O juiz Ivo Rosa afirmou que exerceu o seu cargo no Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), mais conhecido por Ticão, com “gosto e dedicação”, apesar da “complexidade e do volume do trabalho”. Admitindo que a função lhe causou “prejuízo para a vida pessoal e para a saúde” — referindo-se à cirurgia no coração que o levou a suspender a instrução do caso BES/GES —, o magistrado reforçou que a sua “capacidade de trabalho” já não é a mesma do que a que dispunha há alguns meses.

Citado pelo Jornal de Notícias durante a conclusão do debate instrutório do processo O-Negativo, Ivo Rosa confidenciou que nunca voltará a “trabalhar” como trabalhou até agora. “Não consigo trabalhar 14 horas por dia, sete dias por semana, como fiz durante dois anos. Não sou o que era e a idade também já não é a mesma”, disse.

Ivo Rosa sublinhou que “ao longo de oito anos” em que esteve investido das “funções de juiz de instrução criminal” sempre o fez “de forma fundamentada, livre, independente e imparcial”. Numa alfinetada a Carlos Alexandre, o magistrado garantiu que não é, nem nunca quis ser, um “super, nem infra [juiz], nem corajoso, nem medroso”. “Apenas sou um juiz que se limita a apreciar a prova”, sinalizou.

No que diz respeito à última decisão instrutório no TCIC, relacionada com o O-Negativo, processo conhecido como a Máfia do Sangue  —, Ivo Rosa descreveu-a como a “mais complexa” a seguir da Operação Marquês. Além disso, sobre a fusão do Ticão com o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, o magistrado indica que na base estiveram “motivações políticas”, frisando a “urgência” da deliberação.

No final da sessão desta segunda-feira, Ivo Rosa disse que não iria para já anunciar uma data para proferir o despacho do O-Negativo (que define se os arguidos vão ou não a julgamento), justificando que necessita de “tempo” para o efeito, pois trata-se de um processo com vários arguidos, 45 crimes, 135 volumes, 1.062 folhas, 4.095 artigos, centenas de documentos bancários, 69 testemunhas inquiridas e seis arguidos a requerem a abertura de instrução.

Considerando que este terá sido porventura o segundo processo mais complexo e extenso que tratou em oito anos no Tribunal Central de Instrução Criminal logo a seguir à Operação Marquês, Ivo Rosa relatou todas as vicissitudes do caso, desde a fase de inquérito até à atual fase processual, para justificar o facto de não poder, de imediato, anunciar uma data para a sua decisão, face à expectativa dos arguidos a uma decisão em tempo possível.

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