O Presidente norte-americano, Joe Biden, aproveitou a sua primeira reunião presencial com o homólogo chinês, Xi Jinping, para deixar alertas sobre a situação em Taiwan, dizendo que os Estados Unidos se irão opor a quaisquer “mudanças unilaterais” ao statu quo na ilha.

De acordo com o comunicado da Casa Branca revelado após o fim da reunião de mais de três horas em Bali, à margem da cimeira do G20, o líder norte-americano deixou clara a posição norte-americana no que diz respeito à ilha, criticando as “reações coercivas e crescentemente agressivas” em relação a Taiwan. Apesar disso, Biden sublinhou que os EUA continuam a respeitar a política de “uma só China” — ou seja, não reconhecendo oficialmente a independência daquele território.

Isso mesmo relembrou Biden numa conferência de imprensa após o encontro: “A nossa política de uma só China não mudou”, disse o Presidente norte-americano. Questionado sobre o tema pelos jornalistas em detalhe, Biden voltou a reforçar que a política dos EUA em relação a Taiwan mantém-se inalterada e disse que Xi “compreendeu isso”, evitando focar-se nos avisos que a sua equipa destacou no comunicado.

Em vez disso, o Presidente aproveitou a conferência de imprensa para enviar uma mensagem de conciliação a propósito da relação entre os Estados Unidos e a China: “Acredito completamente que não tem de haver uma nova Guerra Fria”, disse Biden, que destacou várias vezes o caráter “franco” do encontro. “Xi é direto, mas também capaz de compromissos”, afirmou o líder norte-americano.

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Já do lado chinês, o comunicado oficial divulgado pela agência Xinhua sublinha o caráter “detalhado, franco e construtivo” do encontro, mas deixa claro que Xi Jinping decretou uma possível intervenção norte-americana em Taiwan como uma “linha vermelha” para a China. O assunto, disse Xi, “é o centro dos interesses centrais da China, a fundação das fundações políticas da relação China-EUA e é uma linha vermelha que não pode ser ultrapassada”.

Comunicados com tons diferentes sobre Ucrânia e Rússia

Outro dos temas abordados no encontro, de acordo com Washington, foi a guerra na Ucrânia e a tensão com a Rússia. Segundo a Casa Branca, Biden e Xi Jinping “reiteraram o seu acordo de que uma guerra nuclear nunca deve ser combatida“.

O comunicado chinês, porém, não faz menção a armamento nuclear, dizendo apenas que “o confronto entre grandes países deve ser evitado”. Ainda sobre este tema, Pequim diz também que veria com bons olhos o regresso às conversações entre Rússia e Ucrânia e pede aos “Estados Unidos, NATO e União Europeia” que levem a cabo “um diálogo exaustivo com a Rússia”.

O combate às alterações climáticas foi destacado ainda por Biden como uma das áreas onde pode haver cooperação entre os dois países, mas o Presidente norte-americano não escondeu que os EUA pretendem continuar a “competir vigorosamente” com a China. “Essa competição não deve transpor-se para um conflito”, acrescentou, porém, o Presidente, que defendeu a comunicação entre os dois países. Essa comunicação está evidente na decisão de enviar o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, à China em breve.

Os Estados Unidos aproveitaram ainda para levantar uma série de preocupações na área dos Direitos Humanos na China, nomeadamente a situação em Xinjiang — onde cidadãos muçulmanos têm sido colocados em campos de reeducação — e em Hong Kong.

“A História é o melhor manual”, disse Xi à chegada

No início do encontro — que é a primeira reunião presencial entre os dois desde a tomada de posse de Biden, em 2020 —, os dois fizeram declarações iniciais transmitidas pela comunicação social com um tom conciliatório.

“Sr. Presidente, é bom vê-lo”, disse Xi Jinping a Biden no arranque da reunião presencial, de acordo com declarações citadas pela BBC. “A última vez que nos encontrámos foi em Davos, há mais de cinco anos. Desde que o senhor assumiu a presidência, temos mantido contacto em chamadas online, mas nada substitui o cara-a-cara. E hoje temos esta reunião cara-a-cara.”

O líder chinês disse que, neste tempo, os dois ganharam “experiência” e aprenderam “lições”.

“A História é o melhor manual e devemos usar a história como um espelho”, disse ainda Xi, salientando que as relações entre os dois países estão numa situação sensível. “Damos muita importância a isso. Enquanto líderes dos dois maiores países temos de traçar o caminho correto.”

“Temos de encontrar a direção certa para a relação bilateral avançar e elevar a relação”, afirmou Xi.

Este é o primeiro encontro presencial entre os dois líderes desde que Joe Biden assumiu a presidência dos Estados Unidos, em 2020. Biden e Xi, porém, já tiveram outras reuniões no passado, quando o norte-americano era vice-presidente de Barack Obama. A reunião surge numa altura em que as relações diplomáticas entre a China e os EUA estão numa situação particularmente frágil desde a recente visita da líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, a Taiwan, território que a China reclama como seu — recusando manter relações diplomáticas com quem reconhece a independência de Taiwan.

Joe Biden, por seu turno, na declaração inicial, afirmou que é importante evitar o “conflito” entre as duas potências. Isto apesar de, nos últimos meses, ter por várias vezes reafirmado que os Estados Unidos se comprometem a defender militarmente Taiwan em caso de ataque chinês.

Esta segunda-feira, o líder americano disse estar “comprometido com a manutenção da comunicação” entre Washington e Pequim, para que os dois países possam “trabalhar juntos em assuntos globais”, como as alterações climáticas e as questões de segurança.

Xi Jinping chega a este encontro depois de ter confirmado a sua liderança do Partido Comunista Chinês no Congresso do mês passado, iniciando um terceiro mandato inédito na História do Partido. No discurso que fez à altura, sublinhou que Taiwan é um assunto que diz apenas respeito à soberania chinesa e condenou a ingerência de outros países.