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Depois de uma viagem de sete dias desde a cidade russa de Vladivostok, no extremo oriental da Rússia, o iate de luxo Nord, propriedade do oligarca russo Alexei Mordashov, atracou em Hong Kong.
Segundo a Reuters, o superiate, de vários andares, foi avistado no porto de Victória com uma bandeira russa. Os registos do site Marine Tracker mostram que partiu da Rússia a 28 de setembro e chegou ao novo destino no dia 5 de outubro. A razão para a deslocação permanece um mistério, mas surge numa altura em que, passados quase oito meses de guerra, o Ocidente continua a sancionar a elite russa, com iates e mansões apreendidos e contas congeladas.
Da Rússia para Hong Kong, um “bilhete grátis” para fugir às sanções?
Criado em 2021, o Nord foi produzido com um única ideia em mente: “provocar emoções fortes em cada observador, não só pelas dimensões, mas também pelo próprio design”, descreveu o fabricante alemão Lürssen. Com 141,6 metros de cumprimento, dois heliportos, uma piscina, um cinema e 20 cabines de luxo, o superiate está avaliado em 521 milhões de dólares, segundo uma estimativa da revista Forbes.
Não se sabe porque é que Hong Kong foi o novo destino escolhido para receber o Nord, nem por quanto tempo vai permanecer na região. Em entrevista à CNN, Michael Maximilian Bognier, da empresa Next Wave Yachting de Hong Kong, refere que uma das razões para a mudança podem ter sido as condições meteorológicas em Vladivostok. “Não é o clima ideal para manter um barco assim”, começou por explicar. No entanto, indicou que a situação política e a ausência de sanções podem ter influenciado a escolha. “Essa pode ser uma razão para estar aqui (…). Pode ser um bilhete grátis”, sublinhou.
Numa investigação sobre o tema, a revista Forbes indica que vários bilionários russos estão agora a registar os seus iates em países que não impuseram sanções à Rússia. Os iates estão também a ser reclassificados, a mudar de bandeira e registo de países fiscais britânicos para países mais amigáveis da Rússia. É o caso do Nord, que dizem ter mudado da bandeira das Ilhas Cayman para a bandeira russa.
Se o Nord continua a navegar livremente, o mesmo não acontece com o “Lady M”, um navio de luxo com 65 metros de comprimento e avaliado em 65 milhões de euros que também pertence a Mordashov. Foi confiscado em março pelas autoridades italianas no porto de Imperia, nas proximidades da fronteira com França e do principado do Mónaco.
Hong Kong, um porto seguro para os oligarcas sancionados?
É raro existirem provas diretas sobre quem são os proprietários de iates luxuosos como este. É o caso do superiate Kosatka (russo para “baleia assassina”), ligado ao Presidente russo, Vladimir Putin. O mesmo não se verifica no caso do Nord e, de acordo com Bognier, é de conhecimento comum que Mordashov é o proprietário.
De “Graceful” para “Kosatka”. O novo nome do superiate ligado a Putin
“Administrar um barco deste tamanho é quase como administrar uma cidade ou um negócio”, afirmou, descrevendo o Nord como um dos iates “mais icónicos” que existem atualmente. “Tem uma proa muito ampla, não muito diferente de um porta-aviões. Essa é uma característica muito distinta por isso é muito, muito difícil, digamos, confundi-lo com outro”.
Acionista da agência de viagens Tui, a maior operadora de turismo na Europa, e CEO da Severstal, a maior companhia russa de aço, Mordashov é um dos homens mais ricos da Rússia, com uma fortuna de 29,1 mil milhões de dólares (26,1 mil milhões de euros). O seu nome consta atualmente na lista de sanções da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos devido à guerra na Ucrânia.
Em fevereiro, Mordashov foi sancionado pela União Europeia e Reino Unido devido às suas “ligações ao poder executivo” do Kremlin, tendo sido afetado pela proibição de importações à Rússia. Já em junho, o departamento de Estado norte-americano sancionou Mordashov, a Severstal e três outras empresas do oligarca, também a esposa e dois filhos numa ação para “degradar as redes que permitem às elites russas, incluindo o Presidente Putin, usar anonimamente bens de luxo em todo o mundo”.
O oligarca, porém, considera que as sanções contra si devem ser anuladas. “Não tenho nada a ver com o emergir da atual tensão geopolítica e não entendo o porquê da União Europeia me ter imposto sanções”, disse no início do conflito, citado pela agência russa TASS.
Face à chegada do Nord a Hong Kong, levantou-se uma questão: iriam as autoridades locais apreender o superiate e ajudar a reforçar as medidas ocidentais? A resposta já chegou, com o chefe executivo John Lee a dizer que iria aplicar as sanções ordenadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, mas que não existe uma “base legal” para implementar sanções tendo em conta as “considerações próprias” de um determinado país.
O departamento de Estado norte-americano disse, entretanto, que “encoraja fortemente todas as jurisdições a tomar medidas sob as autoridades domésticas para ajudar a implementar as sanções impostas pelos Estados Unidos e mais de 30 outros países”. Acrescentava que a reputação de Hong Kong como um centro financeiro depende do cumprimento das leis e normas internacionais e que “o possível uso da região como um porto seguro” para indivíduos para evitar as sanções “coloca em questão a transparência do ambiente de negócio”.
Não se sabe por quanto tempo o superiate vai permanecer na região e o Departamento da Marinha da cidade disse à CNN que não foi notificado sobre quando iria partir para um novo destino. Um porta-voz de Mordashov disse à Bloomberg que o oligarca está em Moscovo e recusou prestar esclarecimentos sobre os movimentos do Nord.