da queda quando faltavam cerca de três minutos para o final e estava a preparar a melhor volta no período de qualificação.

Ao contrário do que aconteceu em Aragão, onde os tempo andaram muito próximos com diferenças que não passavam um segundo, no Japão as condições foram diferentes. E nem eram apenas os tempos feitos na qualificação a determinar essa distinção, com as dificuldades de preparação para a corrida a terem o condão de aumentar a imprevisibilidade da prova, que logo na partida teria essa curiosidade de Aleix Espargaró, Quartararo e Bagnaia saírem todos do lado direito da pista atrás uns dos outros. Também por isso, perante aquilo que foi conseguindo fazer desde sexta-feira, uma boa partida poderia ser suficiente para Miguel Oliveira encontrar as condições para voltar aos lugares entre o top 10 da corrida.

Este seria o melhor arranque de toda a temporada para Miguel Oliveira, com o português a subir à quarta posição. Brad Binder ainda chegou a liderar antes de ser ultrapassado por Jorge Martín, Marc Márquez desceu para terceiro antes de mais um trambolhão que colocou Jack Miller e o português à sua frente, Johann Zarco também desceu a sétimo e Quartararo e Bagnaia subiram somente um lugar com Aleix Espargaró a ter de sair do pit lane, o que estragou toda a corrida e as hipóteses de ganhar pontos.

Jack Miller, a rodar melhor que todos, não demorou a assumir a liderança da corrida, tendo Martín em segundo e as duas KTM logo a seguir, sendo que Miguel Oliveira conseguiu a volta mais rápida de seguida antes de perder esse estatuto para o australiano. Só nessa altura começava a haver alguma estabilização na grelha de posições, com Pecco Bagnaia numa grande luta com Enea Bastianini pelo 11.º lugar enquanto Fabio Quartararo descia à nona posição. A 20 voltas do final, com os dois da frente a começarem a descolar dos restantes, o português ascendeu ao terceiro posto por troca com o companheiro de equipa antes de nova ultrapassagem de Brad Binder numa luta particular que ia animando também toda a corrida.

As últimas dez voltas chegavam com tudo em aberto em várias lutas particulares: Jack Miller rodava na frente perseguido por Jorge Martín; Miguel Oliveira ia tendo alguma distância para Brad Binder por um lugar no pódio mas com o sul-africano a ter um aviso de limites de pista que o deixava mais em risco de uma penalização; Marc Márquez não conseguia sair da quinta posição, rodando a meio segundo de Miguel Oliveira e com dificuldades em aproximar-se das KTM; Quartararo tentava segurar o oitavo posto com Enea Bastiani e Pecco Bagnaia na perseguição; Johann Zarco continuava a afundar-se e ia já em 13.º.

Também Jorge Martín ficaria com um aviso de limites de pista, numa fase em que Brad Binder começava a aproximar-se de forma mais visível do segundo posto. Um pouco mais atrás, Pecco Bagnaia conseguiu ter a demonstração que lhe estava a faltar para mostrar a candidatura ao Mundial, passando a nono por troca com Bastianini e ficando atrás de Quartararo. Já Miguel Oliveira acabou por ser ultrapassado por Marc Márquez, abrindo numa fase em que um toque deitaria tudo a perder e descendo ao quinto lugar, ao passo que Binder conseguia na última volta saltar para segundo. Tudo ao rubro e com Fabio Quartararo a sorrir depois de Bagnaia ter perdido a frente e caído quando tentava ultrapassar o francês.

Miguel Oliveira ainda foi pressionado nas últimas curvas por Luca Marini mas conseguiu mesmo segurar o quinto lugar (segundo melhor resultado do ano a par do Grande Prémio de Portugal, atrás do triunfo na Indonésia), ao passo que Fabio Quartararo acabou em oitavo e ganhou mais oito pontos a Bagnaia, que aplaudia de forma irónica algo como se tivesse sido “pressionado” para cair mas com as imagens depois a mostrarem que foi o italiano que perdeu a frente sem qualquer toque. Na frente, e com uma vantagem bem larga em relação à concorrência, Jack Miller conseguiu festejar a primeira vitória da temporada.