O líder do Chega anunciou esta segunda-feira que o partido está a promover a criação de uma nova “federação sindical”, que espera estar constituída até dezembro, dirigido aos trabalhadores que não se reveem nos partidos de esquerda.
A intenção de o partido liderado por André Ventura ponderar um movimento sindical já tinha sido antecipada pelo Observador no passado mês de agosto. Na altura, Diogo Pacheco Amorim, ideólogo e deputado do Chega, explicou que o Chega estava a considerar a fundação de um “movimento sindical próprio” para “garantir uma posição do partido entre as várias classes profissionais”.
O sentimento de que o Chega queria ocupar nas ruas um espaço que, por tradição, tem pertencido à esquerda sempre foi um objetivo de André Ventura (“As ruas são da direita desde o aparecimento do Chega”), mas, até então, este trabalho tinha sido feito através da associação a movimentos sociais inorgânicos e com a colocação de militantes em lugares de destaque de sindicatos.
Chega quer tomar conta da luta nas ruas e pondera movimento sindical para substituir a esquerda
“O Chega, baseado no modelo espanhol, decidiu promover, não criar porque não o pode fazer por lei, mas promover, incentivar, dialogar para incentivar a criação de uma nova federação sindical em Portugal”, afirmou André Ventura, em conferência de imprensa na sede do partido, em Lisboa.
André Ventura referiu que “já tem o domínio registado”, o “site já existe”, e vai chamar-se “Solidariedade”, adotando o mesmo nome do sindicato promovido em 2020 em Espanha pelo Vox, partido da mesma família política do Chega.
“Seremos o primeiro partido de direita a entrar diretamente e a participar diretamente nas questões do mundo laboral e sindical em Portugal, rejeitando uma abordagem histórica que levou a que os partidos de centro-direita e direita nunca estivessem ligados a sindicatos”, afirmou.
E defendeu que “a valorização dos trabalhadores, dos seus salários, das suas carreiras não é uma questão de esquerda, nem de centro nem de direita, é uma questão do interesse nacional”. Entrando na “luta sindical”, o Chega quer “mostrar que é possível outro sindicalismo que não esteja ligado ao PCP, ao BE e ao PS”.
O líder do Chega apontou que esta estrutura é dirigida “aos trabalhadores que não se reveem no marxismo ou no socialismo estruturantes destas duas confederações, especialmente a CGTP e a UGT” para que “possam ter alternativas sindicalistas“.
Esta federação sindical “vai agregar várias forças sindicais relacionadas com áreas chave”, indicou o líder do partido de extrema-direita, dando como exemplos as polícias, professores, administração pública, profissionais de saúde e profissionais de segurança.
O “Solidariedade” terá “uma abordagem completamente diferente da que os sindicatos têm tido em Portugal”, disse Ventura, referindo que será feita uma “ampla campanha junto dos trabalhadores para que saibam que há outra possibilidade de serem sindicalizados, lutarem pelos seus direitos, sem estarem sempre nas malhas do socialismo e do marxismo”.
“É isso que tem afunilado e potenciado conflitos, em vez de resolver os problemas do crescimento económico, da falta de bons salários e da emigração dos nossos jovens e trabalhadores”, criticou.
Considerando que o Chega disputa “eleitorado geograficamente muito próximo” do PCP, André Ventura salientou que o seu partido “não tem nenhuma obsessão com acabar com o PCP”.
O líder do Chega espera que “até ao final do ano” a federação e os vários sindicatos estejam constituídos e registados “junto dos respetivos ministérios”, mas indicou que a porta está também aberta a sindicatos que já existem.
André Ventura antecipou ainda que será agendada “para o início do próximo ano uma primeira grande concentração pelos direitos dos salários dos trabalhadores, em Lisboa”, apesar de ainda não terem sido marcadas as eleições para a direção desta estrutura.