2022, para a Seleção Nacional de futebol feminino, tem sido uma verdadeira montanha-russa. Portugal foi repescado para o Europeu depois de falhar o apuramento, devido à exclusão da Rússia após a invasão da Ucrânia, foi eliminado na fase de grupos mas fez exibições para lá de positivas e garantiu um lugar no playoff de acesso ao Mundial ao terminar no segundo lugar da qualificação. Esta quinta-feira, em Vizela, era tempo de manter a montanha-russa numa trajetória ascendente.

Contra a Bélgica, a Seleção Nacional disputava a primeira ronda de um playoff complexo e demorado. Em caso de vitória frente às belgas, Portugal já sabia que cruzava com a Islândia na próxima terça-feira. Depois disso, novamente em cenário de triunfo, ficava apurado para um playoff intercontinental a disputar apenas em fevereiro de 2023. Tudo isso, porém, dependia do resultado desta quinta-feira.

Elas vão continuar atrás do sonho: Portugal goleia Turquia e vai ao playoff de acesso ao Mundial de futebol feminino

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Ainda assim, a eliminatória decisiva surgia numa janela temporal em que o futebol feminino tem estado na ordem do dia — pelos melhores e os piores motivos. Se Kika Nazareth foi nomeada para a edição inaugural do prémio Golden Girl e se o Benfica venceu o Glasgow Rangers para chegar à fase de grupos da Liga dos Campeões pela segunda época consecutiva, as denúncias de assédio sexual que envolveram o treinador e o diretor desportivo do Famalicão ensombraram o universo da modalidade no final da semana passada. E o assunto, naturalmente, não foi ignorado por ninguém na antevisão da partida contra a Bélgica.

“É uma tristeza profunda. Afeta não só o futebol, infelizmente, como vários setores da nossa sociedade. Estamos solidárias com todas as vítimas e apelamos àquelas que ainda não falaram que consigam igualmente ter a coragem que estas meninas tiveram para denunciar. É importante que não tenham medo de falar, porque isto é um aspeto triste que tem de ser rapidamente eliminado da nossa sociedade. Vamos estando alerta para tudo o que sejam campanhas, para podermos estar dentro do assunto e mostrarmos a nossa solidariedade. Um dia são estas colegas e noutro dia podemos ser nós. Acho importante que existam campanhas, pode dar coragem às pessoas que ainda não falaram por medo”, disse Dolores, capitã da seleção portuguesa, recordando a plataforma online que foi disponibilizada pela Federação Portuguesa de Futebol para a denúncia de casos de assédio sexual e moral.

Era neste contexto que, esta quinta-feira, Portugal disputava um dos jogos mais importantes da sua história. A principal surpresa de Francisco Neto aparecia na baliza, onde Patrícia Morais era titular em detrimento de Inês Pereira, sendo que o restante onze inicial era o expectável tendo em conta de Kika Nazareth e Andreia Jacinto foram convocadas mas regressaram recentemente de lesão. Assim, Dolores, Fátima Pinto e Tatiana Pinto ocupavam o meio-campo e Jéssica Silva, Andreia Norton e Diana Silva eram as responsáveis pelo setor ofensivo.

A Seleção Nacional começou melhor, criando desde logo uma grande oportunidade por intermédio de Jéssica Silva, que atirou ao lado na grande área depois de uma investida de Diana Silva pela esquerda (5′). A Bélgica respondeu por intermédio de Wullaert, que ficou isolada após uma perda de bola de Diana Gomes em zona proibida e atirou para defesa de Patrícia Morais (14′), e Portugal acabou por chegar à vantagem já perto da meia-hora.

Norton recuperou no corredor central, abriu em Joana Marchão na esquerda e a lateral do Parma cruzou para a grande área, onde Diana Silva apareceu a desviar para abrir o marcador (29′). A seleção belga reagiu à desvantagem, subindo as linhas para a empurrar Portugal para o próprio meio-campo, e acabou por conquistar uma grande penalidade por mão na bola de Marchão já perto do intervalo. Na conversão, Patrícia Morais adivinhou o lado mas não impediu o empate de Wullaert (40′).

Portugal voltou a entrar bem na segunda parte, com Fátima Pinto a obrigar desde logo Evrard a uma defesa apertada (50′) e Jéssica Silva a atirar por cima depois de Dolores amortecer de cabeça (59′). A Bélgica mexeu a pouco mais de 20 minutos do fim e acabou por motivar o período mais perigoso para a Seleção Nacional em toda a partida: Van Kerkhoven não conseguiu desviar para a baliza num lance em que Patrícia Morais estava fora do enquadramento (70′) e, logo depois, Wullaert voltou a bater a guarda-redes portuguesa mas a jogada foi anulada por fora de jogo (73′).

Francisco Neto reagiu com uma dupla alteração, lançando Andreia Jacinto e Ana Capeta nos lugares de Dolores e Jéssica Silva, e a Bélgica acabou por ficar a jogar com 10 elementos na sequência da expulsão de Tysiak, que fez falta sobre Diana Silva quando a avançada seguia isolada para a baliza — num lance em que a árbitra ainda assinalou grande penalidade, revertendo a decisão após analisar as imagens do VAR e considerar que a falta aconteceu fora de área. Logo depois, porém, Fátima Pinto rejeitou a ideia quase certa do prolongamento: canto batido na esquerda e a média do Sporting apareceu ao segundo poste a cabecear (89′) para dar a histórica vitória à Seleção Nacional.

Com esta vitória, Portugal apurou-se para a fase seguinte do playoff de acesso do Mundial, tendo encontro marcado com a Islândia na próxima terça-feira, também às 18h, em Paços de Ferreira. Em cenário de vitória, segue-se um derradeiro playoff continental agendado para fevereiro de 2023.