Quase um mês depois da revelação do Polestar 3 e após a divulgação a conta-gotas de vários teasers, foi finalmente apresentado na capital da Suécia, Estocolmo, o topo de gama a bateria da Volvo, o novo EX90, SUV que partilha praticamente tudo com o Polestar 3, diferenciando-se deste essencialmente pelo facto de oferecer sete lugares, ao passo que o 3 se fica pelos cinco e por um estilo mais “coupé”.
À semelhança do Polestar 3, o EX90 que vai chegar ao mercado em 2023 será construído na fábrica da Volvo nos Estados Unidos da América, em Charleston, onde está previsto que a produção arranque apenas no final do próximo ano. De acordo com a AutoForecast Solutions, em 2024, deverão sair da linha de produção na Carolina do Sul 64.000 unidades do EX90, sendo que este SUV será igualmente fabricado na China.
Considerado o lançamento mais importante do construtor sueco desde o lançamento do XC40, em 2017, o equivalente a bateria do Volvo XC90 é posicionado pela marca como um marco que “promete o início de uma nova era para a Volvo Cars”. Uma era necessariamente eléctrica, pois o construtor nórdico comprometeu-se a comercializar exclusivamente veículos a bateria até 2030. Convém realçar, contudo, que até lá o novo EX90 vai ser comercializado lado a lado com o seu congénere a combustão, o XC90, que continuará no mercado com versões híbridas plug-in. O ano passado, este foi o 3.º modelo mais vendido da Volvo globalmente, com a entrega de 108.231 unidades. Ora, se o EX90 prevê produzir, só nos EUA, 64.000 veículos num ano completo, parece que a expectativa da marca é que os clientes do XC90 se desloquem para a alternativa a bateria.
Como ponta de lança que aponta o rumo da Volvo para um futuro não muito distante, o EX90 representa um enorme passo em frente face aos XC40 e C40 Recharge (a bateria), por ser o primeiro modelo eléctrico da Volvo a ser construído sobre uma plataforma específica para acomodar packs de baterias e motores eléctricos, maximizando simultaneamente o aproveitamento do espaço a bordo e a eficiência energética. Muito contida na quantidade de informação disponibilizada à imprensa acerca deste novo modelo, a Volvo não refere sequer a arquitectura em que assenta o EX90. Mas trata-se de uma segunda versão da Scalable Product Architecture (SPA) introduzida com a segunda geração do XC90. Daí que esta plataforma projectada exclusivamente para modelos eléctricos seja designada como SPA2.
Muito ruído à volta de um modelo silencioso
Para “abrir o apetite” para a revelação do seu modelo mais importante nos últimos anos, a estratégia da Volvo passou por divulgar previamente uma catrefada de informações sobre os elementos mais distintivos do EX90. No entanto, a apresentação de 9 de Novembro, em Estocolmo, pouco mais fez do que juntar as peças do puzzle e mostrar por completo, sem artifícios ou camuflagens, qual é o aspecto do futuro topo de gama sueco. Não foram anunciadas as medidas do modelo, nem a capacidade da bagageira, nem tão pouco a potência com que aceita carga rápida ou se a capacidade do acumulador anunciada (111 kWh) corresponde à capacidade útil ou total…
Ficámos a saber, isso sim, que a versão de lançamento do EX90 vai ter tracção às quatro rodas, montando um motor eléctrico no eixo da frente e outro no de trás, para passar ao solo uma potência combinada de “até 380 kW”, ou seja, 517 cv e um binário de 910 Nm. Deduz-se que, posteriormente, surgirão versões com tracção apenas a um eixo, para baixar o preço de acesso à gama. As performances também não foram comunicadas, sendo certo que este Volvo, à semelhança de todos os outros, não deverá poder exceder os 180 km/h de velocidade máxima, medida que a marca defende ser em prol da segurança rodoviária, mas que, no caso dos eléctricos, acaba por influenciar o alcance entre recargas.
Quanto à autonomia, de acordo com o protocolo europeu de homologação de consumos e emissões, deverá chegar aos 600 km com uma carga completa. Uma vez com apenas 10% de energia no acumulador, o futuro condutor do EX90 pode ligá-lo a um posto de carga rápida e bastará esperar apenas meia hora que a bateria atinja 80%.
Lixo é o novo luxo. Mas não é o único
Se, por fora, o novo EX90 exibe os traços estilísticos que caracterizam o design dos escandinavos, por dentro, conte com um ambiente clean e elegante, onde imperam os “materiais naturais ou de origem responsável”. Por isso, se a marca mantiver o que disse no passado, esqueça os revestimentos em pele.
Há, de forma evidente, uma preocupação da marca em assumir uma postura amiga do ambiente. Tanto assim é que quer a fábrica na China, quer a dos EUA, onde o SUV eléctrico será fabricado, se propõem ser “ambientalmente neutras”. Mas o próprio EX90 incorpora a percentagem mais elevada de sempre de materiais reciclados num novo modelo da Volvo: 15% de aço, cerca de 25% de alumínio e 15% do total de plástico utilizado, o que equivale a 48 kg de plástico reciclado e materiais de base biológica.
A eco-sustentabilidade não é o único luxo do topo de gama nórdico. Desde logo, porque este vem equipado de série com o hardware necessário para permitir a carga bidireccional, isto é, o próprio SUV pode fornecer energia a outros veículos ou à casa. Depois, o EX90 é apresentado como um “computador sobre rodas”, na medida em que também vai sair de fábrica equipado com a tecnologia necessária para, quando tal for possível, permitir a condução totalmente autónoma. Para tal, monta um LiDAR, oito câmaras, 16 sensores ultrassónicos e cinco radares, cuja informação é processada com tecnologia da NVIDIA. Porém, como não é para amanhã que o condutor se vai poder livrar do volante, a Volvo trata de garantir que os olhos estão na estrada e atentos, recorrendo a câmaras e a sensores para medir a atenção ou detectar fadiga ou distracções. E, se necessário, o EX90 intervém, podendo no limite ligar as luzes de perigo e parar em segurança.
Por fim, referência para os dois ecrãs a bordo, idênticos nas especificações e nas funcionalidades aos que se encontram no Polestar 3. Assim, além do que serve a instrumentação, ao centro destaca-se um display na vertical, com 14,5 polegadas. É a porta de entrada para o sistema de infoentretenimento, ligado continuamente à Internet 5G e compatível com Apple CarPlay e Android Auto sem fios. A seu favor tem o facto de ter integração Google e receber actualizações de software over-the-air (OTA). Também remotamente, haverá uma série de funções no veículo que se poderão accionar a partir do smartphone, embora previsivelmente a marca pretenda fazer-se cobrar por essas comodidades. Garantidamente à borla é a chave do EX90, pois o SUV vem de série preparado para que o condutor o tranque e destranque com o seu próprio telemóvel.