As polémicas que envolvem Isabel dos Santos têm sido várias nos últimos anos e uma das últimas é sobre as pressões que António Costa terá feito junto de Carlos Costa, antigo governador do Banco de Portugal, a propósito da saída de Isabel dos Santos da administração do BIC. E esta quarta-feira, numa entrevista à DW e sem revelar em que país está, Isabel dos Santos negou qualquer favorecimento por parte do Executivo liderado por António Costa.
“O Estado português nunca interveio a meu favor, ou fez pressões de género algum em relação aos meus investimentos”, disse a filha de José Eduardo dos Santos, antigo Presidente de Angola. Estas palavras surgem depois da publicação do livro “O Governador”, no qual se pode ler António Costa terá dito ao ex-líder do Banco de Portugal que “não se pode tratar mal a filha do Presidente de um país amigo de Portugal”. Isto a propósito da retirada de Isabel dos Santos da administração do BIC devido a problemas de idoneidade relacionados com operações bancárias da filha de José Eduardo dos Santos suspeitas de branqueamento de capitais.
“Este livro diz uma inverdade”, adiantou Isabel dos Santos, que é alvo de um mandado de captura a nível internacional emitido por Angola. A filha do antigo Presidente angolano disse ainda ter estado com o governador do Banco de Portugal duas vezes e que “os assuntos tratados tinham a ver com a gestão e com os investimentos”. O livro “O Governador” da autoria do jornalista Luís Rosa descreve em pormenor as conversas tidas entre Carlos Costa e Isabel dos Santos.
António Costa pressionou Carlos Costa para não retirar Isabel dos Santos do BIC
“Quando cheguei a Portugal, em 2006, 2007, Portugal estava numa crise económica, tinha a troika. As empresas que eu comprei em Portugal estavam falidas, não eram empresas de sucesso. Eu comprei um banco, o BPN, que estava na falência e tinha 1900 trabalhadores. Tirei o banco da falência”, acrescentou, para justificar que este investimento “não foi feito com intervenção política”.
Refira-se que a (o Fundo Monetário Mundial, Comissão Europeia e o Banco Central Europeu) só iniciou negociações e entrou em Portugal entre abril e maio de 2011.
O mandado de captura: “Eles têm o meu número de telefone”
A Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola emitiu um mandado de detenção internacional com eficácia internacional, o que significa que Isabel dos Santos pode ser detida num aeroporto internacional, caso pretenda viajar. Mas a empresária diz que a fundamentação da justiça angolana “insiste em mentiras”. “É uma boa desculpa para nacionalizar a Unitel, ficar com a Unitel e vender a Unitel aos amigos”, afirmou em entrevista à televisão pública alemã, sem referir, contudo, o local onde se encontrava.
Mandado de captura internacional. Isabel dos Santos pode ser detida a qualquer momento
A Justiça angolana alega que a empresária está em parte incerta, mas Isabel dos Santos voltou a referir que a PGR angolana tem os seus contactos. “Quando o Pitta Grós diz que não consegue falar comigo, é mentira. Eles (PGR de Angola) têm o meu número de telefone”, acrescentou.
Luanda Leaks e os processos em Portugal
Sobre o Luanda Leaks, que colocou Isabel dos Santos no centro da investigação, a empresária quis sublinhar que estas informações terão sido uma alegada encomenda do Estado angolano. “Foi dito que a engenheira Isabel dos Santos transferiu 135 milhões para uma offshore. Ora, eu nunca transferi 135 milhões para offshore nenhuma. Percebi que eram informações falsas.”
“O que eu tenho hoje é uma perseguição política. O Presidente João Lourenço quer provar ao mundo que José Eduardo dos Santos era um mau presidente e que os filhos são os culpados”, acrescentou.
Isabel dos Santos com 17 processos abertos em Portugal. Tchizé tem 1,4 milhões congelados
Tal como o Observador avançou, Isabel dos Santos tem neste momento 17 inquéritos criminais abertos em Portugal, mas a empresária diz que tem conhecimento de apenas oito. E insistiu em dizer que “não são processos, são inquéritos”. “Eu não sou arguida em Portugal, não tenho um processo de acusação em Portugal. Tudo está em fase de inquérito”.
De acordo com a lei portuguesa, qualquer processo criminal inicia-se com um inquérito que é titulado pelo Ministério Público.
Ainda sobre o funcionamento da justiça portuguesa, a filha de José Eduardo dos Santos denuncia que em Portugal não “tenho tido acesso à Justiça”. “O que Portugal diz é: ‘nós não podemos analisar os casos desta senhora, porque nós temos um tratado com Angola e tudo que Angola mandar a gente faz’.
Isabel dos Santos deixou ainda a porta aberta para uma candidatura à presidência de Angola: “Se algum dia tiver possibilidade de tornar o meu país num país melhor e ajudar a que o meu país tenha visão, sim, eu darei esse passo. E acredito que muitas pessoas estarão comigo”.