Mais arrumado era impossível. Primeira linha, os Ferraris de Carlos Sainz e Charles Leclerc. Segunda linha, os Red Bull de Max Verstappen e Sergio Pérez. Terceira linha, os Mercedes de Lewis Hamilton e George Russell. Os restantes lugares na qualificação para o Grande Prémio dos EUA ficaram mais divididos com a surpresa da sétima posição de Lance Stroll pela Aston Martin à frente do McLaren de Lando Norris e as deceções de Daniel Ricciardo e Esteban Ocon que não passaram da Q1. No entanto, esta era apenas uma realidade em torno dos tempos que não se refletia a 100% na grelha de partida. E era isso que promovia o duelo mais aguardado em Austin, neste caso entre Ferrari e Red Bull com Sainz e Verstappen.

A Ferrari confirmou o domínio em Austin e Carlos Sainz conquistou a pole position do GP dos Estados Unidos

Na habitual nota após a qualificação, a organização explicava que Leclerc tinha sido penalizado em dez posições por trocas no motor e no turbo entre outras mudanças como a queda de cinco lugares de Sergio Pérez, Fernando Alonso, Tsunoda e Zhou ou a saída do pit lane de Ocon. Assim, eram os Mercedes que ficavam mais de perto a ver o duelo que colocava o neerlandês em vantagem numa semana complicada para a formação austríaca depois da morte de Dietrich Mateschitz, que era fundador e dono da marca.

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“Vi tudo depender de um possível safety car. Se tiver uma intervenção, o grid vai juntar-se e eles entram na luta. Caso contrário, será uma batalha entre dois carros. Se fizer uma corrida perfeita, posso ganhar mas a Red Bull continua a ser favorita principalmente porque sabemos que a partir da oitava ou nona volta o carro deles começa a ter um ritmo mais forte por conta da degradação dos pneus”, admitira Carlos Sainz.

“A morte do Dietrich Mateschitz é uma notícia dura para todos, não só por tudo que significou para a Red Bull, mas também para o desporto e para mim, o que fez pela minha carreira e pela minha vida… É duro, este é um dia muito duro…”, salientara Max Verstappen. “Temos uma corrida pela frente e vamos tentar que fique orgulhoso de nós. Penso que o nosso carro é mais forte em corrida do que em qualificação. Na qualificação as diferenças são muito pequenas e talvez se ligássemos os pneus um pouquinho melhor teria feito alguma diferença mas de qualquer modo espero uma boa corrida”, acrescentara o neerlandês, que foi interveniente num episódio que mereceu o repúdio até do diretor da Mercedes, Toto Wolff, ao ser assobiado por fãs numa ação da Red Bull ainda no seguimento da multa por exceder os limites dos gastos.

Na teoria tudo poderia ser assim, na prática demorou pouco mais de uns segundos: além de ver Verstappen disparar que nem uma bala na reta antes da curva 1 para a liderança, Carlos Sainz foi tocado por Russell, fez um peão e na segunda volta já estava a arrumar o seu carro nas boxes da Ferrari com o neerlandês a dar quase dois segundos de avanço a segundo classificado Lewis Hamilton. Lance Stroll, também com um grande arranque, subiu à terceira posição à frente de Russell, Vettel passou para quinto, Sergio Pérez foi para sexto e Leclerc era já nono no início da terceira volta. Tudo estava à medida do bicampeão.

A corrida levava o seu caminho natural, com Verstappen a queixar-se por mais do que uma vez do vento à equipa como se fosse o único obstáculo para mais uma vitória, os Mercedes a terem entre si o Aston Martin de Lance Stroll e a dupla Sergio Pérez e Charles Leclerc a subir cinco lugares cada para quarto e sétimo. E foi depois de quase todos os primeiros classificados terem passado pelas boxes para trocar de pneus que o monegasco foi começando a falar com a Ferrari a pedir um “plano E”, que no limite poderia apontar para uma só paragem caso continuasse a sentir-se bem com os médios com que tinha começado.

Foi na 18.ª volta que aquilo que Sainz tinha falado acabou por beneficiar Leclerc: a entrada em pista do safety car, no seguimento de uma saída de Valtteri Bottas que deixou o finlandês parado na gravilha. Com isso, o Ferrari, Sebastian Vettel e Fernando Alonso aproveitaram logo para sair para as boxes, tendo quase uma “borla” para poderem trocar de pneus e com o monegasco a entrar no quarto lugar atrás de Verstappen, Hamilton e Pérez. Começou, parou e demorou a recomeçar: num choque atípico por ser na reta da meta, Fernando Alonso estava encostado em Lance Stroll para tentar aproveitar o cone de ar, o piloto da Aston Martin mudou ligeiramente para a esquerda e acabou por fazer um peão com o carro muito danificado a parar a meio da pista, enquanto o do espanhol ainda voou mas acabou por ficar em pista.

A meio da retomada corrida, Verstappen voltou a cavar uma distância de quase dois segundos para Lewis Hamilton e as atenções centravam-se na luta pela terceira posição, com Leclerc à segunda tentativa a ter uma ultrapassagem fantástica a Pérez no limite da travagem em curva e a iniciar nesse momento o ataque ao segundo posto do britânico que se batia bem com o neerlandês mesmo perdendo de forma sucessiva no segundo setor do traçado. Ainda assim, a lógica acabaria por mudar onde e quando menos se esperava: Max Verstappen ficou com uma das rodas por fechar porque a pistola teve um problema, Leclerc passou pela box ao mesmo tempo saindo à frente e o neerlandês baixava para quinto, sendo que quando Pérez e Vettel passassem pelas boxes passaria de primeiro para terceiro. “Lindo, foi lindo…”, atirou.

A batalha entre os dois melhores pilotos de 2022 estava aberta, com Verstappen a conseguir passar na 39.ª volta mas Leclerc a responder de imediato à letra antes da ultrapassagem definitiva do neerlandês, que estava então a 4,4 segundos de Hamilton. O britânico ficava com uma oportunidade de ouro de voltar a ganhar uma corrida 322 dias depois da vitória na Arábia Saudita que antecedeu o eletrizante Grande Prémio de Abu Dhabi que deu o título a Verstappen em 2021. E a certa altura parecia mesmo que era isso que estava para acontecer mas o neerlandês conseguiu mesmo apanhar o Mercedes a seis voltas do fim, arriscando a ultrapassagem com um mergulho em curva e aguentando a resposta para evitar a tesoura.

Depois do bicampeonato de Verstappen, a Red Bull garantiu também o título no Mundial de construtores quebrando uma hegemonia de oito anos consecutivos da Mercedes e foram estabelecidos mais dois recordes: o número de corridas com dois pilotos nas posições iniciais (32, à frente de Hamilton-Rosberg) e o número de vitórias num só ano (13, igualando Michael Schumacher e Vettel). E pode não ficar por aqui numa época onde o neerlandês está apostado em deixar uma marca muito além do título.