Depois de anos de adiamentos e de na passada semana o juiz Lewis Kaplan ter recusado mais um pedido de protelamento por parte da equipa legal de Donald Trump, o ex-Presidente dos Estados Unidos foi finalmente ouvido no âmbito do processo de difamação que lhe foi interposto em 2019 pela jornalista E. Jean Carroll, que na altura o acusou de violação.

O caso remonta aos anos 1990, altura em que a jornalista, conhecida pela coluna “Ask E Jean”, que manteve ao longo de 27 anos na revista Elle, diz ter-se encontrado fortuitamente com o então empresário nos armazéns da Bergdorf Goodman, na 5.ª Avenida, em Nova Iorque. Depois de terem conversado e de ela o ter ajudado a escolher um presente, acusou Carroll, agora com 78 anos, terão ficado brevemente a sós num provador, altura em que ele lhe tirá arrancado os collants e a terá violado.

Na altura em que a jornalista tornou público o caso, Donald Trump, 76 anos, apressou-se a desmenti-la veementemente — “uma farsa e uma mentira” foram as expressões a que recorreu —, tendo garantido não apenas que não a conhecia como que ela nem sequer faria o seu “género”.

“Não conheço esta mulher, não faço ideia de quem ela é, a não ser que parece que conseguiu ser fotografada há muitos anos, com o marido, a apertar a minha mão numa fila de receção num evento de caridade de celebridades.”

O caso foi entretanto arquivado por ter sido interposto contra o Presidente em título, imunidade que acabou por cair quando Trump abandonou o cargo, em janeiro do ano passado.

Na semana passada, o ex-Presidente voltou a dizer publicamente que é tudo mentira e lamentou ter-se visto enredado no caso, que finalmente o levou a prestar declarações, confirmou esta quinta-feira o escritório de advogados Kaplan Hecker & Fink, que representa a jornalista, que diz ter sido despedida da Elle após ter tornado pública a acusação contra o então ainda Presidente. “Estamos satisfeitos por, em nome da nossa cliente, E. Jean Carroll, termos podido recolher hoje o depoimento de Donald Trump”, fez saber um porta-voz da equipa legal, escusando-se a fazer quaisquer comentários adicionais.

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“Agora tudo o que tenho de fazer é de passar por mais anos de disparates legais para limpar o meu nome dela e dos ataques falsos dos advogados dela contra mim. Isto só pode acontecer ao Trump”, tinha lamentado o ex-Presidente americano na semana passada, quando foi conhecida a data para a sua audição.

A própria E. Jean Carroll foi, por seu turno, ouvida pelos advogados de Trump já na passada sexta-feira, mas também não foram revelados quaisquer detalhes sobre o depoimento.

As declarações proferidas esta quinta-feira por Donald Trump, ao que tudo indica de forma remota, diz o Guardian, já que o processo corre em Nova Iorque e o ex-Presidente na véspera estava na Florida, poderão ser utilizadas num futuro julgamento civil.

Apesar de Carroll nunca ter formalmente acusado Donald Trump da alegada violação, que já aconteceu há mais de 20 anos e por isso se encontra prescrita, o Estado de Nova Iorque aprovou em maio deste ano a Lei dos Sobreviventes Adultos, que vai permitir às vítimas de crimes sexuais com mais de 18 anos a formalização de queixas nestas circunstâncias, durante o período de um ano.

Essa janela temporal abre-se em breve, no próximo dia 24 de novembro. A equipa legal de E. Jean Carroll já anunciou que a ex-jornalista tenciona acusar Donald Trump de agressão sexual.