A ex-presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e Dívida Pública (IGCP) Cristina Casalinho defendeu esta segunda-feira que as medidas de apoio às famílias para minimizar os efeitos da inflação “podem não ser interessantes”, já que não afetam todos da mesma forma.

Numa intervenção nas jornadas parlamentares do PSD, que decorrem na Assembleia da República até terça-feira, Cristina Casalinho, que presidiu ao IGCP entre 2014 e 2022, alertou que se vive um contexto macroeconómico “muito volátil”, em que fazer previsões económicas é uma tarefa “muito exigente”.

Ainda assim, a economista e atual administradora da Fundação Calouste Gulbenkian passou em revista as projeções das principais instituições internacionais, alertando que as previsões relativas à inflação têm estado “sistematicamente erradas”.

Em Portugal, a inflação em Portugal está relativamente mais baixa do que na área do euro, mas, quando excluímos o preço da energia, verificamos que a inflação em Portugal é superior à europeia”, alertou.

A economista anteviu que, tal como a crise pandémica não afetou todos os setores uniformemente, “também não se espera que esta afete de forma uniforme” todas as pessoas e setores de atividade.

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Por exemplo, explicou, os preços dos bens alimentares afetam sobretudo camadas da população com mais baixos rendimentos, enquanto as de maior rendimento são mais atingidas pela subida de preços na restauração e hotelaria.

As medidas transversais podem não ser interessantes sobretudo porque a maneira como a crise se reflete nas várias classes sociais é diferente, exige que as medidas sejam direcionadas para setores mais vulneráveis”, defendeu.

Na intervenção inicial – o debate que se seguiu com os deputados foi fechado à comunicação social -, a ex-presidente do IGCP pouco se debruçou sobre o Orçamento do Estado para o próximo ano, destacando, pela negativa, as previsões para o investimento público.

“Esperava-se que tivesse um comportamento muito forte, que fosse o motor do crescimento económico em 2023 e já não é essa expectativa. Em 2022, também foi uma das surpresas negativas a salientar”, assinalou.

No painel seguinte das jornadas, a professora universitária Cláudia Reis Duarte analisou a parte fiscal da proposta orçamental e considerou que “indiscutivelmente” vai existir uma redução generalizada da tributação do IRS.

“Devolve rendimento às famílias? Depende da taxa de inflação”, afirmou a advogada especialista em Direito Fiscal.

Quantos aos benefícios previstos no IRS para os mais jovens previstos no OE, Cláudia Reis Duarte considerou “a medida boa”, mas alertou que terá uma aplicação limitado a jovens com rendimentos mais baixos.

O PSD já anunciou que votará contra a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano e apresentou, ainda antes de o Governo entregar o diploma no parlamento, oito prioridades que passam, entre outras, pela redução do IRS até ao sexto escalão, pela fixação de uma taxa máxima neste imposto de 15% para jovens até 35 anos, a par da redução do IRC e do alargamento da oferta na área das creches e da saúde, através de contratualização com privados.

Estas são as primeiras jornadas parlamentares dos sociais-democratas sob a liderança do partido de Luís Montenegro e da bancada de Joaquim Miranda Sarmento.

As últimas jornadas parlamentares do PSD realizaram-se em junho de 2021, em Portalegre, ainda com Rui Rio como presidente e Adão Silva como líder da bancada.