Já reparou certamente que um cubo de gelo em água quente derrete mais rápido do que em água fria e ainda mais rápido se mexermos a bebida no copo. E é exatamente isso que está a fazer com que o gelo na Gronelândia derreta ainda mais rápido, de acordo com um artigo científico publicado na revista Nature Geoscience.

O aumento da temperatura da atmosfera e dos oceanos são as principais causas do degelo, atuando por si, mas também em combinação uma com a outra. Metade do gelo perdido deve-se ao facto de a atmosfera quente o derreter à superfície. A outra metade perde-se sempre que um glaciar junto ao mar cai na água e se perde para sempre. Mas não é só isso.

Voltando ao cubo de gelo: se a água dos oceanos está mais quente, vai derretendo gelo com o qual está em contacto. Mas a atmosfera também tem um papel (além de ser responsável pelo aumento da temperatura à superfície nos oceanos): o ar quente faz derreter o gelo à superfície e a água resultante escorre até ao oceano.

A água que escorre provoca pequenas correntes junto ao glaciar, fazendo com que a água mais quente do oceano suba — como quem mexe uma bebida com gelo. Esta “renovação” da água que toca no gelo faz com que este derreta mais depressa, como ilustra a imagem incluída no artigo científico.

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Processos que condicionam o degelo na Gronelândia

A atmosfera quente faz derreter o gelo, que escorre para o oceano e faz subir as águas mais quentes que derretem os glaciares — Slater & Straneo (2002) Nat. Geosci.

“Os nossos resultados desafiam a ideia de que a perda de [de gelo] se deve apenas ao aquecimento dos oceanos e mostram que uma atmosfera mais quente amplificou o impacto do oceano sobre o manto de gelo da Gronelândia“, concluem os autores do trabalho, Donald Slater e Fiamma Straneo, ambos ligados ao Instituto Scripps de Oceanografia.

Os investigadores mostraram que no sul da Gronelândia, o efeito da água quente do oceano Atlântico era mais evidente, mas que mesmo em zonas onde a temperatura da água não era tão alta, como nas costas a norte, a atmosfera quente continuava a influenciar a forma como o oceano derretia os glaciares.

Todos os anos a Gronelândia perde, em média, 250 mil milhões de toneladas de gelo e a velocidade a que ocorrer o degelo está a aumentar, como reporta a Scientific American. Este degelo provocou o aumento do nível do mar de 5% em 1993 para 25% em 2014.

Mesmo se fosse possível interromper todas as emissões de gases com efeito de estufa neste momento, os efeitos do aquecimento global na Gronelândia continuariam a verificar-se e resultariam numa subida de 27 centímetros no nível médio dos oceanos (no mínimo).

Mas se a quantidade de toneladas de gelo perdida no ano recorde de 2012 se tornar regra, então o nível médio do mar pode subir 78 centímetros, pondo em risco centenas de milhões de pessoas que vivem em zonas costeiras, reportou o jornal The Guardian.

E isto só considerando o degelo na Gronelândia. Depois também é preciso olhar para o degelo acelerado na Antártida: não só na zona oeste, como se pensava, mas também na zona este, aparentemente mais fria, como recentemente ficou demonstrado.