Os rumores circulavam há uns dias online, mas só esta quarta-feira é que o Kremlin divulgou um vídeo de uma alegada reunião entre responsáveis do ministério da Defesa russo e o general Surovikin, o responsável máximo em território ucraniano pelos movimentos dos militares de Putin. Num curto vídeo e um diálogo aparentemente parco em palavras, Surovikin comunica ao ministro da Defesa, Sergei Shoigu, que a próxima fase deverá ser “ao longo da margem esquerda do rio Dnipro”. Traduzindo: Kherson é para deixar para trás.

“Tendo avaliado exaustivamente a situação atual, propõe-se assumir a defesa ao longo da margem esquerda (leste) do rio Dnipro”, disse o general Surovikin, de pé atrás de púlpito e com um mapa ao lado direito.

Com a imagem do mapa intencionalmente desfocada, não há um único plano da mensagem que foi divulgada onde se veja, por exemplo, em simultâneo o general Surovikin e o ministro da Defesa Shoigu ou qualquer um dos outros homens do Kremlin.

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E se Shoigu está ladeado por quatro responsáveis do ministério da Defesa, Surovikin surge solitário naquilo que parece ser o lado da sala. Com o olhar fixo, como se estivesse a seguir um teleponto com guião, o general acrescenta que sabe tratar-se de “uma decisão muito difícil.”

“Entendo que esta é uma decisão muito difícil, mas ao mesmo tempo vamos preservar o mais importante: a vida dos nossos militares e, em geral, a eficácia do combate do grupo de militares. É inútil continuar na margem direita em uma área limitada”, disse o general.

Na resposta, sobre aquela que é uma das autoproclamadas repúblicas pró-russas na Ucrânia, o ministro da Defesa russo Sergei Shoigu deu o “ok” necessário para consumar a retirada das tropas.

“Concordo com as suas conclusões e propostas. Para nós, a vida e a saúde dos militares russos são sempre prioridade”, começou por dizer o ministro da Defesa de Putin. “Também devemos considerar as ameaças à população civil. Prossiga com a retirada das tropas e tome todas as medidas para garantir a transferência segura de pessoal, armas e equipamentos através do rio Dnipro.”

Depois de Kiev e Kharkiv, Kherson é a terceira “derrota tremenda” de Putin. Mas porque pede Zelensky contenção?

Num continente diferente, o Presidente norte-americano, aproveitou uma conferência de imprensa na Casa Branca para dizer que “há algum tempo” que sabia que a Rússia ia fazer um anúncio semelhante e nas redes sociais também circularam boatos sobre a retirada, mas Kiev mantém a precaução depois do anúncio da retirada. Não estão longe as notícias sobre as jogadas estratégicas com contrainformação que a Ucrânia usou para recuperar alguns milhares de quilómetros de fronteira e fazer os russos recuar e os homens de Zelensky temem que esta possa ser uma cartada russa no mesmo sentido. Para já, fica no ar a hipótese de esta ser a terceira grande derrota de Putin em território ucraniano, depois de Kiev e Kharkiv.