A ativista sueca Greta Thunberg, que esteve na origem do movimento internacional de jovens pelo clima “Fridays for Future”, considera que a crise climática só se resolve com conhecimento e informação, e pede “milhares de milhões de ativistas pelo clima”.
“A minha convicção é de que a única maneira de conseguirmos evitar as piores consequências desta crise existencial emergente é criando uma massa crítica de pessoas que exijam as mudanças necessárias”, diz a jovem na obra O Livro do Clima, que organizou e que junta textos de mais de uma centena de especialistas.
No livro, já à venda em Portugal, Greta Thunberg insiste que é “preciso educar-nos uns aos outros”, que a informação e a democracia são fundamentais, e que quando as populações entenderem a dimensão do problema climático agirão, o que ainda não acontece porque “o conhecimento das pessoas sobre alterações climáticas é baixíssimo”.
“E enquanto os responsáveis disserem uma coisa e fizerem outra as pessoas não acreditarão nas alterações climáticas. Pouco importa dizer que estamos numa emergência se ninguém se comporta como estando numa”, observa também, referindo-se aos responsáveis políticos, que critica diversas vezes nos textos que escreve ao longo do livro.
“Vivemos numa era da comunicação, na qual o que dizemos pode facilmente sobrepor-se ao que fazemos. É assim que se explica o facto de termos um número tão avultado de grandes países que, produzindo combustíveis fosseis, e tendo elevados níveis de emissões, se autodenominam lideres climáticos, apesar de não terem em vigor qualquer política de mitigação das alterações climáticas. Vivemos na era do branqueamento ecológico a todos os níveis”, afirma no livro.
Greta Thunberg considera que as sociedades ainda estão num estado de negação das alterações climáticas. E recua até à época em que os humanos eram caçadores recoletores para encontrar uma das justificações: “Continuamos a funcionar em grande parte como há 50 mil anos. Fomos concebidos para outra realidade (…) e o nosso cérebro tem dificuldade em reagir a ameaças que não sejam imediatas e repentinas para muitos de nós, como é o caso do clima e da crise ecológica”.
Mas não sendo repentina, frisa a jovem ativista, a ameaça é real e sem ambiguidades.
“Desde que a civilização humana surgiu, abatemos metade das árvores do mundo, exterminamos mais de dois terços da vida selvagem e enchemos os oceanos de plástico. E começámos a desestabilizar os sistemas que garantem as funções vitais do planeta”. “Estamos a serrar o galho encima do qual vivemos”, avisa a jovem, acrescentando que à medida que as pessoas se afastam da natureza mais difícil se torna recordarem-se que fazem parte dela e que não são os donos dela nem do planeta.
Agora, com o mundo a viver uma crise climática, a entrar “numa nova era de mudanças mais drásticas”, não se está “a fazer nada” para resolver o problema, que se resolve de uma maneira: acabar com as emissões de gases com efeito de estufa (GEE).
É um problema (o aquecimento global), diz, que não foi criado pela humanidade mas por uma minoria, “as pessoas que estão no poder”, os 10% mais ricos que estão na origem de 50% das emissões de GEE.
Greta Thunberg acrescenta: o mundo é governado por políticos, grandes empresas e interesses financeiros. O objetivo das empresas não é salvar o mundo, é ter lucro. E quanto aos políticos a prioridade também não é salvar o mundo, é manter-se no poder e geri-lo não em função não de eleições mas das sondagens e das capas dos jornais.
“Falta muita coisa para começarmos a enfrentar esta emergência, mas acima de tudo falta honestidade, integridade e coragem” dos políticos, acusa, insistindo que os números reais das emissões de GEE não são divulgados, e que os subsídios aos combustíveis fósseis somam 11 milhões de dólares por minuto.
Nos vários textos que assina a jovem ativista fala dos fracassos das metas estabelecidas pelos políticos, diz que a ambição desses políticos nunca foi salvar o clima, mas sim manter o estilo de vida ocidental, e deixa mais um exemplo: “O facto de três mil milhões de pessoas usarem menos energia, numa base anual ‘per capita’, do que um frigorífico americano normal, dá-nos uma ideia de como, neste momento, estamos longe da equidade e da justiça climática”.
Por tudo isso no ano passado Greta Thunberg convidou cientistas e especialistas de referência para contribuírem para O Livro do Clima, editado pela Objetiva, que abrange temas que vão da economia à extinção de espécies, das pandemias à subida do nível do mar, da desflorestação à perda de solos, escassez de água ou alimentação.
São 446 páginas divididas por cinco grandes capítulos: “O modo de funcionamento do clima”, “Como o planeta está a mudar”, “Como somos afetados”, “Que medidas tomámos”, e “O que urge fazer”.
Greta Thunberg não tira conclusões das participações, diz que deve ser o leitor a tirá-las. Mas deixa uma mensagem de esperança também: Os humanos não são maus e assim que perceberem a dimensão da crise agirão. “Nunca será demasiado tarde para salvarmos o máximo que pudermos”.