O Instituto Nacional de Estatísticas (INE) anunciou que a inflação em outubro se fixou em 10,1% face ao mesmo período do ano passado. Este valor representa uma correção em baixa face à estimativa rápida divulgada anteriormente e a qual apontava para uma subida de 10,2% no índice de preços (na verdade a diferença é muito residual de 10,15% para 10,14%, mas que ganha uma maior dimensão por causa do arredondamento). É a inflação mais alta desde maio de 1992 e representa uma taxa superior em 0,8 pontos percentuais face à inflação de setembro.  A variação média dos últimos 12 meses fixou-se nos 6,7% (estava em 6% em setembro).

De acordo com o INE, as classes que mais puxaram os preços para cima foram a dos bens alimentares e bebidas não alcoólicas com uma variação de 2,1%, face aos 0,7% registados em setembro, e da habitação, água, eletricidade, gás e combustíveis que teve uma variação de 4,1%. Já por produto, o gás natural foi o que teve maior contributo na subida mensal do índice com uma variação de 77,4% face a setembro. Em termos homólogos, o preço do gás natural disparou 151,8% quando em setembro a subida face ao mesmo mês do ano passado estava nos 47,8%.

Mais de 100 mil pediram para voltar à tarifa regulada do gás. São menos de 10%, mas ministro não considera pouco

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Esta subida dos preços do gás pago pelas famílias já era esperada, dado os anúncios feitos por vários comercializadores de aumentos expressivos em outubro. E a medida adotada pelo Governo de permitir o regresso dos consumidores à tarifa regulada não teve no primeiro mês um impacto que permitisse travar a escalada do gás natural nos clientes finais.  Até agora, 104 mil consumidores pediram para regressar à tarifa regulada onde os preços subiram apenas 3,9%, mas este universo representa menos de 10% do universo total de clientes que estão no mercado liberalizado.

Se o gás “deu gás à inflação”, já a eletricidade teve o contributo contrário, sendo um dos produtos do cabaz seguido pelo INE a registar uma variação negativa face a setembro, de 2,69%, não obstante a tarifa regulada da luz ter subido 3% em outubro. Os outros produtos que tiveram quedas de preços estão associados ao turismo e aos transportes e refletem o efeito da sazonalidade marcado por uma baixa da procura.

O indicador de inflação subjacente que exclui produtos alimentares não transformados e energéticos aumentou 7,1%, revelando também uma aceleração face a setembro em que esse indicador tinha sido de 6,9%. O índice dos produtos energéticos saltou 27,6%, contra 22,2% em setembro.

O Índice de preços harmonizado ao consumidor que serve de comparação com a União Europeia fixou-se nos 10,6%, ligeiramente abaixo da média estimada para a zona euro pelo Eurostat. No entanto, quando se olha para a evolução dos preços sem alimentos e produtos energéticos, o índice de Portugal está nos 8% em outubro acima da média estimada para a zona euro que é de 6,4%.

Inflação supera os 10% em outubro. Portagens podem subir 10,46%

Portagens com subida de 10,4% em 2023 se o Governo não intervir

A inflação de outubro é usada como referência para o cálculo da atualização das portagens no próximo ano e os dados agora divulgados pelo INE indicam que o índice de preços ao consumidor sem habitação subiu 10,44%.  Sem uma intervenção do Governo, as concessionárias das principais autoestradas vão propor uma subida da mesma dimensão nas novas tarifas. A proposta será feita até ao dia 15 de novembro, mas a Inspeção-Geral das Finanças e o Instituto de Mobilidade e Transportes têm até 30 dias para se pronunciarem.

De acordo com uma ronda feita pelo Observador quando foram conhecidos os números da estimativa rápida do INE, as concessionárias aguardavam um iniciativa por parte do Governo.

Concessionárias aguardam eventuais propostas do Governo para travar aumento histórico das portagens

O ministro das Finanças sinalizou alguma abertura negocial por parte do Estado, mas em entrevista ao Observador, Fernando Medina reconheceu que seria difícil chegar a um acordo já que estaria em causa algum tipo de compensação às empresas. O tema quase não tem sido suscitado pelos partidos da oposição na discussão do Orçamento do Estado que se está a realizar no Parlamento. Esta segunda-feira, a deputada do PCP, Paula Santos, colocou a pergunta ao ministro das Infraestruturas, mas Pedro Nuno Santos não respondeu.

Nota ainda para um aumento de 3,1% nas rendas de habitação por metro quadrado, face ao mesmo mês do ano passado, o que traduz uma aceleração face a setembro quando este indicar estava a crescer 2,9%. O aumento mais expressivo, de 3,3% verificou-se em Lisboa.