A Procuradoria provincial de Cabo Delgado, norte de Moçambique, confirmou esta quinta-feira a prisão de Arlindo Chissale, mas sem o reconhecer como jornalista.

A detenção foi denunciada na terça-feira pelo Misa Moçambique, organização não-governamental (ONG) de defesa da liberdade de imprensa, considerando-a ilegal por estar em parte incerta e incomunicável há mais de uma semana.

Segundo o Misa, o detido é jornalista freelancer e o seu trabalho evidenciou-se no portal Pinnacle News ao cobrir a insurgência armada em Cabo Delgado.

Gilroy Fazenda, porta-voz da Procuradoria de Cabo Delgado, acusou na quinta-feira Chissale de “recolha de informações para a prática de atos terroristas”, num caso encaminhado para tribunal para primeiro interrogatório.

“Não foi detido como jornalista”, realçou, em conferência de imprensa.

O porta-voz disse que houve uma denúncia quando Arlindo Chissale tentou alugar uma pensão inteira em Balama, pedindo que todos os quartos ficassem livres para receber pessoal da sua confiança, alguns deles armados.

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O facto de procurar obter informações sobre as ações das Forças de Defesa e Segurança (FDS) também chamou a atenção, acrescentou.

A Procuradoria disse ainda que o detido mudou de história duas vezes para justificar a sua presença no distrito, entre trabalhos sigilosos e um outro trabalho para um partido da oposição, sendo que só no último depoimento disse que era jornalista, mas apresentando uma credencial caducada.

“A prisão observou todos os ditames legais”, concluiu.

Apesar de questionado, o porta-voz não indicou onde Chissale está detido, mas fonte do Misa referiu que está à guarda das autoridades em Balama.

O presidente do núcleo do Misa em Cabo Delgado, Jonas Wazir, disse ter ficado “surpreso” com as alegações do Ministério Público, mas garante que um advogado da organização vai “continuar a seguir o caso”.

A província de Cabo Delgado tem sido aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.

Em cinco anos, o conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.