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Ramos, o pistoleiro que voltou, viu e venceu antes de ir para casa fazer as malas (a crónica do Benfica-Gil Vicente)

Este artigo tem mais de 1 ano

Dias depois de ser convocado para o Mundial, Gonçalo Ramos voltou ao onze encarnado e marcou dois golos na vitória frente ao Gil Vicente (3-1). Benfica mantém-se invicto e com 8 pontos de vantagem.

SL Benfica v Gil Vicente - Liga Portugal Bwin
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O jovem avançado português é o melhor marcador do Campeonato, com nove golos

Getty Images

O jovem avançado português é o melhor marcador do Campeonato, com nove golos

Getty Images

O princípio de acordo entre Benfica e Roger Schmidt foi anunciado no final de abril, quando os encarnados ainda procuravam assegurar o terceiro lugar do Campeonato e quando o alemão era ainda treinador do PSV. Na altura, as perguntas foram várias: porquê Schmidt?, porquê um treinador estrangeiro?, porquê a confirmação de uma contratação para a época seguinte quando a atual ainda não tinha terminado?. Sete meses depois, todas as perguntas parecem ter uma resposta lógica.

Porquê Schmidt? Para desenvolver um futebol ofensivo, com um caudal atacante sem comparação dentro da Primeira Liga e muito associado aos habituais rolos compressores da Bundesliga. Porquê um treinador estrangeiro? Para romper com a tradição portuguesa e surpreender os adversários com abordagens distintas e inesperadas, para além do obrigatório desdobramento na Liga dos Campeões. Porquê a confirmação de uma contratação para a época seguinte quando a atual ainda não tinha terminado? Porque, a partir desse momento, o Benfica deixou de ser o Benfica e passou a ser o Benfica de Roger Schmidt.

Ficha de jogo

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Benfica-Gil Vicente, 3-1

13.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Manuel Oliveira (AF Porto)

Benfica: Vlachodimos, Alexander Bah, António Silva, Otamendi, Grimaldo, Florentino, Enzo Fernández, David Neres, Rafa (Chiquinho, 67′), João Mário (Diogo Gonçalves, 81′), Gonçalo Ramos (Musa, 67′)

Suplentes não utilizados: Helton Leiton, Gilberto, Lucas Veríssimo, Ristic, John Brooks, João Victor

Treinador: Roger Schmidt

Gil Vicente: Kritciuk, Carraça, Né, Rúben Fernandes, Marín (Henrique Gomes, 75′), Bueno (Ali Alipour, 75′), Vitor Carvalho, Fujimoto (Aburjania, 75′), Bilel (Boselli, 62′), Fran Navarro, Murilo (Simões, 83′)

Suplentes não utilizados: Brian, Hackman, Mizuki, Danilo

Treinador: Carlos Cunha

Golos: João Mário (gp, 9′), Fran Navarro (gp, 17′), Gonçalo Ramos (36′ e 53′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Otamendi (87′)

Sete meses depois do princípio de acordo, os encarnados entravam para a última jornada do Campeonato antes da paragem para o Mundial do Qatar na liderança isolada, ainda sem qualquer derrota em todas as competições e com o apuramento para os oitavos de final da Liga dos Campeões já garantido. Este domingo, contra o Gil Vicente, o Benfica despedia-se da Luz e dos próprios adeptos até depois do Campeonato do Mundo — e tinha de vencer para partir para essa paragem com oito pontos de vantagem em relação ao FC Porto, já que os dragões já tinham vencido o Boavista no Bessa nesta jornada.

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Na antecâmara da partida, a antevisão mais certeira acabou por ser feita por Carlos Cunha, o treinador gilista. “Como se pára este Benfica? É uma pergunta para um milhão de dólares. Mas queremos ser os primeiros a fazê-lo sem, no entanto, estacionar o autocarro à frente da baliza. Vamos estacioná-lo no estádio, sim, mas não no relvado. Para isso, terá de ser um dia infeliz para o nosso adversário e feliz para nós. Só aí é que o David ganhará contra o Golias. Temos de ser realistas. Este Benfica ainda não perdeu e só empatou contra equipas estrangeiras. Mas também não ganhou ao Caldas, que é da Liga 3. Portanto, não vamos abdicar de valorizar o jogo e tentar conquistar pontos”, explicou o técnico, que ainda recordou que o Gil Vicente foi ganhar à Luz nas duas últimas épocas.

Assim, neste contexto, Roger Schmidt não tirava o pé do acelerador e mantinha o onze inicial habitual, motivando apenas o regresso de Gonçalo Ramos à titularidade — o avançado recuperava o lugar no ataque, em detrimento de Musa e depois de ter estado lesionado, e voltava aos relvados dias após ter sido convocado por Fernando Santos para o Mundial do Qatar. Do outro lado, numa equipa que está em zona de despromoção, Carlos Cunha não podia contar com os castigados Kevin Medina e Lucas Cunha, os lesionados Lucas Barros e Andrew e ainda Tomás Araújo, que está emprestado pelo Benfica ao Gil Vicente.

O Gil Vicente entrou bem, demonstrando desde logo que pretendia ter posse de bola em zonas adiantadas na Luz, mas o Benfica também não demorou a deixar claro que não queria adiar demasiado o primeiro golo. Os encarnados acertaram no poste por intermédio de Rafa logo nos minutos iniciais (5′), ainda que o lance tenha sido anulado por fora de jogo, e abriram o marcador ainda dentro do primeiro quarto de hora: o mesmo Rafa sofreu falta de Rúben Fernandes na grande área gilista, Manuel Oliveira assinalou grande penalidade e, na conversão, João Mário não falhou (9′).

Depois do golo do internacional português, que foi convocado por Fernando Santos e vai estar no Mundial do Qatar, o Benfica beneficiou de minutos de controlo absoluto em que enterrou o Gil Vicente no próprio meio-campo defensivo. Os encarnados pressionavam muito alto, não permitiam que os gilistas tivessem tempo para pensar ou sair de forma apoiada e estavam constantemente no último terço — com Neres a evidenciar-se nesta fase, principalmente através dos movimentos interiores que realizava a partir da direita e que criavam espaço na faixa central.

Enzo teve a melhor oportunidade deste período, com um pontapé de fora de área que passou por cima da trave (15′), e o Gil Vicente acabou por conseguir chegar ao empate sem que nada o fizesse prever. Otamendi tocou com a mão na bola depois de um cabeceamento de Fran Navarro na área do Benfica e, na conversão da grande penalidade, o espanhol não falhou e bateu Vlachodimos (17′). Rafa teve uma enorme ocasião para marcar logo depois do empate, o rematar já em esforço depois de um cruzamento de Bah na direita (23′), mas a verdade é que o Gil Vicente beneficiou do melhor momento no jogo na chegada à meia-hora.

Na Luz, a equipa de Carlos Cunha teve longos períodos de posse de bola, demonstrando uma organização acima da média e uma enorme capacidade para trocar de flanco e manter o Benfica longe do último terço. Ainda assim, a posse de bola do Gil Vicente era totalmente inconsequente, já que os gilistas não criavam oportunidades nem chegavam perto da baliza adversária, e limitava-se a impedir que os encarnados ficassem perto do segundo golo. Algo que, apesar de tudo, acabou por revelar-se impossível de alcançar.

Já perto do intervalo, Rafa desequilibrou pelo corredor central, abriu em Neres na direita e o brasileiro tirou um cruzamento rasteiro que desviou num defesa e no guarda-redes antes de chegar ao segundo poste, onde Gonçalo Ramos só precisou de encostar para marcar pelo terceiro jogo consecutivo (36′). No fim da primeira parte, os encarnados estavam a ganhar de forma natural mas não exuberante — muito por mérito da imagem positiva que os gilistas iam deixando na Luz.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Benfica-Gil Vicente:]

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e o Benfica nem sequer precisou de 10 minutos para dilatar a vantagem e arrumar com as contas do jogo. Na sequência de um canto cobrado na esquerda à maneira curta, Enzo cruzou para a grande área e Gonçalo Ramos, em posição central, cabeceou para bisar na partida e isolar-se enquanto melhor marcador do Campeonato (53′). Carlos Cunha foi o primeiro a mexer, trocando Bilel por Boselli à passagem da hora de jogo, e o encontro ia decorrendo de forma natural e debaixo de muita chuva.

Roger Schmidt começou a gerir esforços a pouco mais de 20 minutos do fim, trocando Ramos e Rafa por Musa e Chiquinho, e o jogo acabou por não ter grande história até ao final. Diogo Gonçalves ainda teve alguns minutos, Musa ficou muito perto de marcar mas atirou ao lado na cara do guarda-redes (78′) e Neres teve nos pés a melhor oportunidade do segundo tempo com um pontapé em jeito que acertou no poste da baliza adversária (78′).

No fim, o Benfica venceu o Gil Vicente na Luz, manteve a invencibilidade e entra na interrupção da Primeira Liga na liderança isolada e com oito pontos de vantagem em relação ao FC Porto, que é o segundo classificado. Num dia em que os encarnados até brilharam menos do que aquilo que tem sido habitual, Gonçalo Ramos regressou ao onze inicial, marcou duas vezes, confirmou-se como melhor marcador da Liga e deu a melhor resposta à convocatória para o Mundial do Qatar.

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