Depois de esta quarta-feira as acusações de abusos sexuais de menores que pendem sobre Ximenes Belo terem sido trazidas a público, por uma investigação do jornal holandês holandês The Groene Amsterdammer, uma das questões imediatamente levantadas prendeu-se com a possibilidade (ou não) de o Prémio Nobel da Paz, que lhe foi atribuído em 1996, era então bispo de Díli, poder ser retirado.

Questionado pelo Observador, Olav Njølstad, diretor do Instituto Nobel norueguês, responsável pela atribuição do galardão, garantiu que esse é um cenário que não se coloca: “Está fora do âmbito de competências do Comité retirar um prémio uma vez atribuído. Os estatutos da Fundação Nobel excluem esta opção”, respondeu Njølstad, através de e-mail.

Hierarquia da Igreja em Portugal soube do caso de Ximenes Belo há pelo menos 12 anos, antes da visita de Bento XVI

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Apesar de se ter escusado a comentar o caso que, noticiou o Observador também esta quarta-feira, remonta às décadas de 80 e 90 do século passado e já era do conhecimento da hierarquia da Igreja Católica em Portugal pelo menos desde 2010, o diretor do Instituto Nobel explicou ainda que “o Comité muito raramente comenta o que um laureado com o prémio da Paz pode fazer ou dizer nos anos após receber o prémio ou sobre o que um laureado pode ter feito no passado, sem relação com o seu esforço premiado”.

Ximenes Belo, que terá passado os últimos 20 anos em Portugal, depois de em 2002 ter renunciado ao bispado, mantém-se incontactável e em parte incerta desde que, esta quarta-feira, as notícias sobre os alegados abusos foram tornadas públicas.

Ximenes Belo. Vaticano diz que só soube de suspeitas de abuso em 2019

O Observador contactou o padre José Augusto Fernandes, diretor dos Salesianos de Mogofores, no concelho de Anadia, que confirmou que Ximenes Belo passou ali parte desses anos, mas não se mostrou disponível para prestar quaisquer informações sobre a estadia do ex-bispo no local. Garantiu ainda não fazer ideia do paradeiro atual de Ximenes Belo, em honra de quem chegou a ser batizada, em 2016, a biblioteca do colégio dos Salesianos de Mogofores: “Onde ele esteve e estará, não sei. Neste momento está incontactável”.

As primeiras denúncias sobre os alegados abusos sexuais cometidos pelo ex-bispo timorense sobre menores chegaram pela primeira vez ao Vaticano, nomeadamente à Congregação para a Doutrina da Fé, em 2019, três anos depois de o nome de Ximenes Belo ter sido dado àquela biblioteca escolar.

Soube-se esta quinta-feira que, um ano mais tarde, lhe foram finalmente impostas sanções — entre outras coisas, está desde então proibido de ter contacto voluntário com menores e de regressar a Timor-Leste, onde terão ocorrido os crimes de abuso.