Há três meses que os confrontos no Irão, que exigem a queda da República Islâmica, aumentaram de intensidade. Esta sexta-feira, os manifestantes atacaram o coração do regime, ao incendiar a casa do Aiatolá Khomenei. Os vídeos circulam nas redes sociais e a imprensa iraniana dá conta do sucedido, embora Teerão negue os acontecimentos. David Patrikarakos, jornalista que escreveu um livro sobre o Irão e tem ascendência iraniana, considerou que este foi um ataque “à essência do regime”.
Já o Iran Internacional escreve que “o ato de desafio sem precedentes tornou-se uma sensação nas redes sociais persas, com dezenas de milhares de pessoas a assistir e a partilhar o vídeo do incidente”. Desde o início dos confrontos, 5 manifestantes já foram condenados à morte.
Nas sermões das orações de sexta-feira — um dos momentos mais importantes de adoração a Deus no Islão — Ahmad Khatami, clérigo xiita iraniano, e membro do Conselho dos Guardiões, chamou aos manifestantes “assassinos”, “inimigos de Deus”, e reforçou a ideia de que quem protesta deve ser condenado à morte.
Khomeini é o pai da revolução de 1979, altura em que foi fundada a República Islâmica do Irão. Nessa altura, foi criado o cargo de Líder Supremo, título que pertenceu a Khomeini até à sua morte em 1989. Foi sucedido por Ali Khamenei que se mantém no poder até hoje.
Remarkable: Protestors in Iran torched the ancestral home (now a museum) of Ayatollah Khomeini, the father of the 1979 revolution, in the town of Khomein. pic.twitter.com/ikWMVVfzfM
— Karim Sadjadpour (@ksadjadpour) November 18, 2022
A casa de Khomeini, na província de Markazi, foi transformada em museu há 30 anos, depois da morte do aiatolá. Nos vídeos publicados, embora não se vejam pormenores do acidente, percebem-se as chamas e vê-se o edifício parcialmente a arder. O ataque aconteceu quinta-feira à noite.
As agências internacionais AFP e Reuters confirmaram a notícia.
Os protestos contra a República Islâmica aumentaram de intensidade em setembro. A morte de Mahsa Amini no hospital, jovem detida pela chamada polícia da moral por uso incorreto do véu islâmico, foi o gatilho para que cada vez mais iranianos protestem contra o regime de Teerão.
Um total de 227 membros do parlamento iraniano (num total de 290) apelaram ao poder judicial que condene os manifestantes à morte, por considerá-los inimigos de Deus.
As condenações à morte já começaram a acontecer. Segundo a Human Rights Activists News Agency, cinco manifestantes receberam a pena capital e outros 9 estão acusados de crimes que que podem ser punidos com a pena capital.
Astonishing scenes from #Iran. Protesters have burned down the house of Ruhollah Khomeini, the Islamic Republic’s founder.
The house has been a museum for the past 30 years. This is an attack in the essence of the republic itself. pic.twitter.com/Qtk5jr5AR6
— David Patrikarakos (@dpatrikarakos) November 18, 2022
Além do ataque ao museu de Khomenei, o Iran Internacional dá conta de que também um seminário na cidade religiosa de Qom, perto de Teerão, foi atacado e incendiado. Os protestos, durante a madrugada, multiplicaram-se por todo o país. Em Bukan, foi incendiado um escritório do ministério da justiça e, em Rasht, o escritório de um membro do parlamento.
A video shared by @1500tasvir shows protesters have torched parts of the Shia Seminary of Qom, shortly after burning another symbol of the Islamic Republic, namely the house museum of the regime’s founder in Khomein. pic.twitter.com/MQNPOLcOpj
— Iran International English (@IranIntl_En) November 18, 2022
Várias organizações internacionais têm feito o balanço das mortes ocorridas durante os protestos no Irão. Uma delas, a Human Rights Activists News Agency (HRANA), sediada nos Estados Unidos, tem publicado no Twitter relatórios diários, com dados não confirmados pelas autoridades do Irão.
A 18 de novembro, a organização dava conta de 381 manifestantes mortos durante os protestos, entre eles, 57 crianças. Além disso, já foram detidas 16.088 pessoas, segundo as contas da HRANA.