No início do mês foi divulgado que o Presidente russo, Vladimir Putin, foi confrontado por um alto dirigente pela má gestão da guerra na Ucrânia. A notícia foi avançada pelo Washington Post, que noticiou que a situação foi considerada tão significativa que o Presidente norte-americano foi informado do assunto. Agora, o mesmo jornal revelou a sua identidade: Yevgeniy Prigozhin, o fundador do grupo mercenário Wagner.
O episódio, negado pelo Kremlin, marcou a primeira vez que veio a público um desentendimento no círculo mais próximo de Vladimir Putin, principalmente no que diz respeito à ofensiva ucraniana. Fontes dos serviços de informação norte-americanos confirmaram ao Washington Post que foi Prigozhin quem confrontou o líder russo, ecoando as críticas que já tinha feito publicamente ao longo das últimas semanas. O facto do alto dirigente ter lançado críticas ao esforço militar russo junto de Putin num ambiente privado mostra que a sua influência está a crescer enquanto Moscovo vacila com a guerra, explicam.
“Esta é a posição política que tem assumido: ‘Eu sou Yevgeniy Prigozhin. Estou aqui para vos dizer a verdade e vou dar conta do trabalho’”, explicou um oficial norte-americano, falando sob a condição de anonimato. Um outro oficial disse que a “decisão de confrontar Prigozhin é apenas o mais recente sinal de descontentamento”. Fontes que leram os relatórios dos serviços de informação norte-americanos disseram ainda ao Washington Post que Prigozhin expressou que o Ministério de Defesa da Rússia depende demasiado no grupo Wagner e não está a dar ao grupo o dinheiro e recursos necessários para a sua missão na Ucrânia.
O fundador do grupo Wagner tinha recentemente negado ter contactado pessoalmente com Putin. “Primeiro, não comuniquei pessoalmente com Vladimir Vladimirovich Putin recentemente nem em qualquer futuro próximo. Não critiquei a gestão das Forças Armadas da Federação Russa durante o conflito na Ucrânia“, referiu, através de um comunicado do serviço de imprensa. Esclareceu ainda que não tem o direito de criticar ou elogiar o trabalho das tropas russas uma vez que não é um especialista militar.
O empresário russo é um aliado próximo do Presidente russo. É inclusivamente conhecido como o “chefe de Putin” porque a sua empresa de catering realiza vários dos jantares frequentados pelo líder russo. Operando na sombra do poder russo, Prigozhin admitiu este ano que fundou o grupo Wagner em 2014 – na primeira confirmação pública de uma ligação ao grupo – para apoiar os separatistas pró-russos no leste da Ucrânia. “Eu próprio limpei as armas velhas, separei os coletes à prova de balas e encontrei especialistas que me podiam ajudar com isto. A partir desse momento, a 1 de maio de 2014, nasceu um grupo de patriotas, que mais tarde veio a ser chamado o batalhão Wagner”, afirmou, citado pelo The Guardian.
O grupo de mercenários – acusado de violações de direitos humanos – tem apoiado a invasão russa e atualmente está a construir uma fortificação anti-tanques fora da cidade de Hirske, na região de Lugansk. É o que indicam imagens de satélite captadas pela Maxar Technologies e divulgadas pela CNN, uma informação corroborada pelo Ministério de Defesa britânico.
Maxar Technologies has published images of fortifications that mercenaries from the Wagner PMC have built near the occupied town of Gorske in #Luhansk Region.
The images show rows of cement pyramids built on the model of Soviet defensive lines. pic.twitter.com/oM3I6UXyz9
— NEXTA (@nexta_tv) October 21, 2022
Recentemente, foram divulgadas imagens do líder do grupo Wagner a recrutar prisioneiros russos para combater na Ucrânia.