Por uma ou outra razão, há sempre um significado especial na pessoa que assume o discurso na roda de todos os elementos do FC Porto no final do encontro. Pelos golos, pela exibição, por ter feito algo de mais especial em prol do coletivo, até por ter cometido um erro que acabou depois por não penalizar a equipa (e é sempre uma forma de virar a página logo ali). Na Bélgica, era complicado escolher quem se chegava à frente. Pelos golos, havia Taremi. Pelas exibições, além do iraniano, Otávio, Diogo Costa ou Galeno. Pela vertente da redenção, Eustáquio ou Diogo Carmo. No final, acabou por ser o guarda-redes a falar.

Os solos do Blue Floyd Otávio no The Wall Costa (a crónica do Club Brugge-FC Porto)

A primeira parte até foi tranquila para o internacional português. Uma ou outra reposição, uma boa saída num cruzamento mais largo, o habitual bom jogo de pés. No segundo tempo, sobretudo nos minutos logo a abrir, assumiu mais uma vez o protagonismo: depois de uma falta sem necessidade de David Carmo na área, Diogo Costa travou a primeira tentativa dos 11 metros de Vanaken, o árbitro mandou repetir o penálti por considerar que houve invasão da área antes do tempo mas o guarda-redes voltou a travar o remate agora de Lang (52′), mantendo o 1-0 no resultado poucos minutos antes de o FC Porto chegar quase de rajada ao 3-0 com golos de Evanilson (57′) e Eustáquio (60′). E, para que não existissem mesmo dúvidas em relação à alcunha de The Wall ou Parede, ainda defendeu um tiro de Jutglà na área.

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Com mais uma grande penalidade defendida pelo terceiro encontro consecutivo da Champions (as outras duas tinham sido com o Bayer Leverkusen, no Dragão e na Alemanha), Diogo Costa tornou-se o primeiro guarda-redes de sempre a travar três castigos máximos na mesma época na Champions superando nomes como Buffon, Butt, Joe Hart, Ederson ou Kasper Schmeichel, ao mesmo tempo que se tornou também o primeiro guarda-redes da história do FC Porto a parar três penáltis numa só época.

“Foi um jogo muito bem conseguido da nossa parte, apesar de ter defendido dois penáltis. Entrámos muito bem, fomos à procura de ganhar. Jogamos muito unidos e foi o que fizemos. Demos a cara uns aos outros, ajudámo-nos e correu muito bem”, começou por comentar o guardião após o encontro, antes de abordar os cumprimentos especiais de Pinto da Costa e Vítor Baía: “Como já disse, como aconteceu com a atribuição do número, o meu objetivo é tentar fazer melhor do que o Vítor Baía. Treino e trabalho para isso, para ter motivação para embalar este sucesso. Os momentos maus vão chegar, também sei disso, nunca está tudo bem, mas prometo trabalhar todos os dias para que o erro nunca apareça”, salientou.

“Vingança do jogo no Dragão? Sabíamos que só dependíamos de nós. O jogo em casa foi diferente, algo não correu bem, entrámos mal lá na segunda parte… Cometemos erros, fizemos coisas mal, mas este jogo dependia de nós. Sabíamos o que o Club Brugge não tinha feito lá e viemos em busca da vitória, foi o que aconteceu. Penálti repetido? Sinceramente, até pensei que tinha passado a linha de golo mas não, foi uma falta do David. Sinceramente, nunca pensei que fosse defender outro, concentrei-me. É aproveitar esta fase, certamente eles também veem o que faço. O que me interessa é trabalhar todos os dias para vir sempre o melhor preparado possível”, concluiu o número 99 dos azuis e brancos após o encontro.

“As defesas do Diogo [Costa] foram importantes mas houve outros momentos importantes que de certa forma deram algo para conseguirmos esta vitória robusta. A equipa foi forte, esteve bem. Quando a equipa está bem em todos os momentos do jogo, sobressaem as individualidades. O Diogo está lá para isso, para defender. É um guarda-redes de grande qualidade, e a qualidade é manter sempre alto nível, não ter altos e baixos. Pode haver momentos de menos inspiração, mas tem de estar lá a base. Nesta Liga dos Campeões houve momentos e jogos onde não estivemos tão bem. Hoje estivemos, todos. Todo o grupo. Os que ficaram de fora também merecem”, comentou o técnico portista Sérgio Conceição, que deixou ainda reparos à falta de David Carmo na grande penalidade “que poderia ter sido o momento do jogo”.

“Resultado depois do 4-0? Normalmente tenho esse orgulho e essa chama em todos os dias da minha vida, eu sou assim. Não éramos tão maus como fomos no Dragão, nem nos podemos colocar em bicos de pés, porque o futebol muda rápido. Tem de mudar é a determinação. Quero dedicar esta vitória à minha família. Nem é motivo para porem flores em cima, nem no Dragão era para nos apedrejarem. Trabalho sempre dessa forma, há situações em que ficamos frustrados ou desiludidos. Nem podemos chegar ao limite e ao exagero do que aconteceu. Nunca mais vou esquecer o que aconteceu à minha família, nem que vivesse 300 anos. Esta vitória é para os meus filhos e para a minha mulher”, disse ainda o treinador.