No mesmo dia em que a Jerónimo Martins anunciou uma subida dos lucros de quase 30% até setembro, para 419 milhões de euros, o primeiro-ministro revelou que o Governo vai avançar com uma proposta para taxar os lucros extraordinários do setor da distribuição. Esta quinta-feira, numa conferência com analistas, a dona do Pingo Doce, pela voz da administradora financeira, Ana Luísa Virgínia, rejeitou que a empresa esteja a ter lucros em excesso.
“Em Portugal, temos as maiores taxas aplicáveis aos lucros das empresas, e não sabemos como é que a lei vai incidir sobre os ditos lucros não esperados. Infelizmente não vemos, em Portugal, um aumento dos lucros que nos permita dizer que estamos a ter lucros extraordinários ou excecionais. Mas temos de esperar para ver qual será o impacto da lei, dependerá do desenho da lei que for publicada”, afirmou Ana Luísa Virgínia em resposta a uma questão dos analistas sobre o possível impacto da medida anunciada pelo primeiro-ministro.
Governo vai avançar com taxa sobre lucros excessivos para setor da distribuição
“Temos vários negócios em Portugal. Não podemos dizer que, no último ano, a rentabilidade aumentou. A covid afetou a rentabilidade do Pingo Doce e do Recheio. No caso do Recheio, o impacto foi ainda mais notório tendo em conta as restrições. Não sei se a taxa vai ter efeitos sobre isso, vai depender de como for feito o cálculo, mas não vemos nenhum resultado extraordinário. A contribuição ao nível dos nossos lucros é muito limitada no que toca a Portugal”, respondeu ainda Ana Luísa Virgínia, questionada em relação à taxa de imposto a que os lucros da empresa já estão sujeitos.
A Jerónimo Martins apresentou esta quarta-feira uma subida dos lucros de quase 30% até setembro, para 419 milhões de euros. Nos resultados, a empresa afirma que absorveu “parte” dos aumentos nos preços de compra dos produtos aos fornecedores, que aconteceram por causa da inflação, tentando criar “oportunidades de poupança para os clientes” no âmbito de programas de fidelização. Esta estratégia, destaca a empresa, “permitiu um sólido crescimento das vendas e, consequentemente, a proteção da rentabilidade”.
Jerónimo Martins. Dona do Pingo Doce aumenta lucros em quase 30%
O primeiro-ministro anunciou esta quinta-feira que a proposta de lei para tributação dos lucros não esperados abrangerá “o conjunto das empresas que não são só do setor energético, mas são também do setor da distribuição que devem pagar aqueles lucros que estão a ter injustificadamente por via desta crise da inflação”.
Já esta quinta-feira na rádio Observador, em reação ao anúncio do primeiro-ministro sobre a nova taxa, o diretor geral da Associação Portuguesa de Distribuição (APED) também rejeitou a ideia de que o setor esteja a registar os chamados lucros em excesso.
Gonçalo Lobo Xavier confessou a “surpresa” do setor face ao anúncio do primeiro-ministro. “Desconhecíamos por completo este projeto”. O responsável destaca que a distribuição já tem “uma das cargas fiscais mais altas da Europa que já taxa de forma muito clara os lucros das empresas em Portugal”.
Lobo Xavier reforça ainda que, no que toca a lucros extraordinários, a recomendação da UE tem incidido sobre “um setor específico”, a energia, “em função do período que estamos a viver”. E que os resultados da distribuição “não decorrem de nenhum fator extraordinário, ninguém está a beneficiar da guerra na Ucrânia nem do custo dos fatores de produção nem da inflação, pelo contrário, temos vindo a acomodar estes custos para não castigar o consumidor”. A subida dos lucros das empresas, ressalva, resulta do “momento que estamos a viver” ou seja, da inflação, e do facto de os preços dos produtos estarem mais elevados. A APED rejeita que o setor esteja a aumentar as margens.