A HP, conhecida pelos computadores, anunciou que vai reduzir o número de trabalhadores ao longo dos próximos três anos, devido ao arrefecimento do mercado de compra de PC. A companhia, que revelou resultados esta terça-feira à noite, explicou que poderá ter de despedir entre 4 e 6 mil pessoas, o equivalente a cerca de 10% do atual total de 61 mil trabalhadores.
A fabricante de computadores e impressoras explicou que com estes despedimentos e outros processos de transformação tem como objetivo chegar em 2025 a uma poupança de 1,4 mil milhões de dólares. Para fazer estes cortes e outras mudanças, a HP antecipa custos de cerca de mil milhões de dólares. O CEO não espera que haja uma inversão do atual contexto desafiante que a empresa enfrenta, daí a apresentação deste plano de “transformação”. “Achamos que, neste ponto, é prudente não assumir que o mercado se vá transformar ao longo de 2023”, disse Enrique Lores, CEO da HP, citado pelo Wall Street Journal.
Contactada pelo Observador para perceber se este anúncio de despedimentos poderá ter consequências em Portugal, a HP Portugal indica que não tem qualquer comentário adicional a fazer sobre o anúncio da casa-mãe.
Na apresentação de resultados do trimestre, a HP revelou um recuo das receitas de 11,2% em termos homólogos para 14,8 mil milhões de dólares e um prejuízo de 2 milhões de dólares no trimestre, que compara com os 3,1 mil milhões de lucros de há um ano.
Os computadores continuaram a ser a maior fonte de receita da HP, gerando 10,3 mil milhões de dólares no trimestre, mas registando um tombo de 13% das receitas face ao mesmo período do ano passado. Também o segmento de impressoras viu as receitas recuar 7% para 4,5 mil milhões.
O ano fiscal da HP terminou em outubro. De acordo com os resultados anuais, a tecnológica gerou receitas de quase 63 mil milhões de dólares e teve um resultado líquido positivo de 3,2 mil milhões de dólares, que compara com os 6,5 mil milhões do ano anterior.
O mercado de computadores está em declínio a nível global, conforme revelaram os dados das principais consultoras. A Gartner divulgou os dados mais negativos, com uma queda de 19,5% das vendas para 68 milhões de unidades – o maior tombo em 20 anos. Já os números da IDC apontaram para um tombo de 15% das vendas globais no terceiro trimestre, com um total de 74,3 milhões de unidades. A análise da CounterPoint Research é bastante semelhante à da IDC na percentagem de queda, revelando uma redução homóloga de 15,5% no trimestre, mas apontando para ainda menos unidades vendidas (71,1 milhões).
Os consumidores estão a comprar cada vez menos computadores, especialmente depois da expansão deste mercado durante a pandemia de Covid-19. Em 2020, com a mudança abrupta para o teletrabalho devido aos confinamentos, vários trabalhadores e empresas tiveram de mudar de equipamentos, fazendo com que neste momento não haja necessidade de renovação de máquinas. O ensino à distância também fez mexer significativamente as vendas de computadores.
Vendas de smartphones e computadores estão em queda, mas a culpa não é da inflação
Agora, além de dispensarem renovações de equipamentos, há ainda o facto da inflação e de incerteza económica afastarem os consumidores deste tipo de gastos.
A notícia de despedimentos na HP acontece depois de a rival Dell alertar o mercado para a perspetiva de um mercado de PC modesto no próximo ano. De acordo com os dados revelados por Thomas Sweet, diretor financeiro da empresa na apresentação de resultados, a empresa espera uma contração das vendas ainda maior no último trimestre do ano, depois de já ter visto as vendas de PC encolher 17% entre julho e setembro.
Habitualmente, o último trimestre do ano, que tem períodos de compra como a Black Friday e a as compras de Natal, costumava ser um dos mais fortes para a indústria de equipamentos tecnológicos. Este ano, o cenário deverá ser outro. “Esperamos que os fatores macroeconómicos atuais, incluindo o abrandamento do crescimento económico, a inflação, a subida das taxas de juro e a pressão cambial, pesem nos nossos clientes”, antecipou o diretor financeiro da Dell.
(Atualizada às 15:27 para incluir posição da HP Portugal)
