Ainda antes de subir ao palco, Olena Zelenska, primeira-dama ucraniana, já era a convidada mais esperada da noite de abertura da Web Summit. No seu discurso na cimeira tecnológica, a mulher de Volodymyr Zelensky começou por confessar que, no que à “alta tecnologia” diz respeito, é apenas uma utilizadora.

“Habitualmente, ouvimos que as inovações tecnológicas movem o mundo, mas eu acho que é mais do que isso. Têm o poder de determinar a direção para a qual esta guerra irá”, acrescentou, acusando a Rússia de colocar a “tecnologia ao serviço do terror”.

A intervenção de Zelenska na Web Summit – feita presencialmente – foi focada na forma como a tecnologia tem de ser posta ao serviço das vítimas da guerra e não da destruição. E, no sentido de apelar à ajuda à Ucrânia, que a 24 de fevereiro foi invadida pela Rússia, mostrou como a guerra está a afetar o país, um cenário que descreveu como uma espécie de “regresso ao passado, uma viagem que não pedimos.”

Imaginem que de repente as redes sociais deixam de ser atualizadas, as pessoas já não respondem e depois veem as imagens a preto e branco. E percebem que o impensável aconteceu. Milhares de contas de redes sociais de pessoas na Ucrânia não vão ser atualizadas”, lembrou, numa intervenção que em vários pontos fez questão de recordar as vítimas da guerra, mostrando fotografias e vídeos.

Para Olena Zelenska, as “pessoas deveriam estar a ir a Marte, não esconder-se nas suas caves”. “Não poderíamos acreditar que em 2022 as crianças estariam a esconder-se das bombas”, acrescentou.

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E, neste momento, mostrou um vídeo de um grupo de crianças a cantar a música vencedora da Eurovisão deste ano, Stefania, do grupo ucraniano Kalush Orchestra. “Não consigo acreditar que crianças estão em caves.”

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Olena Zelenska disse que o povo ucraniano teve de passar a “levar os filhos para abrigos de bomba em vez de escola ou atividades”. “Não sabemos quanto tempo é que vão passar nos abrigos. Temos de investir não em soluções high tech nas escolas, mas sim em geradores.”

Além dos desafios, Zelenska também vincou os constrangimentos a nível de energia por que a Ucrânia está a passar, dizendo que “os terroristas viraram-se para a infraestrutura de energia” ucraniana. Para reforçar o seu discurso, a primeira-dama mostrou imagens de Kiev às escuras e disse que “todos os dias”, os ucranianos se veem sem eletricidade, comunicações e internet.

“O país e as suas pessoas estão em modo de crise total.” Olena Zelenska afirmou também que acredita que a “recuperação do país começará pelas pessoas”, abordando a necessidade de haver projetos na área da saúde mental. “Temos de desenvolver projetos de saúde mental. Queremos garantir que todos os médicos, enfermeiros, polícias têm competência para trabalhar” e apoiar pessoas numa situação mais frágil de saúde mental após a guerra.

Na reta final do discurso, a mulher de Volodymyr Zelensky pediu ajuda para a Ucrânia, considerando que a “grande vitória” do país é composta por “pequenas vitórias”.

A nossa luta pela liberdade é a defesa contra o terror”, considerou, explicando que não é possível “enfatizar mais” que “ajuda a Ucrânia agora, significa ajudar o mundo a tornar-se num lugar melhor”.

Ovacionada no final, Olena Zelensky foi cumprimentada por Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, António Costa Silva, ministro da Economia, e PaddyCosgrave, CEO da Web Summit, que descreveu o discurso como “incrivelmente poderoso”.

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A presença de Olena Zelenska na Web Summit deste ano foi mantida em segredo pela organização até esta terça-feira, dia da abertura da cimeira tecnológica.

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