O confinamento durante a pandemia de Covid-19 prejudicou as crianças no último ano do pré-escolar, sobretudo as que vinham de um contexto socioeconómico mais desfavorecido, aumentando ainda mais as diferenças de aprendizagem de alunos vindos de contextos distintos, concluiu um estudo coordenado pela Universidade de Aveiro e publicado pela revista científica Education Studies.

Neste trabalho foram avaliadas competências relacionadas com a escrita, matemática e desempenho motor à entrada do 1.º ciclo, ou seja, na transição do pré-escolar para o 1.º ano do ensino básico, em 11.158 alunos de escolas portuguesas (81% tinha seis anos).

Como era esperado, o confinamento afetou a aprendizagem e o desenvolvimento de competências das crianças que se estavam a preparar para a escola primária, com a escrita a ser mais afetada do que a matemática — e mais afetada no primeiro confinamento — e os alunos de contextos socioeconómicos mais desfavorecidos a serem ainda mais prejudicados por não estarem nas escolas.

Se por um lado a diferença de performance nas tarefas de abordagem à escrita entre os alunos com alto e baixo estatuto socioeconómico já se verificava em anos pré-pandémicos, estas diferenças foram significativamente acentuadas nos anos de confinamento”, refere o resumo do estudo divulgado pelos Empresários Pela Inclusão Social (EPIS), parceiros no projeto.

O impacto do confinamento na aprendizagem da matemática foi também significativo para os alunos de baixo estatuto socioeconómico. “Estes alunos, em contexto de confinamento no seu último ano do pré-escolar, evidenciaram piores resultados quando comparados com alunos de igual estatuto, mas em anos pré-pandémicos“, refere o estudo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Trabalhos anteriores já haviam demonstrado que as crianças de contextos mais desfavorecidos dedicavam menos horas ao estudo em casa, tinham menos acesso a recursos educativos de qualidade e as famílias tinham mais dificuldade em acompanhar as aprendizagens, lembram os investigadores.

As diferenças no desempenho individual entre os alunos com índice de Grafar [para medir estatuto socioeconómico] mais alto ou mais baixo aumentaram durante a pandemia, especialmente durante o primeiro confinamento por ser uma situação nova, pela imprevisibilidade e pela necessidade de adaptação rápida”, escreveram os investigadores.

Nas tarefas motoras, nomeadamente na cópia de figuras para avaliar a motricidade fina e orientação visual e espacial, as perdas de aprendizagens parecem ter sido equivalentes para todos os alunos, não se notando aqui qualquer efeito “protetor” do estatuto socioeconómico para o impacto causado pelo confinamento.

Os autores do trabalho pedem, assim, que a escola, os professores e o Ministério da Educação deem “especial atenção a alunos provenientes de famílias com baixo estatuto socioeconómico, desenhando intervenções educativas centradas no aluno e na família, contribuindo deste modo para encurtar as desvantagens identificadas”.

Mais, no artigo, os investigadores sugerem que se verifique se as perdas durante os confinamentos foram totalmente revertidas no final do 1.º ciclo.

Provas de aferição. Desempenho oral caiu nas crianças do 2.º ano. Escolas apostam na leitura

O resultado das prova de aferição aos alunos do 2.º ano, no ano letivo de 2021/2022, também mostraram como o confinamento tinha afetado as crianças no 1.º ciclo que ingressaram no ensino básico durante a pandemia de Covid-19.

Correção: o estudo não teve apresentação pública, de acordo com a EPIS, ao contrário do que o Observador tinha noticiado inicialmente.
Atualizado às 16h00