Mais de dois meses depois de ter saído da reunião sem discutir as propostas, do PCP e do Livre, sobre o aeroporto de Lisboa, Carlos Moedas foi esta segunda-feira confrontado pelos vereadores sem pelouro com o facto de ter que tomar uma posição. Mas a opção de Moedas foi fechar-se na “necessidade de evidência científica” e atirar a decisão para longe da “política”. De uma assentada, e já depois de António Costa lhe ter garantido um lugar à mesa, evita também criar algum mal-estar com o presidente do próprio partido, Luís Montenegro.
Na reunião desta tarde, Carlos Moedas diz que “ninguém foi capaz de tomar uma decisão e avançar” e que a “posição da Câmara Municipal, antes de tudo, tem de ser a de afirmar que quer rapidamente a decisão.” “Há três critérios importantes: proximidade, rapidez na decisão e a questão ambiental”, disse Moedas, reconhecendo que a obrigação é “tomar a decisão que tenha menor impacto para a vida das gerações futuras.”
“A posição da Câmara Municipal deve ser discutida, mas em termos da própria decisão da Câmara. Estar a ancorar já uma posição era negativo para os lisboetas, estávamos a pôr-nos num canto da sala como instituição e não conseguíamos sair dele”, disse o presidente da Câmara acrescentando que “vai ser esta Avaliação Ambiental Estratégica que vai pôr em cima da mesa com evidência científica” a solução: “Nenhum de nós sabe o suficiente , não podemos tomar nós a decisão. Não é decisão política, é de evidência científica”.
Coube a João Ferreira fazer a apresentação da proposta, numa discussão que foi aumentando o tom para decibéis pouco comuns, com o comunista a frisar que “o momento de influenciar a tomada de decisão é agora” e que “não são os estudos científicos que decidem”: “Em nenhum aeroporto por esse mundo foram foram os cientistas a decidir a localização, foram os políticos a decidir.”
“Foi tomada uma decisão depois de um apurado processo de estudo, de inquestionável probidade científica e técnica. Como é que é possível que tenham passado 15 anos e não tenha sido concretizado?”, questionou o vereador do PCP, que apresentou também números de um estudo da Vinci que deixam subentender que a solução do Montijo suportaria apenas “24 voos por hora dos 72 previstos”.
“O que está proposto no Montijo não consegue aguentar 15 movimentos por hora. Uma pista com 2.500 metros, não há voos de longo curso a aterrar ali. Os outros vão continuar na Portela mesmo com o Aeroporto do Montijo, serão 48 de acordo com a previsão otimista da Vinci. Vamos continuar com a Portela décadas”, acrescentou ainda João Ferreira.
A socialista Inês Drummond reconheceu que Portugal foi “incapaz de tomar decisões coletivamente sobre o novo aeroporto”. “Precisamos de uma decisão urgente”, disse a socialista que quis saber “a posição do novo presidente da Câmara Municipal de Lisboa”, mas saiu sem resposta. “A nossa posição estava no nosso programa eleitoral e é a de defender a concretização de um novo aeroporto na Área Metropolitana de Lisboa, muito bem ligado à cidade.”
A vereadora do Bloco de Esquerda, Beatriz Gomes Dias, afirmou que “o aeroporto já devia ter saído de Lisboa há muito tempo” e que “nunca houve coragem para estudar os anos que o aeroporto causa à saúde de quem vive e trabalha em Lisboa”: “O PSD e PS não têm tido em conta o impacto na saúde das pessoas, ou não o têm dito nas intervenções que fazem, e têm privilegiado o lucro das empresas que operam no aeroporto.”
Pelo Livre, a vereadora em substituição Patrícia Gonçalves falou diretamente ao presidente da autarquia, dizendo que “o que importa é que [Carlos Moedas] se posicione de forma taxativa no direito ao descanso dos moradores de Lisboa”, mas na resposta Moedas reconheceu apenas que “o atual aeroporto está nos limites dos limites”.
“As obras que foram prometidas, não são para aumentar a frequência de voos, mas as condições mínimas de um aeroporto. Seria muito grave se apresentasse já uma solução sem os resultados da evidência científica”, respondeu Carlos Moedas na reunião, considerando que “a opinião ainda tem que ser trabalhada” e que é necessário “esperar pelos resultados” dos estudos técnicos e científicos.
Já a vereadora independente Paula Marques frisou que Carlos Moedas “deve ter um lugar”. “Lisboa não pode ter um lugar na discussão só depois de ser feita, deve pugnar por esse lugar já. É necessário termos atenção a que as obras que estão a ser feitas na Portela não tenham a tentação de aumentar o fluxo na Portela”, notou a vereadora eleita pela coligação Cidadãos Por Lisboa.
Quer a proposta de alteração do Livre, quer a proposta base do Partido Comunista Português foram votadas por pontos, sendo todas chumbadas com os votos contra dos sete vereadores eleitos pela coligação Novos Tempos, de Carlos Moedas, a que se somaram os cinco vereadores sem pelouro eleitos pelo Partido Socialista.